Capítulo 73

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Onde estão meus sentimentos?
Eu não sinto mais as coisas
Eu sei que eu deveria
Estou paralisado
Onde está o meu verdadeiro eu?
Estou perdido e isso me mata por dentro

Paralyzed, NF

Eu costumava gostar de tempestades, elas me acalmavam sempre que eu tinha uma crise

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Eu costumava gostar de tempestades, elas me acalmavam sempre que eu tinha uma crise. Gostava de assistir o céu clarear com um relâmpago, ou ouvir o som dos trovões ecoarem lá fora. Era como uma terapia.

Agora, encarando a chuva forte lá fora e os relâmpagos que iluminavam o cômodo a cada cinco segundos, eu não sentia nada. As gotas de água que escorriam pelo vidro da janela se assemelhava à todas as lágrimas que havia derramado naquele dia. E os trovões não eram mais altos que o barulho em minha mente.

Não sabia há quanto estava sentado naquela poltrona, não sabia nem sequer que horas eram ou em que dia estava. Tudo que eu pensava era na notícia que havia recebido, a pior delas.

Estava paralisado.

Havia me trancado naquele escritório algum tempo depois de quebrar todo o quarto, e tudo que fiz foi chorar, depois de desabar, me sentei na poltrona dele e encarei a janela enorme atrás de sua mesa. O mundo poderia acabar e eu não sairia dali, nem mesmo podia.

Não conseguia me mexer, não piscava, não falava. Nem tinha mais lágrimas para chorar. Não lembro quando foi a última vez que havia comido, ou ido ao banheiro, ou feito qualquer merda que um ser humano fazia.

Eu só conseguia lembrar do olhar de Renato ao me informar a pior coisa que alguém poderia ouvir.

Meu pai estava morto.

Meu.
Pai.
Estava.
Morto.

O que eu deveria fazer? Dizer? Pensar? Eu estava acabado. Destruído. Não estava mais no fundo do poço, estava no inferno. Meu coração se assemelhava a frangalhos, meu corpo estava anestesiado e minha mente barulhenta.

Minha vida estava acabada.

Eu poderia desistir bem ali.

Não havia mais nada a perder, certo?

Não sentia mais nada, de qualquer forma. Tudo que eu sentia era uma apatia infinita que ameaçava me consumir. Negação? Talvez. Mas não me importava. Nada mais importava.

Eu estava arruinado.

Minha vida toda estava.

Uma batida soou na porta ao mesmo tempo em que um trovão rasgou o céu, eu nem pisquei. Como se meu corpo estivesse aqui, mas minha alma em algum lugar muito distante. Não fiz menção em levantar da poltrona, nem fazia questão. De qualquer forma, estava estático.

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