Capítulo 11- Muito cedo para arriscar.

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Olho para Stephanie com raiva, preciso voltar ao personagem.
- E eles aceitaram o namoro de vocês? – questionei a ela.
- Aceitaram sim – ela sorriu – e sua família em relação a Niragi?
- Não consegui apresentar ele a eles – falei e ela fingiu surpresa – eles morreram em um acidente de carro a oito anos atrás – falei a mentira que acreditei a minha vida toda e ela tocou minha mão e disse um sinto muito com a voz mais triste do mundo, minha vontade era tirar minha mão dela mas eu sorri – já passou – ela riu e voltou a se encostar na cadeira dela – e os seus pais?
O brilho dela sumiu, ela me olhou séria e sentia sua respiração acelerar. Ela não havia preparado uma mentira para isso? Mesmo sabendo que eu estava aqui? Ou será que ela não saberia que eu vinha? Será que Thomas não sabia disso? Em quantas mentiras ele estava se afundando? E pq?
De repente ela sorriu.
- Eles viajam bastante, como sou a filha única e sou casada e mãe, eles se fazem companhia em vários lugares do mundo – falou e eu concordei como se achasse interessante – queria muito viajar com eles mas a Lara fica muito cansada em viagens – completou.
- Ah sim – digo simples e pego minha taça de vinho, bebo e torço para que cada nota de sabor que eu sentia em minha boca fosse capaz de me acalmar.
- Vou pedir licença a vocês, irei com Stephanie ali receber um convidado – Thomas diz e todos falamos que tudo bem e assim ele sai.
Minha postura cai na cadeira, bebo tudo o que tem na minha taça e respiro fundo. Niragi toca na minha coxa me acalmando, ou tentando.
- É agora que tínhamos as armas da cintura, damos sinal para os nossos homens, começamos a matar todos aqui e arrombar porta por porta dessa merda para achar o que estamos procurando? – minha sogra diz isso e eu me assusto me fazendo voltar a postura, olho para eles depois.
- Não – Niragi diz simples e eu me quebro – muito cedo para arriscar isso, eles podem não estar aqui ou... – ele pausa e me olha.
- O que foi? Fale! – digo brava.
- Talvez machuque mas é necessário... – ele diz e eu levanto as sobrancelhas falando para continuar – talvez eles estavam mortos e enterrados em outro lugar – ele fala e me olha com pena, aquilo em faz querer chorar – é cedo demais para resolver as coisas na base da bala, precisamos de mais coisas, de mais pontas soltas, de mais intimidade – ele olha para sua mãe – Stephanie controla tudo aqui, virem amigas dela mas daquelas amigas que tem permissão de abrir até a gaveta de maquiagem e quando eles perceberem eles estarão amarrados sob o nosso controle e a casa dele invadida – completou.
Eu encosto minha cabeça no ombro dele e respiro fundo. Ficamos mais algumas horas lá e dessa vez acompanhávamos Thomas e Stephanie pelos convidados que eles conversavam, Stephanie e minha sogra estavam falando sobre a casa, então eu comecei a me enfiar na conversa com a intensão dela me mostrar por dentro mas ela não fez isso apenas ficou falando do jardim e de memorias em família naquele jardim. Aquilo queimava dentro de mim, acho que ela fazia de propósito.
Entramos no carro e eu bati a porta de tanta raiva.
- O que foi? – Niragi disse assustado.
Olhei para ele desesperada, uma lagrima começou a escorrer e meu peito se apertou em fazer dar um grito dentro daquele carro, um grito de dor. Niragi me abraçou e eu chorei.
- Vai ficar tudo bem, paixão – ele disse acariciando minhas costas – nós vamos resolver tudo isso, só aguente mais um pouquinho.
- Impossível um ser humano fingir tanto quanto ela -  o olhei, minha visão estava embaraçada por causa do choro – ela sabe quem sou eu, ela sabe o que está fazendo, ela sabe que vive uma mentira, ela sabe... – chorei nele e acho que ficamos ali abraçados por alguns minutos até eu me acalmar.
Aquela situação era tão injusta.
Voltamos para casa e para a minha surpresa Serena ainda estava acordada assistindo anime com Chishiya desmaiado, até babando, ao lado dela.
- Oh meu anjo, pq está acordada? – perguntei a pegando no colo. Ela sorriu.
- Papai vai tomar banho – Niragi passou pela gente depois de trancar a porta, beijou a minha testa e a da filha e saiu.
- Não sei mamãe – ela disse – o sono só não vem.
-Aconteceu alguma coisa? – questionei e ela negou – quer dormir com a mamãe e o papai?
Os olhos dela brilharam.
- Sério? Eu não sou velha demais para isso? – questionou e meu coração doeu, a abracei quase chorando.
- Você nunca vai ser velha para dormir com a gente, nunca pense isso – a olhei – você é o amor da nossa vida, eu sei que você está crescendo e tem duas irmãs bem menores mas nunca se sinta desajustada para nós, você entende?
