Capítulo 18- Não, eu deveria?

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Minhas mãos suam frio, estou me tremendo e olhando profundamente para ele. A campainha toca e eu saio daquela bolha. Estou com tanto medo.
- Nossa, ficou linda mesmo! – uma voz grossa diz enquanto eu olho para Nioji.
- Eu disse que era para deixar comigo – Nishi ri e eu olho para ela – esse é Nioji – aponta para ele e ambos sorrimos fraco antes dele se retirar e só percebi agora que ele estava de toalha e cabelos molhados, estou olhando ele se afastar no corredor quando o que ela diz me faz pular de susto – e esse é Niragi.
Me viro rápido e misericórdia. Era ele mesmo. O mesmo cara que me salvou de Nioji, o mesmo cara que se parece com Niragi, o mesmo cara que eu inventei na minha cabeça. E ele se chama Niragi. Olho para ele meio tonta, minha garganta seca.
- Olá – digo me tremendo e ele sorri fraco mas com os olhos brilhando. Ah meu Deus, quero vomitar de nervoso.
- Oi – ele diz e a voz me traz lembranças, não lembro a voz do meu Niragi mas a voz desse me trazia conforto – vou ali tomar um banho – ele diz olhando para a irmã e depois olha a casa e olha para mim – ficou incrível, parabéns – ele diz e sai.
Fico com um sorriso bobo no rosto, estou me tremendo.
- Obrigado – consigo falar finalmente, Nishi sorri.
- Vocês se conheciam? – questiona.
- Quem? – falo rápido.
- Você, Nioji e Niragi – ela diz e eu nego – bom, eu vou conseguir o dinheiro para pagar o que falta amanhã a tarde e vou deixar aqui com os meninos pq vou fazer uma viajem, então você pode vir aqui retirar?
- Claro – concordo mas por dentro estou negando, estou sem ar. Não quero voltar aqui nunca mais.
Fico mais um pouco ali e depois vou embora, direto para casa, para chorar e me tremer. Não podia ser coisa da minha cabeça, eles eram iguais, os nomes... porra, ele se chamar Niragi é o motivo de mim estar me tremendo e chorando na minha cama e faltando da faculdade. Será que ele não é assim e minha mente está me enganando? Ai que droga.
No dia seguinte comecei a aplicar a técnica da Dra. Burpem, aquela de fazer o Niragi ser o cara mal da história e eu juro que funcionava parcialmente pq assim que eu chegava da faculdade eu me debruçava pela janela e ficava admirando ele. Eu me apaixonava por ele a noite e o odiava de dia. Na rua ele ria, sorria, gritava alguma piada, dava socos no irmão de brincadeira e ria, ficava lindo com uma arma na cintura, tinha algumas tatuagens que as vezes eu tinha vontade de jogar um balde de água nele só para ele poder tirar a camisa e eu observa-las. Estou olhando para ele de forma obsessiva a dois dias.
Agora estou fazendo a mesma coisa, hoje ele está com uma camiseta preta e jeans, lindo como sempre. Vejo ele olhar para mim e eu respiro fundo, ele começa a falar e andar, não entendo pq ele está falando e olhando para mim, pq ele nem sabe que eu... ah meu Deus, ele está falando comigo e agora sumiu do meu campo de vista. Pisco os olhos rápido, um calor começa a subir, estou nervosa e com medo, o que eu fiz? Olho para a janela desesperada, Nioji está rindo e olhando para mim.
- É gata, ele está indo aí – ele ri – você não desgrudava os olhos dele.
Fecho a janela, vindo aqui? Para me matar? Respira. Respira. Ele não pode entrar, vamos trancar a porta. Dou dois passos dentro do quarto em direção a porta e escuto a porta da sala abrindo e fechando, eu paraliso. Minha cabeça gira, o que está acontecendo? Eu pisco inúmeras vezes e quando ergo o olhar ele está me encarando na porta do meu quarto.
Ele é mil vezes mais bonito de perto e extremamente igual. O analiso de cima a baixo e olho para ele. Estou me tremendo.
- Pode parar de olhar e vim pegar – ele diz e eu fico chocada, estou criando raízes do chão, minhas mãos tremem.
- Desculpa... – digo e ele ri e se aproxima.
Ele vem perto de mim, muito perto e boom... ele segura meu rosto e me olha. Acho que estou delirando ou sonhando, preciso me levantar e ir ao médico, minha mente está me deixando louca, agora vou ter sonhos sexuais com ele?
