Capítulo 70

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Eu anseio ouvir a sua voz
Mas ainda faço a escolha
de enterrar meu amor na poeira da lua

Moondust, Jaymes Young

Moondust, Jaymes Young

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Eu estava em negação.

Foi a primeira coisa que pensei ao acordar e evitar, imediatamente, olhar para o quadro acima da minha cabeça. Como se olhar para aquele rosto trouxesse à tona tudo que eu estava tentando não sentir.

Haviam se passado três dias desde a sua partida. Três fodidos dias, e tudo que fiz foi ligado ao automático, não como se eu estivesse vivendo, mas apenas existindo.

Era fácil fingir que estava bem na frente dos meus amigos - mesmo que eles não se convencessem, de todo modo -, o problema era à noite, quando a minha única companhia era o silêncio do quarto escuro, e a cama fria cujo o único resquício da existência dela era o cheiro de morango impregnado nos lençóis.

Eram nesses momentos que mais doía.

A falta dela estava me corroendo por dentro de uma forma que tornava difícil convencer a mim mesmo que estava tudo bem, eu estava definhando internamente, tentando agir como se não sentisse nada quando tudo que eu mais queria era cair de joelhos e chorar como uma criança em busca de colo.

Mas até mesmo este pensamento era apagado rapidamente da minha mente quando meu cérebro me lembrava que eu estava em negação. Eu não queria sentir, eu não queria passar por aquilo, não queria quebrar mesmo que tudo em mim já estivesse quebrado por dentro.

Eu escondia essa parte destruída até de mim mesmo, tentava seguir em frente com uma rotina que eu não tinha quando estava com ela, substituindo nossos momentos por coisas inúteis que eu nem mesmo gostava de fazer. Estava tentando apagar alguém que estava gravado em meu ser, estava ligado a mim e jamais iria embora.

Seu fantasma nunca iria embora.

Ela ainda está aqui, eu podia sentir.

E isso era uma merda do caralho, porque a falta dela ameaçava me matar, lentamente e dolorosamente. Não sabia até quando conseguiria fingir, até quando viveria em negação acreditando que ela voltaria, que ela não havia ido embora, que não havia me deixado.

Não espere por mim.

Ainda conseguia ouvi-la dizer, apagando uma parte miserável da esperança que eu ainda tinha; que ainda tenho. Não queria pensar nas suas palavras, não queria pensar que o que disse havia determinado nosso destino - o fim da nossa história.

Preferia viver em negação a ter que viver sabendo que não podia esperar por alguém que não vai voltar.

Era doloroso demais, e eu estava cansado de sentir essa dor.

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