- Sim mamãe – sorriu e me abraçou – te amo.
- Eu te amo muito mais, minha primogênita – beijei a cabeça dela e sorri – vamos atrás do papai? – ela concordou e saltou do meu colo para o chão.
Olhei para Chishiya e o empurrei suas pernas para o sofá, bloqueei seu celular e retirei seus óculos, sim ele agora usava óculos para assistir ou ver, imaginem o quanto que zoamos ele de velho por isso. Ele estava tão diferente, acho que tudo que aconteceu em Borderland mudou demais ele, mudou tanto a ponto de tirar o cabelo loiro e ficar moreno e curto.
Fui para o corredor e passei no quarto de Kuina encontrando ela e as gêmeas dormindo, as meninas estavam nos braços dela e Kuina toda torta para satisfazer elas, ri e fechei a porta indo ao meu.  Vi Serena se assustar quando abri a porta e eu ri. Niragi estava penteando o cabelo.
- Posso tirar sua maquiagem, mamãe?
- Claro! Só me deixe tirar os saltos e esse vestido – disse sorrindo. Tirei meu vestido e os saltos ficando de calcinha, me sentei na cama e ela sentou na minha coxa com o frasco de removedor de maquiagem e bolinhas de algodão.
Ela começou a passar nos meus lábios, depois nos meus olhos e depois na minha pele com cuidado, ela ficava fascinada naquilo e eu amava ver ela naquela forma. Olhei para Niragi que tirou uma, uma não, várias fotos nossa sem percebemos.
- Eu amo tanto vocês duas, meu Deus, meu coração chega até doer – Ele disse e se deitou na cama apenas de box. Confesso que toda vez que o via assim me dá vontade de beijar o corpo dele todinho.
- Pronto – ela disse sorrindo, estendi a mão para ela deixar os algodões usados para mim descartar, ela fez e eu sorri.
- Muito obrigado – beijei ela – vou tomar um banho, quer também?
- Não, vou ficar deitada com o papai – falou indo até Niragi, ele estendeu os braços e ela deitou em seu peito sorrindo. Sorri com a felicidade dela pois era muito bom deitar naqueles peitos malhados e tatuados, aliás, um dos passatempos favoritos dela era ficar olhando as tatuagens dele e conversando sobre, as vezes ela ficava passando os dedos no contorno de alguma por horas.
Assim que sai do banho, Serena já estava dormindo ao lado de Niragi, sorri para meu marido que também estava quase dormindo. Coloquei um pijama e me deitei atras de Niragi fazendo dele de conchinha menor, ele riu quando joguei minha perna no quadril dele. Em poucos minutos eu também estava dormindo, Serena nem sabe disso mas ela melhorou minha noite em 200%, como eu amo essa menina.

Há gritos em minha volta, eles me chamam. Quero gritar, falar que estou chegando mas parece que a única força que faço é para as minhas pernas correr, para sair da escuridão. Há mais gritos mas agora está mais alto, acho que estou chegando perto deles, eu sorrio ao lembrar do esforço que fiz para encontrar eles. A escuridão acaba, tem um brilho intenso e uma porta aparece na minha frente, meus pais gritam meu nome, coloco a mão na maçaneta e quando abro e estou próxima de ver eles quando algo me puxa me tirando de lá. Começo a gritar mas não sei se minha voz sai.
- BOM DIA! – gritos. Minhas meninas. Abro os olhos e elas estão pulando ao meu lado.
Aquilo era um sonho?
Minhas bochechas estão molhadas com as minhas lagrimas, olho para elas que estão pulando e ignorando minha existência, Niragi está parado ao lado da cama me olhando, chocado. Será que eu fiz alguma coisa? Olho para ele confusa.
- Meninas, vão comer – ele disse e elas foram gritando e pulando. Ele se aproxima de mim, toca meu rosto – estava tendo um pesadelo?
- Acho que sim, não consigo me lembrar do que era mas lembro de sentir medo – minto e ele me abraça, o sentimento de mentir sem motivo me consume. Abro a boca para desmentir e o medo lacra meus lábios, fico imóvel nos braços dele
– Vamos comer – diz e me beija.
- Já vou, deixe eu trocar o pijama – digo quando ele se levanta.
- Aliás – ele coça a nuca – as meninas pediram e meus pais se empolgaram com a ideia e eu aceitei sem te consultar, perdão – sorriu fraco – vamos depois do café da manhã passear pelo Rio e por alguma praia – ele sorriu e me analisou, sorri e disse que seria ótimo.
Menti de novo, eu só queria chorar pelo meu sonho, por essa dor pulsante por não saber a verdade sobre eles. Mas mesmo assim, troco minha roupa e vou tomar meu café da manhã havia café, frutas, pães, presunto e queijo. Olho para Niragi que estava se divertindo colocando uma fatia de presunto na boca.
