O Retorno do Conde

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  Alguns dias depois, estava eu lendo tranquilamente no solário, quando Maeve entrou apressada. Estava sorrindo e bem ansiosa.
  -- milady, milady!-- ela dizia, afobada.
  -- ora, Maeve... Diga o que tem para dizer.-- pedi, agoniada pela sua ansiedade.
  -- a carruagem de Vossa Graça está chegando!
  Me coloquei em pé imediatamente. Meu coração disparou e eu nem pensei em nada, enquanto me apressei a ir para o Hall de entrada.
  Lady Clarisse deveria estar na estufa naquele horário, ordenei que a buscassem no mesmo instante.
  Boyle estava junto a porta do Hall de entrada, e sorriu educadamente quando me aproximei.
  -- bom dia, milady.-- ele sempre era gentil comigo, desde o início.
  -- bom dia, Boyle. Uma alegre manhã, principalmente com a chegada do Conde.
  Ele concordou com a cabeça.
  -- já pedi que todos estivessem aqui, já estão subindo.
  A criadagem era extremamente pontual e rigorosa com os protocolos. Todos iriam aguardar pelo senhor logo na escadaria. Assim como eu, a devota esposa.
  Não demorou muito para estarmos alinhados próximo a porta de entrada. Lady Clarisse sorria de uma forma indescritível.
  A carruagem com o brasão dos Cumberlands se aproximava cada vez mais. Aquele caminho nunca tinha sido tão longo.
  E então, parou.
  O cavalariço abriu a porta e Thomas desceu. Usava uma cartola, uma casaca elegante e os cabelos levemente desgrenhados. Levantou seu olhar pela escadaria e sorriu.

  Naquele instante, eu não sentia meu corpo funcionando mais. Estava muito feliz e ansiosa ao mesmo tempo.
  Ele subiu as escadas em nossa direção. Diretamente para mim. Segurou sua cartola nas mãos. E sorriu.
  Ignorou os demais presentes, inclusive a própria Lady Clarisse, me enlaçando para um beijo apaixonado. Sua barba roçou minha pele e seu cheiro me embriagou. Meu coração batia desesperado dentro de mim.
  Ele se afastou um pouco.
  -- senti sua falta, minha adorada...-- sussurrou para mim.
  Thomas voltou sua atenção para os presentes, cumprimentando cada um com gentileza, com um carinho especial para Lady Clarisse.
  Seguimos pelo Hall de entrada, onde seu camareiro segurou sua cartola e sua casaca.
  -- senti tanta falta de casa -- comentou, enquanto enlaçava nossos braços -- não via a hora de voltar.
  -- ah nem me diga, nada aqui tem sentido sem você -- respondi e ele se inclinou para beijo carinhoso.
  --  vamos para um lugar reservado, por favor -- sussurrou, para que Lady Clarisse não ouvisse.
  -- seria indelicado com sua tia -- respondi, mas seu olhar para mim dizia sua verdadeira intenção.
  -- ela pode esperar -- sussurrou novamente e se voltou para sua tia -- tia Clarisse, estou um pouco indisposto da viagem e preciso de um descanso. Prometo que conversaremos melhor depois.
  Ela o encarou, um pouco ultrajada. Mas apenas concordou.
  Thomas me olhou com um sorriso tranquilo e subimos as escadas devagar.
  -- acha que ela vai ficar chateada?
  -- bem, mandei buscarem Lady Clarisse na estufa, para que o recepcionasse conforme protocolos. Acredito que ela ficará magoada.
  Ele riu, apressando o passo rumo aos seus aposentos.
  -- ela vai me perdoar. Eu tenho algo mais urgente a resolver.
  Precisei andar mais rápido para acompanhar seus passos ágeis. Thomas abriu a porta dos aposentos e segurou em meu braço, fechando a porta atrás de mim.
  -- você não imagina como senti sua falta, a cada miserável noite que passei sem seu calor -- sussurrei, segurando seu rosto próximo ao meu.
