Lua de mel

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Enquanto caminhamos pelo jardim tranquilamente, Maeve e Ted organizaram nossa bagagem. Também providenciaram o jantar. Quando retornamos para casa, estava tudo perfeitamente preparado.
  A noite tinha um clima mais agradável, mas ainda abafado. Seriam necessários vários banhos para que nossos corpos suportassem as temperaturas.
  Sorte que tínhamos uma bela banheira.
  E meu amado tinha o prazer em dividir comigo.
  A espuma clara e perfumada relaxava meu corpo, que estava exausto do calor. Eu precisava de um leito confortável e, precisamente, estável para descansar. O sono a bordo era meio conturbado.
  Thomas acariciava minha pele carinhosamente, em silêncio. As velas tremulavam no canto do banheiro, e uma brisa salgada entrava pela janela.
  Não havia lugar melhor para que eu quisesse estar.
  Suspirei, relaxando meu corpo contra o seu. Seu peito forte era o firme apoio para minhas costas e sua respiração acalmava meu ser.
  -- adoro seus suspiros -- ele murmurou, limpando a espuma do meu ombro com cuidado.
  -- estou verdadeiramente satisfeita.
  Ele sorriu.
  -- cumpri minha missão -- ele brincou, beijando meu ombro -- posso deixar esse mundo em paz...
  Não pude segurar uma risada.
  -- posso te pedir uma coisa, minha querida?-- ele murmurou e eu me arrepiei.
  -- o que você quiser...-- respondi, sentindo coração disparado.
  -- posso pintar você?
  -- claro...-- respondi prontamente, curiosa.
  E então ele se levantou rapidamente. Se secou com a toalha e a prendeu em volta da cintura. Precisei respirar fundo diante do que eu estava vendo. Thomas caminhou porta afora, com gotas de água ainda escorrendo pelo seu corpo e seus cabelos molhados e desgrenhados.
  Oh, céus...
   Fiquei atordoada.
  E então ele voltou com uma tela pequena nas mãos e começou a procurar um ângulo.
  -- oh, você quer dizer agora?-- questionei, confusa.
  -- mas é claro. Você fica linda a luz de velas. Seu cabelo molhado fica muito sensual e eu preciso pintar isso...-- ele explicou, encontrando o lugar ideal.
  Antes que eu respondesse, ele saiu de novo e voltou com um cavalete e pincéis. Em completo silêncio, ele montou seu ateliê de pintura dentro do banheiro.
  Eu fiquei assistindo a contemplação em seu olhar.
  -- como quer que eu fique? Sei que isso vai demorar um pouco...-- perguntei, atenta a ele.
  Thomas ergueu as sombrancelhas, pensativo. Veio até mim e me colocou na pose que ele precisava. Basicamente, ele pintaria eu de costas na banheira, olhando levemente por cima do ombro. Sem mostrar minha nudez, mas aposto que era totalmente sensual.
  Fiquei imóvel por alguns minutos, sem dizer nada. E então ele disse:
  -- não espero que seja uma estátua, então pode falar, se tiver vontade.
  -- estou curiosa. -- respondi, tentando não me mover.
  -- quando a que? Prometo que farei apenas um rascunho... Não irá demorar muito...-- ele comentou, sem tirar os olhos da telha em que pincelava com atenção.
  -- de repente, decidiu me pintar...
  -- oh, não foi de repente. Eu penso em te pintar faz muito tempo. Só acredito que seria uma proposta inapropriada a se fazer para uma donzela solteira -- ele brincou e um sorriso surgiu em seus lábios.
  -- planejava me pintar?
  -- Amélia, querida... Você é a minha musa. É você quem eu sempre quis pintar. Olhe para o lado, erga um pouco o queixo -- ele respondeu com naturalidade e logo me instruiu, sem hesitar.
  Obedeci aos seus pedidos e fiquei imóvel, pensando no que ele tinha me dito. Nunca imaginei estar novamente em uma tela. Dá primeira vez, eu nem sabia que tinha sido pintada.
  Thomas estava fazendo uma pintura íntima e sensual, pelo visto. Não seria algo que estaria exposto algum dia.