- Presunto? Desde quando temos o costume de comer isso? – falo chocada e pego café e um pão. Faz tanto tempo que sai do Brasil que quase não lembro o gosto das comidas.
- É como diz aquele ditado: se estiver no Brasil, aja como os brasileiros – ele diz rindo.
- O exame de sangue que lute depois – Chishiya diz repetindo a mesma coisa que Niragi.
- Presunto as 8 da manhã? Cruzes – minha sogra diz e eu rio.
- Papai, eu também quero! – Alicia diz e eu quase desmaio.
- Eu também! – sua gêmea diz.
Niragi ri e pega duas fatias, ergue no ar, as meninas abrem a boca e pronto, estão mastigando aquilo. Fico imaginando Niragi, japonês e tatuado, indo mais cedo da padaria pedindo tudo isso, qual foi a reação da atendente? Será que as pessoas o olharam muito? Pq devo imaginar que ver um japonês com estilo desse deve ser raro, as garotas devem ter mijado de pinguinho para ter a atenção do olhar dele por 1 segundo.
- Mãe! – Serena tira minha atenção – o papai falou com outra garota hoje – ela disse e Niragi e Sora riram – a vovó ta de prova.
- Jura, filha? Quem era a garota? – questionei rindo.
- A moça de onde a gente comprou esse negócio rosa – ela disse apontando para o presunto e fez cara feia para o pai.
- Eu estava pedindo o presunto e o queijo, Serena – ele disse a ela.
- O que você fez, filha? – questionei.
- Fiquei brava mas ele não percebeu aí na hora que saímos de lá eu falei: “não pode falar com ela!” – ela disse no tom, todas as palavras pausadas e brava – aí ele me perguntou o pq e eu disse: “pq você não é casado com ela!” – ri da fofura dela.
- Aí eu perguntei se eu só podia falar com você – Niragi disse me olhando – e ela disse que sim.
- Mas é verdade, pai! Você não é casado com aquela garota! – falou brava.
- Isso mesmo filha, mete pressão – falei rindo e eles riram quando ela sorriu vitoriosa.
- Ellie, elas podem ser xerox do Niragi mas a personalidade é sua – Isamu diz e eu rio.
- Eu fico imaginando quando todas estiverem de TPM – falo e todos seguram uma risada quando Niragi se engasga com o café.
- DEUS SEJA LOUVADO – Niragi diz – amor, precisamos fazer um menino.
- Não – falo simples.
- UM IRMÃOZINHO? – as três dizem felizes – TEM NENÉM?
- Não, filhas – digo e o brilho delas somem.
- Petição para a Ellie nos dar um menino – Niragi diz e todos começam em uníssono falar “por favor, um menino” e eu apenas rio e me levanto.
- Petição para todos vocês calarem a boca e arrumar as coisas para a gente ir turistar. – falo e ele fazem isso. Na verdade Niragi continua com as crianças comendo presunto enquanto eu vou arrumar uma bolsa com roupas, biquinis e coisas para sobrevivermos lá fora.
Primeiro passamos no Cristo Redentor e obvio que tiramos inúmeras fotos, as meninas piraram, visitamos um parque nacional e depois ficamos até a tarde na praia. Eu fiquei mais tempo sentada na areia vendo eles brincarem, simplesmente parecia errado estar ali feliz enquanto meus pais poderiam estar presos ou sei lá o que essa doida e doente da Stephanie tenha aprontado.
Voltamos para casa e eu estava bem quieta, ainda bem que no passeio antes da praia eu tinha brincado muito então eu poderia mentir dizendo que estava cansada. Tomei meu banho e me alimentei antes de me sentar na cama com uma vontade imensa de chorar.
- Amor! – Niragi chegou falando, deu tempo de mudar a cara – vamos para a balada? Só eu e você? – pediu fazendo beicinho.
- Vamos! – disse sorrindo e me arrumei. Coloquei um top regata com um decote V preto, com um decote médio, as alças no estilo de uma faixa e uma saia longa preta com uma fenda nas duas pernas. Coloquei salto de fitinha fina nos tornozelos, argolas e pulseiras, além de uma make.
Niragi estava lindo como sempre e mega animado, enquanto eu estava quieta, achando tudo isso errado, meu olhar no espelho gritava “você não quer isso” mas mesmo assim continuei. Meu marido estava pegando as chaves do carro na sala quando na cozinha peguei um pouco de água e encarrei o comprimido que comprei mais cedo. Ok, não era justo eu fazer isso e ele não saber. Me tremi toda no caminho do comprimido até minha boca mas bebi água e engoli, parecia errado tomar antidepressivos sem ninguém saber?
- Amor? – a voz dele me fez pular, o olhei com culpa pensando que ele brigaria comigo – remédio de que?
- Dor muscular, brinquei muito com as meninas hoje – sorri – vamos? – falei esticando a mão para ele que pegou e sorriu.
Seja qual for o efeito que isso daria com bebida, eu não ligaria.

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