⚠️Alerta de gatilho: violência explícita; transtorno de ansiedade.⚠️
Os dias foram se passando, mas eu não estava cem por cento bem.
Phillip, depois de muita insistência minha, decidiu voltar para a escola. Fernando passou a estar em casa mais cedo, e sempre visitava meu quarto para checar se eu estava bem; vez ou outra passávamos horas conversando.
Maria sempre estava comigo, na maioria das vezes, quando ela não estava muito ocupada, é claro. Sempre me trazia bolos de vários sabores que ela mesma fazia, mesmo quando eu dizia estar sem fome. Além de sempre conversar comigo quando eu estava entediada ou sufocada com o silêncio. Eu contei a ela o que aconteceu, finalmente, e ela chorou comigo, fez carinho em meus cabelos e eu adormeci.
Leah e Matt apareceram aqui no dia seguinte que Nathan e Vincent estiveram, contei a eles o que aconteceu, também. Leah ficou sem reação de início, imóvel, pude jurar que um terror brilhou em suas orbes azuis. Matt estava possesso e incrédulo, me abraçou antes mesmo de eu terminar de falar, e não me soltou por um bom tempo. Leah se juntou a nós e ficamos ali, abraçados. Ela e eu, chorando em silêncio, Matt, com o maxilar travado e as narinas dilatadas, os olhos embargados, mas nenhuma lágrima se atreveu a cair.
Convenci o Phillip de que eu estava bem o suficiente para dormir só, o que era uma tremenda mentira. Vez ou outra eu acordava sobressaltada, chorando e suada no meio da noite, depois te sonhar com aquele mesmo homem que me machucara. Os pesadelos prevaleceram desde então, embora as marcas e hematomas tivessem sumido da minha parte íntima, assim como o pequeno corte em meus lábios. Minhas costas também estavam melhor, embora ainda estivesse visível a pele se regenerando, não necessitava mais do curativo.
Phillip não estava convencido de que eu estava melhor dormindo sozinha, no entanto. Sempre me fazia companhia antes de eu adormecer, e depois voltava para seu quarto. Mas quando eu acordava no meio da noite, abafando meus gritos com o travesseiro e apertando o Stitch, eu sentia uma falta colossal dele, do calor dele, da companhia dele ao meu lado. De repente aquele lado da cama ficou frio e vazio, como se nada pudesse preenchê-lo.
Mesmo assim, deixei que Phillip dormisse em sua própria cama, que fosse para a escola e tentasse não se preocupar comigo — mas essa última parte já era um trabalho impossível.
Passei a frequentar aquela área do jardim com mais frequência, principalmente quando Phillip estava na escola, quando Fernando estava no trabalho e quando Maria precisava sair para resolver assuntos familiares. Passava a maior parte do meu tempo naquele banco de pedra, ouvindo música, ou jogando pedrinhas no lago, ou me balançando naquele balanço trepado no galho de uma árvore. Era um dos poucos lugares que me mantinha calma, que mantinha minha mente longe dos demônios que me atormentavam.
Ainda não me sentia a vontade para voltar à escola, nem para sair de casa além daquele jardim. Phillip não tocou mais no assunto, ele não gostava de me pressionar nem insistir. Mas ele estava feliz por eu estar me recuperando, então eu me sentia ainda pior quando chorava no meio da noite, quando não conseguia comer, quando não conseguia olhar para a escuridão do quarto sem me ver naquele beco outra vez. Me sentia mal por saber que eu não estava me recuperando, e não deixar que ele soubesse. Pois apenas em imaginar aquele brilho nos olhos sendo substituído por decepção ou tristeza, me machucava demais. Então não deixei que ele soubesse, o fiz acreditar que eu estava melhorando, que os pesadelos sumiram, que eu estava me alimentando bem, e passei a frequentar o jardim várias vezes para pegar uma cor e não parecer doente.
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Pecado Divino
Romance+18 | violência explicita, drogas ilícitas, conteúdo sexual, conteúdo sensível. Phillip Tucker é o tipo de cara que não acredita no amor; ou talvez tenha desistido dele. Após um dos acontecimentos mais traumáticos da sua vida, Phillip se vê no fund...