Sinto olhares em mim e isso me irrita, será que era possível treinar de calça legging e top nessa academia sem ser assediada ou algo do tipo? Olho para quem está atras de mim pelo espelho e maioria está de costas e super focado no exercício. Volto a fazer meu agachamento e outra fez sinto a mesma coisa, só que dessa vez eu acabo minhas repetições, não posso parar minha vida por causa de homem escroto.
Só quando saio da academia em direção ao meu apartamento que eu sinto que os olhares param, reviro os olhos no meio da rua para toda aquela situação. Hoje eu tinha um compromisso mega importante antes da faculdade, hoje eu recebi meu primeiro projeto de design para uma casa nova que fica a uns 8 minutos de casa. Eu estava muito animada e tão feliz, era um desafio e tanto mas eu estava pronta.
Assim que cheguei fui direto para um banho e depois coloquei uma saia preta acinturada que ia até o meio das minhas coxas, junto com uma blusa social vermelha de um tecido meio transparente então coloquei uma blusa cavada de alça vermelha e bem justa. Me olho no espelho e fico perdida no meu reflexo, meu corpo sempre foi cheio das curvas mas atualmente elas estão acentuadas demais pelo fato que eu não estou me alimentando direito, meu rosto demonstra a mesma coisa, eu estou me autodestruindo, ir à academia é uma forma de recuperar aquilo que perdi. Coloquei um tênis que combinasse, peguei minha bolsa que tinha tudo necessário e sai de casa comendo um maça.
Chego na casa e realmente era a coisa mais sem graça que já vi, as paredes eram brancas e não havia nada de decoração. Toco a campainha e uma mulher, um pouco mais nova que eu aparece, ela é um pouco mais alta que eu, seu cabelo preto são longos, seu corpo é lindo, seu rosto parece ser esculpido pelos anjos e seu sorriso é a coisa mais graciosa do mundo.
- Olá, você é a designer né? – ela questiona e eu sorrio.
- Isso mesmo – ela abre espaço para mim entrar – licença – ela sorri – sou Ellie Prado, é um prazer conhece-la.
- Olá Ellie, sou a Nishi – sorrimos – eu adorei o seu trabalho, fiquei impressionada.
- Obrigada – agradeço sorrindo – espero atingir suas expectativas nesse projeto.
- Eu sinto que você vai ir além – sorrimos.
- Então, o que você tem em mente? – pergunto e ela começa a dizer tudo enquanto eu vou anotando, dando dicas e negociando as coisas.
- Bem, eu não moro sozinha aqui, moro com meus dois irmãos e meus pais estão fora do Japão – ela me olha – então eu queria um ar de moderno e aconchegante mas sem passar a vibe de que é muito feminino, quero algo neutro.
- Entendo – digo batendo o lápis na minha bochecha para as ideias virem.
As ideias dela eram ótimas, eu estava muito animada apara aquilo e para algumas coisas eu teria que sair da minha zona de conforto mas eu não me importava desde que eu decidi que eu seria a melhor nisso para não voltar para o hospício. Agora a minha missão era fazer o orçamento, cotar os materiais e profissionais e realizar o projeto e pois isso agora eu só iria para a faculdade três vezes por semana.
Do mesmo jeito que eu estava passei em uma loja de materiais e depois para a faculdade e agora eu me encontrava na porta do meu apartamento, eu estava super cansada. Entro e percebo algo errado, largo as bolsas e começo a procurar o que tem de errado até que acho uma caixa enorme no meu quarto, fico confusa pq apenas eu tinha a chave de casa e eu não tinha deixado essa caixa aqui. me aproximo lentamente e abro e meu estomago revira antes de eu berrar de horror. Escuto risadas vindo do outro lado da rua.
Aquele idiota de lá de baixo. Foi ele, certeza. Na caixa tem esterço com animais peçonhentos, o cheiro estava uma maravilha. Abro a janela e olho para baixo onde eles costumavam a ficar e vejo ele rindo, filha da puta.
- Gostou da surpresa, gata? – ele pergunta rindo e eu fico muito brava. Sem pensar duas vezes eu pego a caixa nos braços e desço o prédio, e saio lá fora. Não era a primeira vez que isso acontecia, ele adorava fazer essa merda comigo sendo que eu nunca fiz nada para ele e nunca falei com ele, nem sabia o nome dele. Ele fez coisas assim muitas vezes até eu começar a revidar, vivemos uma verdadeira situação de inimigos, quero bater nele.
Ele me vê andando por aquela rua mal iluminada com a caixa na mão e super irritada, chego mais perto e ele vem ao meu encontro deixando um monte de homens para trás, não consigo ver o rosto dele mas daquele idiota com certeza, vejo todos os detalhes e o tanto que ele é filha da puta é o quanto ele é lindo. Que ódio.
