Estou acabada!

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Flashback on

- Não acredito que isso aconteceu de novo. - Resmungo, enquanto cuido dos ferimentos do Peter. - Um tiro, Peter? É sério?

Eu estava na casa do Arthur e da Sarah e hoje de manhã o Peter havia aparecido na porta com a perna baleada. Eu achei que ia morrer de ataque cardíaco.

- Me desculpe. - Isso foi a única coisa que ele disse. Sempre era a mesma coisa.

Nunca era um: "Não vai acontecer mais", ou "Eu vou mudar, você vai ver" ou até um "Eu tenho um motivo plausível para isso". Tudo que ele dizia era um "Desculpe" e no mês seguinte ele aparecia com novos machucados.

Eu entendia que ele não queria me iludir, a vida dele era assim e eu não podia fazer nada. As coisas na gangue que ele faz parte são sempre muito violentas.

E ele sempre me procurava, a família dele não fazia ideia do que acontecia. Então apenas eu cuidava dele, e era só isso que eu podia fazer.

- Tudo bem... - Era a única coisa que eu falava. Enquanto ele sentia dor física, eu sentia dor emocional.

Flashback off

Continuei andando até meu apartamento, com meus pensamentos a mil. Eu ficava lembrando do estado do Nathaniel e depois eu me lembrava do Peter.

Eu não me sentia traumatizada ao ver o Nath daquele jeito, claro que foi uma cena difícil, mas o que me torturava mesmo era a lembrança constante do Peter e de tudo que aconteceu com ele.

Suspirei, passando a mão em meu rosto. E pensar que a uma hora atrás eu estava feliz e despreocupada com meus amigos. E agora estou cansada fisicamente e totalmente atordoada mentalmente.

Entrei em meu apartamento em silêncio, vendo que a luz da sala está acessa, possivelmente o Arthur e a Sarah já haviam voltado para casa.

- Maya... - Arregalei os olhos ao perceber que todo o pessoal estava na minha sala.

- O que... - Eu perguntei perdida.

- A gente achou que seria bom te esperar... - A Rosalya comentou.

Eu analisei o rosto de cada um dos meus amigos, que lá estavam, mas parei em um rosto em específico. Aqueles olhos cinzas me observavam atentamente.

Ele levantou do sofá, aonde estava e se aproximou de mim lentamente, parando a algumas centímetros de distância. Ficamos nos encarando sem dizer nada por alguns minutos.

- Você... - Eu nem sequer deixei ele continuar a sua frase.

Não me importei com os olhares atentos a mim, nem com o meu orgulho. Apenas joguei meus braços ao redor do Castiel, o abraçando.

Ele correspondeu imediatamente meu abraço, com uma das mãos em minhas costas e outra em meus cabelos. Ele escorou seu queixo em minha cabeça, me fazendo suspirar.

Eu precisava desesperadamente de um pouco de alívio e sentia que nele, eu acharia algum tipo de segurança contra todos meus pensamentos e problemas.

- Estou aqui... - Ele sussurrou e eu apertei meus olhos com força, tentando esquecer tudo que rondava minha mente.

Ele afagou os meus cabelos com carinho. Pude sentir meus pensamentos se acalmando e um sentimento de reconforto me invadiu aos poucos.

Me afastei dele devagar e encarei meus amigos. Comecei a contar brevemente o que aconteceu e todos ouviam, surpresos com a gravidade da situação.

- Que idiota! - O Castiel resmungou. - Você disse que ele levou uma facada. - Ele fez uma careta - Mas é claro. Você tenta achar uma solução e evita sangrar até morrer ligando para seus amigos para que eles venham assistir a cena. - O Castiel falou num tom sarcástico - Ele nem sequer pensou direito.

- Não acho que seja uma boa ideia falar disso agora. - A Rosalya disse. - A Maya parece muito cansada para isso.

- Desculpe. - O Castiel suspirou - Eu só fiquei preocupado. Não queria que isso voltasse a acontecer. Imagine se os agressores ainda estivessem por lá? Eles teria ido atrás de você! E você foi direto para a armadilha.

- Eu sei! - Foi tudo que respondi, eu não estava com forças para discutir ou falar sobre isso.

- Castiel! - A Rosalya chamou a atenção dele novamente, para que ele parasse de tocar no assunto.

- Desculpe! - Ele passou a mão em seus cabelos. - Ficamos preocupados com você... É a minha preocupação que está falando.

- Acho que a essa noite já foi longa demais. - A Sarah se manifestou.

- Imagino que você queira descansar... - O Alexy comentou - A não ser que você queira que a gente fiquei aqui para conversamos com você.

Já estava tarde e eu estava morrendo de sono, mas eu me conhecia bem, sabia que não dormiria tão cedo hoje. Ver todos meus amigos se dispondo a ficar comigo, apenas pelo meu bem estar, aqueceu meu coração.

- Se vocês não se importarem. - Dei de ombros - Eu... gostaria muito. - Decidi ser sincera com eles.

Eles assentiram e nos acomodamos como pudemos na minha sala. A Sarah trouxe algo para comermos e conversamos até tarde, evitando assuntos delicados.

Eu consegui rir e fazer piadas, mas meus pensamentos ainda estavam em outro lugar. Eu apenas coloquei uma máscara, escondendo o que estava pensando e sentindo.

- Acho melhor nós irmos... - A Priya disse - Já está bem tarde e por mais que eu adore passar meu tempo com vocês, a Maya precisa descansar. - Todos assentiram, concordando.

- Eu... obrigada! - Todos eles sorriram, tentando me tranquilizar.

A Rosalya veio até mim e me abraçou com força, não retribui o abraço, mas gostei do contato e carinho dela. Era como um reconforto de irmã mais velha.

- Não pense duas vezes antes de me ligar, se você precisar de qualquer coisa. - Ela cochichou em meu ouvido. - Estou do seu lado como você esteve do meu. - Ela se afastou e foi embora.

O pessoal foi indo embora um por um, a Sarah e o Arthur subiram para seus quartos e por fim só sobrou eu e o Castiel. Eu o acompanhei até a porta.

- Foi mal... - Ele arqueiou a sombrancelha, confuso. - Eu deveria ter avisado antes de sair do parque... eu sei que preocupei vocês. - Ele suspirou.

- Você foi embora do parque de diversões e nem me avisou. Eu poderia ter ido com você. Eu poderia, pelo menos, ter me certificado de que você estaria bem.

- Eu entendo o seu lado, Castiel. Mas eu sei me cuidar... não sou mais aquela garotinha indefesa do ensino médio.

- Eu sei, só que... Quando me preocupo com você, não consigo me controlar.

Ele alisou suavemente minha bochecha, com a ponta de seus dedos e com carinho, deslocou um fio desarrumado de meus cabelos para atrás da minha orelha.

- Vai ficar tudo bem... Para dormir? - Eu suspiro. Não, com certeza eu nem vou pregar os olhos.

- Duvido que eu consiga pregar os olhos essa noite. - Dou de ombros, fingindo indiferença.

- Você quer que eu te faça companhia? - Eu nego com a cabeça.

- Você também tem que descansar, Castiel. Eu vou me virar, não se preocupe. - Talvez se eu ouvir música consiga dormir.

- Ok. Mas se não conseguir dormir, pode me ligar. Vou atender a sua ligação. - Eu assinto. - Boa noite! - Ele me dá um beijo na testa, antes de ir embora.

- Boa noite! - Eu fecho a porta em seguida e me enscoro nela. Estou acabada!

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