01 - Eu não preciso deles.

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Sinto seus braços em volta de mim, ele acaricia meu cabelo.

- Que bom que voltou - diz meu pai me olhando.

- Era um jogo fácil, mais me divertir do que joguei - o respondo sorrindo.

- Ah é? - ele cerra os olhos e franze a testa - está cheia de sangue e com alguns machucados, você sabe que pode levar a milícia para seus jogos, a vida deles pela sua - diz beijando minha testa e depois analisando meu rosto que estava com respingos de sangue.

- Eu não preciso deles - reviro os olhos

- Mas eles gostam de você - me solta e se senta no sofá, fazendo o gesto para sentar-se também.

- E sobre as cartas? - pergunto fazendo o assunto mudar.

- Repetidas, como sempre - ele pega as cartas coletadas hoje e as exibe.

- Não sei dizer se isso é bom ou ruim - faço uma pausa - isso é ... - sou interrompida pelos membros executivos, milícia e alguns curiosos entrando pelas portas enormes daquela suíte com um bolo na mão e cantando parabéns.

Eu odeio meu aniversário.

- Ah, você achou que iríamos esquecer? - falou Aguni - não é sempre que a filha do meu amigo, chefe e rei da praia faz mais um ano de vida - ele me abraça.

Aguni é aquele cara que se fecha para todos, agressivo, mas comigo ele era um amor, quase um tio eu diria.

Apago as velinhas. 20 anos. Já?

- Parabéns, você sobreviveu aos jogos mais um ano - diz Ann passando o braço pelo meu ombro - vamos aproveitar garotaaaa!

Sorrio fingindo estar animada, na verdade eu queria fazer nada, estava tão cansada, mas vamos lá, eu não tenho nada a perder.

- Espero que dessa vez você não entre no banheiro da praia e seja levada de volta ao mundo normal - Aguni completa rindo.

- Você veio no dia do seu aniversário? - Ann pergunta

- Quem você acha que seria a sortuda que iria sumir no meio da festa de aniversário? - digo num tom de brincadeira.

Todos do local dão risada e saímos aproveitar o resto da noite.

Ao sair olho para o lado e vejo Chishiya, ele estava rindo também, o que era algo muito raro de se ver. Nosso olhar se cruza e o seu me passa um sentimento de vergonha com superioridade. É, eu bem que gostaria de ser amiga dele, mas o medo dele me trair é maior.

Eu não sei ao certo quando nossa relação desandou. O conheci num jogo assim que cheguei em Borderland, joguei com ele e já se mostrava ser frio e calculista, nesse jogo não conversamos, só vi que ele sabia o que estava fazendo e seu estilo de jogar.

Certa vez voltando de um jogo, encontro ele voltando também. Me lembro que falamos algo do tipo:

- Olha... Você está viva... - fala num tom que não consigo distinguir se é de desprezo ou de felicidade - isso é bom.

- Digo o mesmo menino do jogo de espadas - rio mas ainda pensativa no tom de sua fala.

Ele dá um sorriso de canto e sai. Recordo de naquela noite pensar naquele garoto que nem sabia o nome e desejar que ele também pensasse em mim. Nós próximos jogos, uma parte do meu coração desejava ver ele no mesmo jogo que eu.

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