Epílogo - Governanta em Cambridge

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  A nova Residência dos Fersnby, em Cambridge, era uma mansão.
  Depois de uma despedida dolorosa de Mary, Ethan e o pequeno Austin, eu precisei seguir minha jornada em um mundo desconhecido para mim, até então. Um novo horizonte se abriu diante do meu caminho, no instante que decidi sair de Great Yarmouth, onde eu era a governanta e amiga próxima de Mary Fersnby, para servir na mansão, sob a confiança de Lady Emma Fersnby.
  Quando a carruagem chegou em Cambridge, minha mente tentava absorver as informações do mundo novo que eu estava conhecendo. Uma cidade populosa e movimentada, cheia de experiências novas. Tudo muito diferente do que eu já tinha visto na vida. Afinal, na propriedade dos Bennet, interior de Norfolk, não havia nada daquilo. Ainda em Great Yarmouth, posso dizer que era uma vida sossegada e pacata.
  A Mansão Fersnby tinha quatro andares, tinha acabado de ser mobiliada e tinha alguns criados ali. Mas estava tudo fora de ordem. Havia uma ansiedade que dominava aquela família, por estarem se mudando para outro lugar.
  Lady Emma entregou as chaves e todo o poder para governar sua casa, confiando plenamente em mim. Criamos um laço de confiança, assim como tinha sido na casa de Mary.
  Foi um pouco complicado no início, pois a vida em Cambridge era infinitamente mais agitada do que no interior de Norwich, e até mesmo Great Yarmouth.
Logo começaram os bailes e grandes banquetes, sempre recebendo hóspedes da alta nobreza. Os outros filhos de Lady Emma começaram a buscar casamentos, o que deixava nossa vida bem movimentada.
  Mas eu gostava.

  Ou melhor, precisava estar ocupada para não me lembrar dos motivos do meu choro e do meu sofrimento, que todos ali desconheciam. Ninguém além de mim sabia o motivo do meu pranto e as trágicas histórias que me trouxeram até ali.
  Ainda, toda noite, eu segurava o relógio de Thomas e chorava. A dor tinha diminuído, mas as saudades não. Eu desejava com todas as minhas forças, poder contar a ele tudo que eu estava vivendo.
  Todas as pessoas que conheci, os lugares que visitei, a arte que pude apreciar, as aventuras que eu pude viver, sendo a governanta de confiança de Lady Emma Fersnby. Thomas iria adorar saber de tudo aquilo,.
  Eu estava ao lado dela nos eventos importantes. Podia comparecer às Óperas e Teatros, conhecendo artistas e todo o mundo fantástico que só a nobreza tinha acesso.

  Fiquei na mansão dos Fersnby por longos cinco anos. Usufrui tudo que eles tinham a oferecer, e dediquei a eles todo o meu tempo e esforço. Não havia nada que eu não sabia sobre aquela mansão e aquela família. Ao longo dos cinco anos, alguns filhos se casaram e partiram. Mas eu continuei ali, ao lado de minha senhora.

  Então, em um dia ensolarado, Lady Emma recebeu visitas. A casa se agitou quando uma grande carruagem pomposa chegou.
  Eu estava conversando com Tim, o mordomo, quando a mulher mais poderosa e elegante que eu tinha visto na vida, chegou.
  Foi anunciada como Condessa Clarisse Cumberland.
  Ao ouvir o sobrenome, meu coração disparou de tal maneira, que fiquei sem ar. Mas não podia deixar que ninguém percebesse como aquilo me afetou. Não esperava ouvir o sobrenome dele novamente, na verdade, há anos eu não ouvia. Como me encontrou para me perseguir?
  A Condessa era uma senhora, com cabelos grisalhos, ornamentada com jóias caríssimas. Estava trajada com vestes de viúva, mas isso não significava que fosse simples. Ela era luxuosa e exalava riqueza.
  Lady Emma a recebeu para o chá na varanda, onde uma brisa aconchegante tomava conta.

  Eu, pessoalmente, levei a bandeja com o chá da tarde para as duas. Era incomum que eu realizasse esse tipo de serviço, visto que estava longe de ser uma obrigação para uma governanta. Mas para convidados especiais, eu me vestia com o melhor uniforme para essa honra.
  A Condessa me analisava detalhadamente e aquilo me incomodou um pouco. Uma mulher da classe dela mal costumava perceber a presença de criados ao seu redor. Uma boa criada, ou governanta, é invisível em seu trabalho e era assim que eu estava acostumada.

  Enquanto elas conversavam tranquilamente, eu fiquei um pouco distante, pronta para servi-las assim que necessário.
  Confesso que foi incômodo, pois apenas menção de seu sobrenome tinha mexido comigo. Talvez tenha sido uma coincidência. Cumberland era um sobrenome um pouco comum.
  Eu não sabia suas origens, não sabia de nada sobre a família de Thomas. Só sabia que ele era de Suffolk. E isso, na época, bastava.

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