Nos tablóides

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  A primeira semana passou de uma forma muito veloz. Os dias foram abreviados e mal dava tempo para fazer tudo o que precisava ser feito.
  Francis, a governanta, tinha sido encarregada de planejar a recepção do casamento, com o auxílio de Lady Clarisse. Ninguém queria que eu fosse sobrecarregada.
  A aura de agitação na mansão foi sem precedentes. Ninguém ali estava preparado para aqueles dias.
  O meu trabalho se resumia a banhos tranquilos e as provas do vestido de noiva, que era um sonho a parte. Talvez a maior obra prima de Madame Desirée.
  Todas as manhãs, uma carruagem me levava até o ateliê para essas provas, totalmente em sigilo. Nem mesmo Maeve podia me acompanhar.
  Thomas estava completamente atarefado, pois desejava terminar o trabalho no escritório para que pudéssemos viajar, logo após o casamento. Ele não queria se preocupar com nada.

  E então, no sábado, pela manhã, quando me sentei a mesa para tomar meu desjejum, havia o jornal na mesa, como de costume.
  Lady Clarisse chegou logo após mim, e o abriu.
  Sua expressão de choque não pode ser descrita.
  Eu não tinha o hábito de ler jornais, então sequer tinha me interessado. Porém, quando a vi boquiaberta, precisei perguntar o que tinha acontecido.
  -- Lady Clarisse, a senhora está bem?
  Ela imediatamente dobrou o jornal novamente e colocou sobre a mesa, completamente impactada.
  -- a senhora está me preocupando. Diga-me o que houve, milady.-- insisti, verdadeiramente aflita.
  Lady Clarisse me estendeu o jornal, ainda muda de desespero.
  Imediatamente, eu abri e logo vi a manchete: "A ascensão de Lady Pevensie: de mera governanta a noiva do Conde".
  Meu coração disparou naquele mesmo instante. O restante do texto não me interessava, baixei o jornal sentindo meus olhos arderem e lágrimas surgirem.
  Lady Clarisse segurou minha mão sobre a mesa e ficamos completamente em silêncio, pois não havia nenhuma palavra que merecesse ser dita diante de tamanho choque.

  As criadas começaram a nos servir, mas aquilo não tinha mais importância para nós. Logo elas deixaram o lugar e ficamos a sós novamente.
  -- será que o Conde leu?-- eu perguntei, engolindo o choro.
  -- eu duvido. Ele não tem o hábito de ler esses jornais de fofoca... E além do mais, se ele tivesse lido, já teria vindo te procurar -- ela respondeu, me confortando com sua calma.
  -- e agora, Lady Clarisse? Falta uma semana apenas. Um escândalo desse... Oh, céus...-- lamentei, transtornada.
  Lady Clarisse se levantou.
  -- querida, coma alguma coisa, tome um chá para se acalmar. Eu vou ver o que posso fazer a respeito -- ela anunciou, saindo dali em silêncio.
  Olhei para a xícara fumegante e o bolinho que cheirava a baunilha. Eu precisava comer. Precisava ficar bem e firme, diante aquela adversidade.
  Faltavam apenas sete dias. Eu podia superar aquilo. Respirei fundo e me esforcei para me alimentar.

  Logo que terminei minha refeição, peguei o jornal e fui para meus aposentos. Eu precisava ler o que estava escrito ali e o quanto era verdade.
  Tinha que ter coragem.
  Fechei a porta logo atrás de mim e fui para minha escrivaninha. Abri o jornal e continuei a leitura.
  O texto era um resumo de minha vida, contando que fiquei órfã e precisava trabalhar de criada para sobreviver em Norfolk. Tinha uma boa carreira até ser contratada pela Condessa viúva e vir para Cumberland's como governanta.
  Logo depois, muitas especulações sobre meu relacionamento com o Conde, pois deixei o posto de governanta para estar mais próxima a ele, como assistente pessoal de pintura.
  Como esperado, trouxe de volta o baile da inauguração da Galeria onde fui exibida ao seu lado nesse cargo.
  Logo depois, mais especulações sobre o que houve entre nós no inverno para que logo após o baile de inverno dos Dawson, assumimos o compromisso, rapidamente noivando e marcando casamento.
  Um jornalzinho sensacionalista.
  E uma reportagem que era capaz de abalar as estruturas do Condado com um escândalo dessas proporções.
  O texto todo deixava implícito o meu plano para me tornar Condessa, seduzindo o Conde Cumberland, deixando aberto interpretações para uma possível gravidez.
  Fechei o jornal sentindo uma angústia apertando minha garganta.
  Em alguns segundos, sentindo meus pulmões exigindo mais ar e minhas mãos suando. Aquele era o meu pior pesadelo. Todas as pessoas, naquele instante, estavam lendo aquele jornal sensacionalista e perdendo todo o respeito por mim.
  Eu estava exposta.
  Frágil.
  E completamente amedrontada.
 
  Levantei e caminhei pelo aposento.
  Precisava me acalmar.
  De repente a porta foi aberta, era Maeve com uma pilha de roupas, certamente tinha terminado de lavar as peças do meu enxoval.
  -- sinto muito, milady. Não sabia que estava aqui. Pensei que tinha ido a Madame Desirée, para a prova do vestido -- ela se desculpou, educadamente.
  -- acredito que não vou a cidade tão cedo, Maeve -- resmunguei, ainda aflita.
  -- oh, e por que diz isso?
  -- não leu o jornal hoje?
  -- não tive tempo, estava passando as últimas peças de seu enxoval, milady. Mas o que tem no jornal?
  Eu não respondi, apenas entreguei aquele papel maldito nas mãos dela.
  Maeve teve a mesma expressão de choque de Lady Clarisse. Seus olhos correram pela folha, cheios de pânico.
  -- oh, meu Deus!-- ela exclamou, dobrando o jornal abruptamente -- eu juro que não tenho nada a ver com isso, milady!
  -- eu não estava suspeitando de você, Maeve, fique tranquila...
  -- como eles tem tantos detalhes? Como sabem tanto de sua vida? Meu Deus, milady, como o Conde reagiu?-- ela disparou, completamente desesperada.
  -- eu não sei se ele viu. E eu também não sei como eles tiveram acesso a essa história... O que eu sei que isso é um escândalo de grandes proporções.
  Maeve levou as mãos ao rosto, apavorada.
  -- por favor, me diga que vai ficar bem com isso, milady. E se não ficar, eu estou aqui por você -- ela exclamou, se aproximando de mim.
  Estendi as mãos para ela e ela as segurou firmemente.
  -- eu prometo que vou descobrir quem vazou essa história, milady. Eu acredito que a criadagem ainda não teve tempo de ler, pois alguém já estaria comentando sobre isso -- ela me assegurou -- vou descer lá agora.
  -- eu agradeço, Maeve. Por favor, não deixe ninguém vir até aqui.
  Ela concordou com a cabeça e saiu.
  Qual seria a reação dos criados embaixo?
  Haveria ainda alguém leal a mim, após a minha recente ascensão? Ou todos desejavam que a intrusa deixasse Cumberland's Hall, coberta de vergonha, após trazer sobre todos tamanho escândalo?
  Respirei fundo.
  Não havia como saber.

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