  -- eu não acredito que nunca pensou em ser minha musa -- ele continuou, ainda sem se distrair, apenas olhava para mim e para a tela alternadamente.
  -- e por que eu seria? Meus últimos meses foram cheios de histórias...
  -- bem, você é a mulher das minhas memórias fragmentadas, a mulher que me encontrou e que, finalmente, está casada comigo... Se eu não quisesse pintar você, não pintaria mais nada nessa vida -- ele declarou, pousando o pincel para me encarar.
  Seu cabelo estava úmido ainda, mas seu corpo estava seco, com a toalha na cintura. Ele não tinha se vestido ainda, tamanha urgência para a pintura.
  -- minha querida... Pare de me distrair, pois eu preciso terminar isso logo -- ele repreendeu sorrindo -- ou ficará na água fria a noite toda, se for preciso.
  -- eu fico o tempo que for preciso, se isso te fizer feliz -- respondi, enquanto via que meus dedos estavam enrugados.
  Enquanto ficava como uma estátua, eu pensava em nós. Era algo difícil de acreditar e eu temia acordar em algum momento e tudo aquilo fosse um sonho.
  Thomas não demorou muito, logo se aproximou com a pequena tela nas mãos.
  O rascunho do retrato estava ali, parte das minhas costas e ombros a mostra, meus cabelos molhados desciam pelas costas. Meu rosto estava olhando levemente por cima dos ombros. Um pequeno sorriso nos lábios. Era serena. A delicada luz das velas que iluminava meu perfil.
  Fiquei olhando para a pintura.
  Era assim que ele me via. Maravilhosa.
  -- diga alguma coisa...-- ele suplicou, ansioso.
  -- ficou esplêndido... Não imaginava que fosse ficar tão belo, visto que levou pouco tempo para fazer -- elogiei, ainda apreciando a tela.
  -- eu vou trabalhar ainda mais nela... Quero que fique o mais perfeito possível...-- ele comentou, pegando a pintura de minhas mãos e levando para fora.
  Eu finalmente me levantei da banheira, a água estava fria e meus dedos enrugados. Meu corpo reclamou por ter ficado certo tempo sem se mover, mas valeu a pena.
  Me sequei e coloquei meu penhoar. O cheiro da espuma de lavanda tinha impregnado na minha pele.
  Enquanto secava meus cabelos com a toalha, Thomas se aproximou, trazia consigo um castiçal, pois as velas dali não estavam sendo suficientes.
  -- sei que não queríamos tocar nesse assunto, minha amada, mas não posso evitar -- ele começou, um pouco preocupado.
  -- qual assunto?
  -- como está o Condado, após o incidente no casamento.
  Eu entendi o que o preocupava. Pois aquilo me incomodava também. Por mais que eu quisesse ignorar, eu sabia que tínhamos deixado algo grande acontecendo em Suffolk.
  -- eu tento não pensar nisso, mas é inevitável -- respondi, terminando de pentear os cabelos.
  -- acha que deveríamos escrever a Lady Clarisse?
  -- ela acharia inapropriado -- sorri, tentando afastar o clima tenso.
  -- deveras. Mas ela pode fazer um breve resumo do que aconteceu nesses dias...
  -- bem, seja o que for, acredito que ela sabe lidar com isso tudo melhor do que nós.-- conclui, tentando acabar com o assunto.
  -- certamente. Minha tia é uma mulher que nasceu e cresceu na nobreza. Ela sabe onde pisa.
  Caminhei para o nosso quarto, onde o dossel cobria o leito com um tecido fino e esvoaçante. O luar entrava pela janela, e ainda assim Thomas trouxe o castiçal para iluminar ainda mais o quarto.
  -- se soubesse tudo o que ela já passou, a admiraria ainda mais -- comentei, me aproximando da cama.
  -- tenho certeza disso. Mas agora eu não quero saber. Eu só quero você, minha Condessa -- ele interrompeu, sem hesitar.
  Thomas se aproximou como um felino, segurou meu queixo para que eu o encarasse.
