Capítulo 16- Mamãe, não deixa o papai morrer.

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Saí daquele palco totalmente destruída, mas as pessoas adoraram a minha voz, fiquei lá até tarde quando Serena começou a ter sono. Eu evitei olhar muito para as pessoas para não encontrar Niragi ou Laura.
- Mamãe, você era feliz antes de mim? – ela perguntou quando se deitou, eu me assustei com a pergunta.
- Eu era feliz meu amor, mas a sua chegada me fez transbordar – sorria a fazendo sorrir também. Ela segurou seu rosto com as suas mãozinhas e me beijou.

Assim que me deitei na cama após dar banho em Serena alguém bate a porta.
- Entre – falei e Arisu colocou sua cabeça dentro do quarto com um sorriso.
- Sereninha – ele falou e ela sorriu animada e pulou na cama.
- Você vai se machucar – disse e ela ignorou.
- Eu vou ir à cozinha comer bolo, será que essa princesa quer ir também? – ele perguntou a ela.
- QUERO! -pulou da cama e foi até ele. Ele a pegou no colo e eu amava ver os dois juntos pq Arisu parecia um irmão mais velho para ela.
- Já trago ela – disse a mim e sorriu. Sorri e assenti antes deles saírem gritando de alegria para ir comer bolo. Continuei deitada e eu estava morta de cansaço, fazia 1 semana que havia acontecido o baile e a saída da primeira pessoa e meus pés ainda sentiam as dores do salto alto.
Nesse tempo eu ignorei Niragi as poucas vezes que o vi, vou confessar que não era fácil mas era necessário. Eu estava quase dormindo quando escutei os gritos de Serena no corredor, me levantei correndo e vi ela puxando Niragi pelas mãos, sua boca estva suja de bolo e seus olhos chorando.
- MAMAE, O PAPAI MAMAE – ela gritava e quando olhei para Niragi ele estava totalmente ensanguentado e meio tonto. Meus olhos se arregaram quando ela chegou na porta do quarto com ele e chorando.
- Misericórdia... – disse assustada e Niragi caiu sentado na minha cama. Serena tocou seu corpo sujando suas mãos com sangue dele.
- Mamãe, ajuda o papai! – ela estava desesperada. Minha alma voltou para o corpo e eu peguei ela no colo – O PAPAI MAMÃE!
- Calma, eu vou cuidar dele – falei e fui ao banheiro lavar as mãos dela mas ela gritava de tão desesperada que estava. Voltei para o quarto e Kuina, Arisu e Usagi apareceram na porta.
- Jesus Cristo, vai morrer – Kuina disse assustada com a situação de Niragi.
- Mamãe, não deixa o papai morrer! – chorou e eu entreguei ela a Usagi.
- Leva ela, eu cuido disso – falei e segurei o rosto de Serena – preciso que se acalme, vou cuidar do papai ok?
- Ok – disse chorando ainda. Eles saíram e eu ainda escutava o escândalo dela. Fechei e porta e respirei fundo, eu teria que passar por cima de tudo que criei contra ele para salva-lo agora pq seu estado estava deplorável.
- O que aconteceu? – olhei para ele, seu rosto estava com muito sangue, seus braços tinham alguns cortes, mas seu corpo não presentava nada.
- 10 de espadas – ele disse com dor enquanto eu fui ao banheiro pegar um pote com agua e uma toalha.
- Krl! Espadas nunca foi o seu naipe – disse e comecei a limpar seu sangue.
- Espadas é o seu naipe, o meu é ouros – disse e seu rosto se contorceu pela dor do contato entre o pano úmido e os cortes.
- O que te causou isso? – perguntei continuando a limpar aquilo tudo.
- Vários vidros estouravam na gente – disse meio descompassado e eu assustei – pq está fazendo isso? – questionou e eu olho para ele.
- Pq sua filha de 3 anos veio te puxando todo ensanguentado implorando que eu te salvasse – falei simples e ele evitou o meu olhar, voltei a limpar seu rosto – o engraçado é que eu quem estou destruída, mas você é o único que precisava ser salvo – disse aquilo do fundo do meu coração.
Ele ficou apenas parado, grunhindo de dor dependendo de onde eu passa o pano úmido. A maioria do sangue dele já havia sido limpo, mas havia alguns cortes, uns bem pequenos e outros uns um pouco maiores mas nada se comparava com um que estava no canto direito da testa dele que estava bem grande e com pedaços de cacos de vidro. Continuei a limpar, ele estremeceu de dor encolhendo o rosto no meu peito e apertando a minha cintura.
- Aiaai Ellie... – disse com dor e respirou fundo.
- Eu preciso limpar, ele tem caquinhos de vidro – ele levantou a cabeça e eu segurei seu queixo para ficar em um ângulo bom. Enquanto eu limpava levemente senti o olhar dele no meu corpo enquanto suas mãos estavam na minha cintura e pela forma que ele apertava eu sabia que estava doendo mesmo eu sendo delicada – vou pegar uma pinça – falei e fui ao banheiro.
Comecei a tirar o que tinha lá dentro e em uma hora ele se agarrou no meu corpo de tanta dor e sensibilidade. Acariciei seu cabelo para conforta-lo e respirei fundo para passar por tudo aquilo, calma Ellie, você vai cuidar dele e tudo vai voltar ao normal, é só uma ajuda.
- Isso dói demais – ele disse respirando fundo.
- Precisar dar pontos – falei simples ele me olhou como se ele fosse morrer ali – são apenas dois – fui preparar as coisas e ele ficou branco de tanto desespero – pronto?
- Não muito, mas fazer o que – disse tomando coragem.
- Vamos com calma, respire e não movimente a testa ou tire o rosto da minha mão ok? – olhei nos seus olhos e assim que ele assentiu comecei. Ele se segurou no meu corpo mais uma vez e quando eu fiz o primeiro ponto dei um tempo para ele respirar.
- Sinto falta da gente jogando junto – disse e eu ri fraco. Eu também sentia, o meu último jogo era de ouros e se Niragi estivesse comigo tudo teria se resolvido de forma rápida.
- Posso terminar?  - ele assentiu e eu terminei – pronto – disse me afastando e ele quis se deitar na cama, mas eu o segurei pelos ombros – não, você está todo sujo, tome um banho – sorri simpática e ele se levantou relutante.
- Preciso de roupas – disse quando entreguei uma toalha.
- Não se preocupe – disse e ele entrou no banho.
Limpei e descartei o que usei nele e sai do quarto. Fui ao quarto dele e quando entrei vi Laura deitada, ela se assustou comigo. Se ela fez de tudo para nos separar não era ela que deveria estar lá cuidando dele? Afinal ela o ama, não? Olhei com desprezo e abri o guarda-roupa dele.
- O que você está fazendo? – perguntou quando eu já estava com as roupas na mão.
- Você é cega ou tonta? – perguntei e sai.
Fui na cozinha e peguei um pedaço de bolo, um copo d’água para Niragi e voltei ao quarto. Coloquei tudo sob a cômoda e ele saiu do banheiro na mesma hora com os cabelos molhados, pele úmida e uma toalha no quadril. O olhei de cima a baixo e joguei a roupa para ele.
- A quanto tempo você não se cuida? – perguntei, pois, ele estava com a pele tão desidratada que até suas tatuagens estavam diferentes, além de estar super magro.
- Não sei – disse se vestindo e depois pegou o bolo e se sentou na cama para comer – não faz diferença mesmo – disse simples e eu senti uma pontada no coração com aquilo, mas eu tinha que manter a minha postura, eu não iria ser a marionete dele novamente.
- Deixe eu passar nos seus cortes – disse com uma pomada cicatrizante e um creme hidratante – tire a camisa – assim ele fez, passei a pomada em seu rosto e depois passei o creme nas suas tatuagens. Entreguei um remédio a ele e fui buscar a Serena.
- Papai! – abraçou ele e sorriu.
- Minha princesa – beijou o rosto dela, ela sorriu fofa.
Os dois ficaram lendo e brincando enquanto eu fiquei deitada olhando para o teto pensando em tudo que tinha acontecido hoje, era uma mistura de raiva com dó que eu não entendia o que meu coração pedia. Eu queria falar para ele ficar aqui, cuidar dele e ser totalmente dele, mas a cena de Laura no quarto me fazia ferver de raiva dele ao lembrar que ele me trocou por ela e ainda só veio atras de mim quando precisou.
Quando Serena dormiu nos dois se encaramos.
- Já pode ir – falei indo até a porta. Ele me olhou, beijou Serena e antes de sair me encarou.
- Obrigado – sorriu agradecido e saiu. Fechei a porta e me encostei nela. Pq eu estava tão confusa assim?