  -- oh, querida...-- ele tirou a gravata e a camisa lentamente -- você realmente não tem noção do inferno que vivi longe de ti...
  Thomas me beijou de forma voraz. Suas mãos procuravam os botões de meu vestido desesperadamente. Enfim conseguiu despir-me e desceu seus beijos pelo meu pescoço, segurando meu corpo junto ao seu.
  -- vamos para a cama...-- gemi, sentindo minhas pernas enfraqueceram diante de tamanho desejo.
  -- não é necessário.
  Meu desejado esposo me empurrou em direção a uma poltrona, enquanto abria suas calças com pressa. Voltou aos beijos calorosos, segurando meu seio com ardor. Minha pele queimava e minha intimidade latejava, implorando por ele.
  Thomas me virou, ficando atrás de mim. Seus beijos pelo meu pescoço eram de arrepiar. Ele me inclinou sobre a poltrona, onde apoiei meu corpo com firmeza.
  -- oh, céus... Que saudades que estava de você -- ele sussurrou, descendo suas mãos até meus quadris.
  Antes que eu pudesse pensar, ele estava dentro de mim. Com vigor, urgência e desejo acumulado. Um gemido escapou dos meus lábios e Thomas continuou investindo contra mim.
  -- como senti sua falta... Isso é estar no paraíso...-- ele arfou, cada vez mais desesperado.
  Meu corpo arrepiava e eu tentava me apoiar com mais firmeza na poltrona, mas meus joelhos ameaçavam me trair, diante de tamanho prazer que me inundava. Eu gemia seu nome, completamente entregue a ele.
  Thomas se inclinou um pouco sobre mim, levando seus dedos até minha intimidade, pressionando o lugar exato que me fez gozar. Ele conhecia meus segredos. Conhecia o que fazia meu corpo estremecer e contrair sob sua mão.
  Ele não se demorou, logo atingiu o ápice e se afastou. Meu corpo amolecido caiu na poltrona. Thomas me pegou nos braços e me levou para a cama.
  Deitou ao meu lado.
  -- ah, meu amado... Estava quase me esquecendo de como você me conhece bem...-- sussurrei.
  -- prometo que nunca mais deixarei isso acontecer. Nunca mais vou me afastar de você dessa forma.
  -- senti tantas saudades.
  -- não houve um dia só que eu não desejei voltar para casa. Mas eu tinha um bom motivo para continuar.
  Me apoiei sobre os cotovelos.
  -- me diga como foi. Me diga se encontrou uma solução.
  Ele abriu um sorriso.
  -- encontrei mais do que uma solução.
  -- como assim?
  -- encontrei o atual lorde Pevensie. Ele vive na sua antiga casa, como desconfiava.-- ele começou a contar -- com ajuda de William, consegui marcar uma visita com ele. É um rapaz deveras jovem. Herdou tudo quando era bem moço. Segundo me contou, a propriedade estava arruinada, praticamente falida.
  Eu apenas concordei. Já imaginava isso. Meu pai tinha acabado com tudo.
  -- e então?
  -- o nome dele é Benedict. E é um jovem com a saúde muito frágil. Sua família tinha posses e o ajudou a reerguer a propriedade. Ele me disse que era um sobrinho distante de seu pai. Grande parte da administração da propriedade não está sem suas mãos, dado a sua saúde fragilizada, ele fica longos períodos acamado. O que explica ele não ter entrado em contato nem com sua mãe, nem com você. Ele perdeu os pais há pouco tempo e tem um administrador atualmente.
  -- oh céus, que vida amargurada. Ele vai comprovar parentesco comigo?
  -- ah sim. Não só vai, como já escreveu ao comitê de Privilégios. Um rapaz extremamente gentil. Porém, solitário.
  -- solitário?
  -- sim, ele está quase sempre enfermo. Então, nunca se casou. Nem possui herdeiro algum. Constrangeu-me a ficar alguns dias com ele na propriedade. Teve alguns dias de bom ânimo.