  -- trouxe você para essa cabana, em uma ilha distante... Onde ninguém poderá ouvir seus gemidos quando eu a possuir... Então, por favor, não vamos perder mais tempo...
  Segurei seu pescoço, puxando para um beijo desesperado. Toda aquela chama que ardia entre nós surgiu novamente, com urgência para queimar. Seus lábios eram exigentes e apaixonados, suas mãos firmes e ousadas. em um instante, virou-me de costas, beijando meu pescoço.
  Fechei meus olhos, aproveitando suas mãos pelo meu corpo e sentindo seu peito contra minhas costas.
  -- seu cheiro me enfeitiça -- ele sussurrou, sentindo o cheiro na minha nuca, com sua respiração quente, ele enrolou uma mão entre meus cabelos, com uma leve puxada-- esses cabelos me encantam...
  Trouxe sua boca junto a minha orelha, enquanto mantinha minha cabeça firme, segurando meus cabelos de forma sensual.
  -- minha Condessa, essa noite eu irei de mostrar uma nova forma de amar...
  -- estou ansiosa por isso.
  Ele deu uma risadinha e afrouxou a mão, descendo até meu pescoço, depois pelas minhas costas, até minhas cintura. Onde ele me tocava, minha pele arrepiava e queimava.
  E então, Thomas me conduziu até a cama, com seu corpo firme logo atrás de mim, sem soltar minha cintura. Quando meus joelhos encostaram no colchão, ele aproximou sua boca da minha orelha novamente.
  -- sinta-se a vontade para gemer ou gritar o meu nome...
  Então empurrou meus ombros para baixo. Firmei o colchão com os cotovelos, enquanto ele afastava minhas pernas. Logo atrás de mim, ele se posicionou segurando meus quadris. Perdi o fôlego por antecipação.
  Senti minha intimidade latejando pela espera, Thomas era cauteloso e me fez esperar alguns instantes. Suas mãos passearam pelas minhas costas até voltarem para minha cintura.
  -- o que está esperando?-- perguntei, com o corpo pulsando por ele, contra o colchão macio.
  -- você implorar por mim -- sua voz se divertiu, e quando ele alisou minhas costas novamente, causando um arrepio por mim.
  -- não vamos fazer joguinhos, querido, não agora -- ameacei, erguendo o tronco para me levantar.
  Thomas segurou meus ombros imediatamente. Esfregou seu corpo contra o meu e eu senti sua ereção, uma chama se alastrava por minha pele.
  -- não me diga que vai fugir de mim -- ele sussurrou, se aproximando do meu pescoço, onde eu senti sua respiração ofegante.
  -- o que quer de mim? Não me faça esperar mais...-- exigi, tentando me livrar da agonia.
  Ele se pressionou contra mim.
  -- oh, minha querida, me lembro que você gostava muito de me provocar... Como era mesmo que me chamava?-- ele afrontou, beijando meu pescoço.
  Eu não respondi. Não iria entrar naquele jogo. Não quando estava de costas, nua, com seu corpo contra o meu. Faltava muito pouco para que ele me possuísse.
  Ele desceu uma mão pelas minhas costelas até meu baixo vente, traçando um caminho de arrepios até minha virilha. Meu corpo se contraiu sob seus toques.
  -- vamos, querida, como me chamava, quando queria me provocar?-- ele insistiu, com toques suaves que faziam minha mente delirar -- não se faça de difícil agora.
  -- pensei que tinha dito que não queria perder tempo...-- rebati, inclinando para trás contra sua ereção.
  -- ah, mas para te ouvir implorar por mim, eu espero o tempo que for preciso -- ele deu um leve chupão no meu pescoço e subiu sua mão para meu seio.
  Ele sabia que eu iria me render. Cedo ou tarde. Thomas tinha um mapa do meu corpo e tudo que era necessário para me fazer perder o juízo. Eu precisava acabar com aquilo. E se, para por fim a minha agonia, eu precisava implorar, seria isso que eu faria.
   -- por favor, milorde -- minha voz saiu ofegante.
  -- eu não ouvi direito, minha querida -- ele enrolou sua mão em meu cabelo novamente e sussurrou no meu ouvido -- pode repetir pra mim.