Eu estava no escritório quando Karube entrou e começou a conversar comigo.
- Fez papel de babá ontem? – brincou e eu subi na mesa, me sentando nela. Ri e ele se aproximou de mim, segurou meu quadril e beijou meu pescoço.
- Fiz, está com ciúmes? – brinquei.
- Totalmente, você é a mulher mais linda desse lugar – ele beijou meu pescoço me causando arrepiou e eu ri pela fala dele. Na mesma hora, Niragi entrou vendo aquilo, meu sorriso se desmanchou na hora e Karube se afastou. Era visível no rosto dos dois que estavam incomodados com aquilo, Niragi ficou parado ali evitando olhar para mim – qualquer coisa você já sabe onde me encontrar – ele disse e saiu do escritório.
Niragi entrou e deixou sob a mesa as pulseiras de identificação das pessoas que tinham morrido ontem.
- Obrigada – disse simples como se ontem eu não tivesse acontecido nada. Eu o ignorei basicamente, era assim agora, não podia abaixar a guarda pois ele poderia se aproveitar. Ele costumava a me chamar de fria quando isso acontecia.
- Pq você fez isso? – questionou me olhando, eu ergui o olhar o encarando – depois de ontem...
- Niragi, eu não dei esperança alguma a você... – disse e ele abaixou o olhar -  eu fiz o que eu disse que ia fazer: te ignorar, te desprezar igualzinho como você faz comigo – ele me olhou triste – mas como você é patético Niragi, você está ai achando que só pq eu te ajudei ontem eu vou voltar para você – fui até ele – isso são as consequências da sua atitude - falei o encarando e vi seu olhar ficar triste.
- Como quiser Ellie – disse e saiu.
Me joguei na cadeira e levei minhas mãos a cabeça, confusa. Pq você me deixa dessa forma Niragi?