- Você é ainda mais gata de perto – ele diz e eu arregalo os olhos, ele se aproxima e... e meu Deus, pq tão bom? Ele junta nossos lábios em um beijo mega intenso, fico parada por um segundo e depois retribuo, estou agarrando os cabelos dele, estou passando a mão pelo corpo dele todo, é perfeito, malhado. É, eu realmente agora vou ter sonhos sexuais com o cara que eu criei.
Ellie! Pare agora mesmo! Não... NÃO! Não era para enfiar a mão na camiseta dele, não era para você estar feliz por sentir os gominhos do abdômen dele. Ellie, se afaste! Ele não existe, isso não existe, você provavelmente está doente e beijando o ar.
- Para! – digo afastando os lábios ele e ele me olha chocado – não sou essas garotas que você pega e joga fora, sou muito mais que isso! Sai daqui.
- Nossa! – ele me olha e toca os próprios lábios – eu não te vejo assim mas ok – ele me olha e eu fico ser ar – vou ir embora mas passe lá em casa pegar o dinheiro – disse e saiu. Fico olhando para o chão até escutar a porta da sala fechar.
O bendito dinheiro, eu precisava do dinheiro mas não queria ir buscar. Não posso ficar cara a cara com esse homem de jeito nenhum. Mas aquele beijo puta que pariu, que perfeito. Pare de pensar nisso, vá para o banho e depois dormir Ellie. É isso que eu faço.

Acordo atrasada e irritada, dormi poucas horas pelo simples fato de que eu fiquei me revirando na cama a noite pensando naquele homem, nos lábios dele, no corpo dele, no cheiro dele, nas mãos dele me apertando... me levanto e faço meu café da manhã para ir à academia. Visto um shorts curto rosa e uma camiseta preta três números maior que o meu e um tênis.
Começo dando uma corridinha na esteira e assim que sai e fui pegar meus pesos para treinar braços meu olhar se cruza com alguém que eu não queria. Niragi. Ele estava todo suado saindo de um aparelho para treinar peito, eu olho chocada e ele sorri. Mudo meu olhar de lugar e começo a treinar, ou tento pq a cada segundo meu olhar ia ao dele, cada aparelho que eu ia eu olhava para ele. Estou guardando minha anilha quando sinto alguém atras de mim, me viro e vejo ele segurando no mínimo uns 50 kg em cada braço, eram tantas anilhas. O olho de cima a baixo.
- Licença? – diz simples e arqueia a sobrancelha do tipo “ta pesado”. Saio imediatamente totalmente envergonhada, pego minha garrafa de água e saio da academia, quero sumir daquele lugar.
Eu me sentia uma idiota e eu nem sei o pq, eu queria cavar um buraco e me enfiar dentro. Nossa que ódio de mim mesma. Chego em casa e corro para um banho, depois recebo uma resposta de Nishi para o meu: “que dia você voltará de viagem para mim pegar o dinheiro?”. Ela me respondeu: “cheguei hoje de madrugada, pode passar aqui quando quiser, ficarei o dia todo aqui hoje”.
Me vesti com um jeans preto, blusa branca cropped que exibia uma parte da minha barriga e um allstar e sai de casa. Assim que cheguei toquei a campainha e quem estava na porta me fez quase cair morta ali mesmo. Ele estava de shorts e com os cabelos e peitoral molhada, seu cheiro me entregava que acabou de sair do banho.
- Oi – ele disse fazendo eu parar de secar o corpo dele – veio buscar o dinheiro?
- Sim, a Nishi está aí? – questiono.
- Ela deu uma saidinha para ir ao mercado mas entre, por favor – ele diz e me dá espaço para passar – eu mesmo pago por ela – sorriu e eu tive que entrar.
Entro na casa e começo a reparar o design que eu mesma fez, provavelmente estou fazendo papel de idiota. Olho para o lado ele sumiu, arregalo os olhos e penso que foi um surto, estou quase saindo da casa quando ele volta com uma mala de dinheiro.
- Ela disse que ia pagar em várias vezes mas eu não sou de fazer isso, então aqui está tudo – ele diz me entregando a maleta, estou chocada.
- Tem certeza disso? – ele me olha confuso e acho que ele está falando que não tem todo o dinheiro mas não é isso – tem certeza de que quer pagar tudo já, eu não ligo de vocês parcelarem.
- Claro, tenho sim – ele diz e ambos sorrimos, estou quase me despedindo quando ele fala – hoje na academia... não precisava ter ido embora.