  -- por favor, milorde... Não me faça esperar mais...-- eu implorei, num gemido.
  Thomas baixou meu tronco novamente, segurando os cabelos em minha nuca com firmeza, mas não violência. Enquanto eu firmava meus cotovelos no colchão, senti sua investida intensa em mim.
  Não pude segurar os gemidos.
  Meus braços fraquejaram nas próximas estocadas e meu peito caiu sobre o colchão. Ele soltou meus cabelos e segurou meus quadris, sem parar de se movimentar. Fiquei sem ar diante da onda de prazer que se apoderava de mim.
Ele me puxou em sua direção e eu tive forças para ficar sobre meus cotovelos novamente. Thomas não parou. Era intenso, firme, apaixonado.
  Virei meu rosto para encara-lo e quando nossos olhos se cruzaram, ele diminuiu as estocadas.
  -- o que houve?-- perguntei, um pouco confusa.
  -- quero que implore novamente -- ele exigiu, ameaçando se afastar.
  Eu não podia deixar isso acontecer. Eu queria ele dentro de mim até que eu alcançasse o ápice.
  -- por favor, continue, milorde.-- implorei, me erguendo meu corpo devagar.
  Ele segurou meus ombros com cuidado.
  -- sim, é assim mesmo que eu gosto -- ele sussurrou, entrando em mim novamente com urgência.
  Um gritinho escapou de minha garganta.
  -- sinta-se a vontade para gemer ou gritar o meu nome -- ele repetiu, se forma intensa.
  Nossos corpos se chocavam com urgência e luxúria. Thomas não parava e eu adorava isso. Não me reprimi quanto fazia no navio, não segurei cada som que tive vontade de emitir. Assim como ele também.
  Uma nova experiência, uma nova visão.
  O orgasmo me atingiu como uma onda agressiva. Cada músculo do meu corpo se contraiu incontrolavelmente e não evitei gritar seu nome. Tudo com ele era intenso, era completo, era incrível.
  Quando deitamos lado a lado sob o dossel elegante, levei um tempo para acalmar minha respiração e meus pensamentos.
  Mais uma vez eu pensei uma coisa, finalmente estava em lua de mel com Thomas, o homem da minha vida.

  Nossos dias na Sicília foram bem ocupados. Entre passeios em praias e jardins, respirando a brisa salgada e quente da Ilha. E diversas e longas horas na cama ou na banheira, ou em qualquer lugar que tínhamos privacidade, para fazer amor enlouquecidamente como se nossas vidas dependessem disso.
  Mal víamos Maeve e Ted.
  O que importava era as nossas refeições e muita privacidade.
  Os dias viraram semanas e logo nossa estadia chegou ao fim. Sem nenhuma carta de Cumberland's Hall com algum breve resumo, não sabíamos o que nos aguardava em casa.
  Ao embarcar no navio de volta, Thomas me abraçou em silêncio, olhando o horizonte no mar.
  Eu sabia o que o preocupava, pois eu também sentia o mesmo. Eu sabia que no fim de nossa viagem, quando o navio atracasse no porto na Inglaterra, voltaríamos a ser o Conde e a Condessa de Suffolk.
  Talvez nada tinha acontecido. Os eventos desagradáveis do casamento tinham sido esquecidos e ficou por isso mesmo.
  Mas talvez todo aquele escândalo tinha fermentado em boatos e mais boatos sobre nosso casamento inadequado. E o nosso retorno seria recebido com perda de prestígio e respeito.
  Thomas evitava me deixar sozinha. A maior parte do tempo, ele estava do meu lado, o que incomodava até Maeve em suas tarefas.
  As vezes, ela queria conversar algo comigo enquanto penteava meus cabelos e Thomas sempre estava por perto. Então, acabamos por deixar todos assuntos pendentes.
  Porém, eu via que ele evitava a todos custo, se sentir sozinho novamente. Ao anoitecer a bordo, ele sempre ia até a janela para ver a noite e o mar, ficava longos minutos em silêncio, pensando em algo que eu não podia decifrar.

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