- Eai gata? – ele fala e eu jogo todo o conteúdo da caixa nele. Ele me olha chocado.
- Eu amei tanto a sua surpresa que vim dividir! – gritei e virei as costas deixando ele com cara de otário lá. Os resto do bonde ele ria e o zoava.
- Eita moreninha gringa brava! – ele diz.
- E literalmente nem um pouco a fim de você – alguém completa e eu sorrio por ler meus pensamentos.
Entro no meu apartamento e quando vou fechar minha janela é impossível não olhar, o cara responsável pela caixa não está mais lá mas todos me olham e fazem comentários do tipo “você foi demais!”.
- Qual é o nome daquele idiota? – sim era tarde mais, aquilo escapou de mim e eu saberia que teria consequências.
- Nioji! – todos falam juntos e eu fecho a janela e vou para um banho.
Nioji, eu te odeio. Mas não posso negar o quão lindo ele é, tipo muito lindo mesmo. Estou prometendo a mim mesma que eu nunca vou ficar com ele, mesmo que ele me mante flores de ouro, que ele se humilhe ou nem se eu ficar muito bêbada e safada na balada. Jamais. É uma promessa super seria e eu não vou me perdoar se eu quebrar.
É, o universo está contra mim mesmo. Não pode ser possível. Olho as horas. 23:14. O Japão não para nunca? Pq tem que ser esse horário para estar arrumando a rua? E tipo nem a frente da entrada no meu prédio, tipo o buraco está bem ali mas tem mais uns cinco prédios sendo isolados, ou seja você não pode entrar pela entrada principal pq tem máquinas trabalhando.
- Inferno! – reclamo olhando para o céu.
Sabe o que tudo isso significa? Sabe? Isso exatamente, vou ter que entrar pela saída de emergência que fica na rua de trás e sabe o que tem na rua de trás? Exatamente, Nioji. Por isso que o universo está contra mim.
Dou meia volta com o destino de ir até a rua de trás e quando chego vejo que tem várias pessoas fazendo o mesmo, a saída de emergência do meu prédio está entreaberta me sinalizando que alguém acabou de entrar, vou caminhando até lá e de soslaio vejo aquele maldito bonde dele mas ignoro, minha meta é chegar até a saída sem ninguém vim me encher o saco, então começo a andar olhando para chão.
Ergo o olhar para tocar a porta quando um par de botas masculinas estão no meu campo de visão. Merda.
- Achou que ia passar em branco aquilo? – ele questionou e eu o encarei
- Acho que aquilo foi consequência do seu ato, se você não consegue ver trabalhe nisso – ele arregalou os olhos – isso não é problema meu – completei e dei um passo para dentro da porta mas ele segurou meu braço e me puxou para fora e riu.
- Perai, temos tanto que conversar – ele disse e eu tentei tirar meu braço das mãos dele mas era inútil, ele era mais forte e eu estava me tremendo já – está com medo? – não respondi – na hora de jogar aquele negócio em mim você não teve né?
- Nioji, me deixa entrar eu...
- Sabe meu nome? – ele levanta as sobrancelhas – está tão interessada em mim assim? – é impossível segurar uma risada. Ele me olha sério.
- Claro que não, é que quando você vai fazer boletim de ocorrência é necessário saber o nome da pessoa – disse e ele me prendeu na parede, com raiva.
- Olha aqui gata, acho bom essa merda ser brincadeira – ele disse e eu me tremi – não me envolvo com a merda dessa polícia e eu juro que se eles vierem atras de mim vou mandar meus homens virem atras de você e acabar com a sua raça! – ele gritava no meu rosto e eu tentava sair dali.
- VAI PARA O INFERNO! – grito mas ele ri.
- Estou trabalhando para isso meu bem, mas quem está pedindo para chegar primeiro é você com essa história de polícia – nos encaramos – então vai, fala que tudo brincadeira porra! – ele grita e eu fico paralisada de medo – FALA KRL! – ele está cada vez mais me deixando sem espaço, temo que ele vá me bater – abre o bico, filha da puta! – tento correr quando ele solta minhas mãos mas ele me empurra com força na parede, minhas costas doem.
- Pare, por favor – peço sem ar.
- SÓ QUANDO VOCÊ FALAR A VERDADE! – ele grita no meu rosto – vamos lá vadia, não vai doer falar, só vai doer se for verdade – agarra meus cabelos com ódio, sinto arder minha cabeça.
Minha respiração está ofegante, não consigo respirar, minha visão está embaçada. Acho que vou desmaiar aqui mesmo.
- NIOJI! – uma voz se aproxima e ele me solta, estou sem ar – que porra é essa? Deixa ela em paz – a voz completa e eu me recomponho, arrumo meus cabelos e olho para quem está brigando com Nioji até ele sair – você está bem?