Uma vergonha enorme, que nunca senti na vida me atinge.
- Ah sim, claro – rio e desvio olhar sem graça – eu já estava de saída.
- Você treinou por 25 minutos e normalmente você fica mais lá – ele diz e cruza os braços.
Foram só 25 minutos?
- Fico? – rio.
- Sim, faz tempo que frequento aquela academia e sempre reparei em você – acho que estou morta, meu coração...meu coração – você sabe treinar bem.
- Imagine – falo envergonhada – talvez eu tenho te visto, sou péssima em lembrar de pessoas quando treino – minto, pois eu sabia todo mundo que treinava no mesmo horário que eu, só nunca tinha visto ele.
- Normalmente eu fico no segundo piso treinando luta, só que atualmente decido colocar treino de força no meu planejamento – ele diz e eu analiso os músculos dele, ele era gigante.
- Ah sim, acho uma boa aposta – rio e nos encaramos. Pq ele tinha que me olhar assim? Pq eu tinha que lembrar dos lábios dele bem nessa hora?
- Qual é o seu nome? – ele pergunta e eu me assusto.
- Ellie, Ellie Prado – digo e ele fica surpreso.
- É latina? Tipo eu tenho certeza de que é mas estou com medo de palpitar um país e te ofender – rimos.
- Ah não pense isso, vamos lá, qual é o palpite? Prometo não me ofender – rio para ele.
- Ok... – ele me analisa – Brasil?
- Bingo! – rimos – como sabe? Ou Brasil é um país tão marcante assim?
- Meus pais são médicos e trabalham lá – ele diz e eu fico surpresa – porém nunca visitei.
- É um destino e tanto, deveria ir – digo.
- Vou ir sim – ele sorri e meu coração derrete. Nós olhamos por muito tempo.
- Você me conhece de algum lugar? Tipo sem ser a academia e tals? Tipo me conheceu a algum tempo atras? – pergunto com esperança. Esperança até demais.
- Não, eu deveria? – ele questiona e aquilo me mata. Tento sorrir mas aquilo me machuca muito, quero chorar.
- Claro que não, não teria o pq né? – digo rindo para esconder a vontade de chorar – eu vou indo pq estou atrasada mas obrigada – digo indo em direção a porta, eu mesma abro e fecho e saio correndo.
“eu deveria?”
Isso roda na minha cabeça, todos os nossos momentos parecem numa espécie de flashback doloroso. Meu peito aperta.
“eu deveria?”
Deveria, Niragi. Deveria.

Depois da faculdade e de mais um projeto iniciado eu chego em casa. Não abro as janelas, não escuto música, não quero cozinhar, só quero chorar e repetir o “ eu deveria” na minha mente.  Isso dói demais, não quero nunca mais nutrir sentimentos por alguém, quero que eu cérebro pare de me fazer sofrer, apague esse Niragi da minha frente. AGORA!
Não vou na academia no próximo dia, nem no outro, nem no outro e nem no outro. Saio cedo de casa e trabalho e depois estudo, faço de tudo na minha vida para não passar por aquela rua e nem me encontrar com nenhum deles por acaso pq tudo dói, muitas coisas me lembram ele e ele não tem lembrança nenhuma comigo. Olho para o chão, ele parece confiável e não vai me trair a ponto de e mostrar Niragi.
Estou perto da faculdade quando sinto alguém atrás de mim, paro e olho para trás. Meu corpo treme, observo um homem alto, mascarado e com uma arma. Antes que ele me alcançasse eu começo a correr, cadê a segurança desse país? Estou correndo mas parece inútil, ele me puxa para o chão pelo ombro e meu corpo dói. Ele está gritando mas eu não consigo ouvir, ele mira a arma para a minha testa, será que ele sabe que na minha bolsa só tem papel e caneta?
- Por favor... – digo quando ele atinge meu rosto com a arma, sinto arder.
- Passa o que tiver de valor! – ele grita e eu estremeço.
- Só tem papel – digo e ele pega a bolsa de mim e começa a revirar e conforme ele vê todos meus papeis ele grita comigo e me bate. Acho que vou morrer – gringa imprestável!
Então ele me chuta, meu ar some, preciso reagir, preciso me levantar e correr, mas então outro chute. E outro. Não tem mais esperanças, vou morrer mesmo. Começo perder a consciência quando tudo para, os chutes param, os gritos param.
- Ellie? Ellie? – alguém segura meu rosto e eu abro meus olhos e vejo quem é.
- Niragi – digo e tudo fica preto.

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