  Fiquei pensativa. Que destino triste o jovem Benedict tinha! Thomas era gentil de ter ficado alguns dias com o pobre moço.
  -- estou feliz por ter encontrado uma solução. Porém muito triste pelo jovem Benedict.
  -- oh, sim. O pobre lorde vive sozinho e recluso na propriedade, com apenas seus administradores como companhia. Ele pediu que transmitisse as suas desculpas.
  -- desculpas?
  -- ele queria ter oferecido alguma ajuda a sua mãe, porém não a encontrou. E devido a sua doença, dependia de terceiros. Todavia, Benedict quer reparar o mal entendido, então escreveu ao comitê explicando que você realmente é uma prima dele, e pode ostentar o sobrenome Pevensie novamente, visto que já não é mais uma vergonha no Condado.
  Thomas segurou as minhas mãos e meus olhos se inundaram de lágrimas teimosas. O jovem Benedict tinha tirado o sobrenome da lama. Ele tinha orgulho da propriedade. E eu não estava humilhada diante do comitê de Privilégios.
  -- como está Pevensie House?-- perguntei, emocionada.
  -- tem uma linda figueira bem na entrada da propriedade e um caminho de pedregulhos até a casa grande.
  Conforme Thomas dizia, minha mente ilustrava a propriedade, realmente como eu me lembrava de minha infância. Saudades de Pevensie House!
  Procurei seu abraço para um conforto. Toda a sensibilidade que havia em mim precisava se esvair de alguma forma.
  Thomas me abraçou e ficou em silêncio por uns instantes.
  -- vejo que tem estado sensível -- ele comentou, beijando minha testa carinhosamente -- muita informação de uma só vez?
  -- muitas informações...-- concordei, sorrindo.
  Mas não era isso. Toda aquela sensibilidade estava envolvida com outro assunto. Assunto que Thomas precisava saber e eu não fazia ideia de como contar.
  Suspirei.
  Não podia adiar.
  -- Thomas...-- comecei, entrelaçando os dedos.
  -- diga, minha querida.
  -- tenho algo a lhe contar.
  -- oh, pois então, me conte.
  -- quando esteve fora, eu estive apresentando sintomas -- comecei a contar, meio confusa e ansiosa --cai de cama e temia que fosse alguma doença grave. Então, Lady Clarisse chamou o médico.
  -- o médico? E o que era?-- ele se assustou, se aproximando.
  -- o doutor me examinou e me deu o diagnóstico.
  Thomas me encarou sem sequer piscar.
  -- estou esperando um bebê. -- as palavras saíram de minha boca como se tivessem vida própria.
  Ele levou alguns segundos para processar a informação. Suas feições de preocupação deram lugar a um sorriso animado.
  -- isso é algum tipo de brincadeira...
  -- não é uma brincadeira, meu amor.
  -- tem certeza?
  -- o médico da família me deu esse diagnóstico. De qualquer forma, percebi minhas roupas justas nos quadris...
  Ele me abraçou. Um abraço firme e decidido.
  -- não sabe como estou feliz -- ele sussurrou, beijando a curva do meu pescoço.
  -- não via a hora de você voltar. Ninguém sabe. Quero dizer, Maeve deve saber. Mas eu não contei a ninguém.
  Ele sorriu, desceu as mãos pelo meu abdômen.
  -- realmente, parece que há uma saliência por aqui. Oh, céus! Um herdeiro a caminho!-- ele exclamou, animado.
  -- sim, um herdeiro.
  -- sabe o que mais o jovem Benedict me falou?
  -- o que?
  -- ele não tem herdeiros. Nenhum em vista. Ele deixou em testamento que o herdeiro das propriedades Pevensie seria o seu filho, ou filha. Como forma de reparação pelo seu sofrimento, Pevensie House voltará para você.
  Levei uma mão a boca. E depois ao ventre.
  Lágrimas escorreram pelo meu rosto e meu adorado marido me abraçou. Seu abraço forte me trazia segurança e paixão.
  Oh, Deus, como sentira falta dele!

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