Ergo o olhar e novamente tudo para, meu peito dói, estou girando, tudo está fora do lugar na minha mente. Ele está aqui, igual a ele.
- Misericórdia – falo sem ar.
- Você está bem? – ele questiona e minhas pernas tremem, estou vendo coisas, minha mente está de brincadeira com a minha cara, os remédios não estão sendo suficientes – ei!
Olho fixamente para ele. Os cabelos, os olhos, a boca, o nariz, os piercings, o jeito de falar. Niragi. Ele está na minha frente, o rosto dele volta com tudo, as lembranças voltam com tudo, minha cabeça gira. Ele não existe Ellie, você o inventou e agora a sua mente está brincando com você. O Niragi não existe e até a dois segundos atras você nem lembrava do rosto dele então pare!
Repito isso inúmeras vezes mas cada vez mais minha cabeça dói e minhas pernas tremem. Ele me olha preocupado e precisando de uma resposta para a pergunta dele mas a única coisa que faço é tremer e correr. Corro. Corro. Até meu apartamento onde eu jogo minhas bolsas e pego três comprimidos de calmantes e engulo, preciso me acalmar. Hoje foi um dia muito produtivo e meu cérebro dele estar cansado e confuso.
Niragi. Niragi. Niragi. Se é ele pq não me reconheceu?
Minha cabeça piora e eu caio desmaiada no tapete da sala.
- Srta. Prado? Srta. Prado? – alguém me balança para acordar e eu acho meus olhos vendo o porteiro – ah que bom que acordou.
- O que aconteceu? – pergunto e me sento no tapete, alguns vasos meus estão quebrados.
- Acho que você desmaiou, eu estava passando no corredor quando escutei um barulho de algo caindo e quebrando, tentei te chamar e você não respondia e fiquei preocupado – ele disse e eu sorri, ele era um velhinho de 63 anos, cabelos brancos e mega gentil.
- Muito obrigada pela preocupação, Sr. Hoikoma – digo sorrindo e ele me ajuda a levantar – Sr. Hoikoma, pode abrir minha janela e ver algo para mim?
- Claro – ele diz e faz – então?
- Você vê um cara com um cabelo longo? Tipo até o pescoço? – pergunto e ele olha para baixo.
- Vejo, pq? Ele é bonitão? – ele diz e eu rio.
- Muito obrigada Sr. Hoikoma – sorrio e ele fecha a janela e sai do meu apartamento.
Estou no Japão a três anos, dez meses e 3 dias.
Vi o Niragi antes de ontem, acho que estou ficando louca apesar de outras pessoas também o verem.
As crises voltaram e estão mais fortes, o rosto dele aparece para mim o tempo todo e meu peito doí.
Faz uma semana que minha vida está sendo: acordar, malhar com o sentimento que tem alguém me olhando, trabalhar no projeto, ir a faculdade, voltar, tomar banho e ficar observando Niragi pela janela e disfarçando quando ele me olha e chorar até dormir.
Agora no momento estou esperando Nishi abrir a porta para mim, hoje foi a entrega do projeto e eu não pude acompanhar por estar pagando a empresa que aluguei os funcionários, pedi mil desculpas para ela e ela disse: “fique tranquila, passe aqui quando estiver livre”.
É obvio que assim que sai daquele lugar vim correndo. Dou uma arrumada nas roupas que visto que é uma saia curta de xadrez amarelo e preto, blusa preta ciganinha de manga longa e uma bota cano alto acompanhada de uma meia calça arrastão.
- Ellie! – ela abre e me abraça, estou surpresa - eu simplesmente amei, muito, muito obrigada!
- Eu que agradeço por confiar no meu trabalho e fico mega feliz com esse comentário – digo sorrindo e entramos.
Não querendo me gabar mas tinha ficado perfeito, do jeitinho que pensei.
- Queria colocar esse quadro aqui – ela me mostra um quadro de mesa branco com uma foto de infância – acha que fica bom aqui nessa mesinha ao lado do sofá?
- Claro! – digo e ela coloca, fico olhando a foto e vejo dois meninos e uma menina.
- É eu com meus irmãos – ela diz e eu fico com vergonha por estar olhando demais.
- Ah sim, claro, como eu pude me esquecer – digo rindo e ela ri também.
- Eles são dois anos mais velhos que eu, um chama... – um barulho nos chama a atenção e passos vem do corredor até a sala – aliás, esse que está vindo aí é um deles – ela diz e quando ergo o olhar quase desmaio. Que merda.
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Hayran KurguSinto uma dor enorme em meu peito, ergo os olhos e só consigo pensar em uma coisa: - Filha da puta, eu confiei tanto em vc. Eu realmente pensei que nossa relação tinha mudado, como eu fui idiota. Naquele momento me passa um flashback de tudo que vi...