- Vamos? – perguntei a Arisu que olhava o prédio que iria ser o nosso jogo – o que foi que você está olhando para lá igual tonto?
- Já joguei aqui – ele disse e eu fiquei em alerta. Desde quando tudo recomeçou os jogos todos os jogos com a mesma resolução havia aparecido e isso era uma benção.
Pegamos o celular e fizemos a nossa inscrição. Olhei para o lado e vi Laura entrar no jogo, meu sangue ferveu de raiva quando a vi, eu odiava e a desprezava de uma forma que ninguém nunca me fez sentir.
- Jogo: Viver ou morrer. Dificuldade: 3 de paus. Regra: Selecione a porta certa antes do tempo acabar. Condição para zerar: Sair do prédio dentro do tempo limite – a voz falou e logo entramos em um elevador que nos levou a uma sala com duas portas. Uma porta havia um desenho feliz escrito “viver” e outro de morte escrito “morrer”. Tínhamos 2 minutos para sair dali.
- Arisu? – o chamei e ele estava com sua típica cara de quem estava pensando.
- Eu lembro de como resolvi, mas preciso de um ponta pé inicial – ele disse simples e eu olhei confusa – atrás da porta errada tem um laser, eu sei a sequência mas preciso saber qual é o primeiro – completou.
- Está dizendo que precisa sacrificar alguém para isso? – um cidadão aleatória questionou e Arisu confirmou.
- Tempo restante: 30 segundos.
- Ah espere ai que vou resolver agora – falei e na mesma hora puxei Laura pelo braço fazendo ela esbarrar em uma porta – abre a porta!
- Eu não! – falou assustada.
- Vai abrir sim! Ou vai deixar os cinco morrer? – questionei e ela começou a chorar.
- Tempo restante: 20 segundos - voz disse e um gás começou a subir nos eixando sufocados.
- Vamos vadia! Abre a porta! – a empurrei de novo e ela chorou antes de abrir a porta revelando uma sala. Entramos correndo e fechamos a porta.
Laura estava agachada super nervosa com aquilo e eu me diverti em quase sacrifica-la. Pode parecer doideira, mas era lindo ver ela implorando para mim não fazer aquilo. Arisu zerou o jogo com o auxílio de uma caneta em seu bolso e voltamos a Praia, com Laura chorando no meu ouvido.
A pior parte foi que quando chegamos ela já tinha se acalmado, mas quando ela viu Niragi no mesmo corredor que nos duas ela fez drama e correu até ele.
- O que foi? – perguntou sem abraçar ela.
- Ela quase me sacrificou – disse chorando e apontou para mim. Revirei os olhos e segui o caminho, vi Niragi rir fraco com aquilo.
Fui até o quarto de Usagi e encontrei ela com Serena, Kuina, Chishiya e Ann.
- Oi – disse animada e Serena veio me abraçar – você está bem? – perguntei e ela assentiu sorrindo, ela era a coisa mais fofa e preciosa da minha vida.
- To montando quebra – cabeça com o tio água oxigenada – disse e eu gargalhei.
- Serena Suguru – ele disse bravo a ela – você está muito serelepe – ela saiu correndo e o abraçou desmanchando toda a braveza dele.
- Fiz merda galera – disse sorrindo quando me sentei na cama, as meninas olham para mim.
- O que? – Ann estava curiosa.
- Quase sacrifiquei a Laura – disse e ela riram.
- Isso que ela disse que não se importava com Niragi – Kuina disse rindo – não se importa que quase matou a atual dele – tive que rir para não chorar de raiva.
- Kuina paraa – pedi manhosa e me deitei no colo dela.

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