Noite de Núpcias

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  A carruagem sacolejava pela estrada, rumo ao porto de Ipswich, onde o navio iria partir. O sol começava a descer no horizonte e as palmas de minhas mãos estavam suadas.
  Thomas estava bem vestido e em silêncio, olhava pela janela. Provavelmente estava evitando me olhar nos olhos.
  Eu sabia porque. Estava evitando abrir a minha boca ali pelo mesmo motivo.
  Estávamos a sós na nossa carruagem, visto que Maeve e Ted seguiam na outra carruagem. A tensão entre nós estava palpável naquele momento.
  Inconscientemente, comecei a ter lembranças de todas as vezes que eu tive o privilégio de beijar seus lábios. Várias memórias que me faziam engolir em seco.
  Meu corpo se lembrou exatamente da sensação de seus lábios nos meus, seus braços ao redor da minha cintura e da paixão que exalava entre nós dois.
  Meu coração aumentou o compasso, conforme estávamos próximos ao porto.
  Um percurso relativamente curto, mas aquela tensão fez tudo ficar lento, como se eu estivesse presa em um feitiço do tempo.
  Finalmente avistamos o porto, assim como o grande navio a vapor que estava atracado no cais. Uma grande movimentação indicava que ele em breve iria zarpar.
  Nossa carruagem seguiu até o posto de embarque da primeira classe, onde descemos para o check in.
  Thomas foi prontamente reconhecido e, consequentemente, eu também. Várias reverências, cumprimentos e respeito. As vantagens de ser um nobre reservava a preferência em todos os lugares.
  Não houve filas para nós.
  Apenas subimos a bordo, sendo acompanhados por comissários bem vestidos e extremamente gentis.
  Maeve e Ted ficaram para acompanhar o embarque das nossas bagagens, que deveriam ser levadas a nossa cabine.
  Os comissários nos conduziram a primeira classe, onde vários nobres estavam a vontade, no saguão. Taças de champanhe e aperitivos foram servidos.
  Eu seguia Thomas, completamente deslumbrada com o luxo e a ordem. Não estava preparada para aquilo.
  O convés superior era amplo e bem decorado, também bem servido por serviçais dedicados.
  Segurei minha taça com firmeza, enquanto entrelacei meu braço ao de Thomas. Ele ficava a maior parte do tempo em silêncio, respondendo apenas o necessário.
  Conhecemos o convés e a ala da primeira classe. O navio zarpou no tempo exato e ficamos olhando o porto diminuir no horizonte.
  -- o que acha da vista, minha querida esposa?-- ele enfim comentou, quando o por do sol trazia as baixas temperaturas.
  -- de tirar o fôlego.
  -- o jantar será servido no restaurante da primeira classe. Então podemos ir conhecer nossa cabine agora e depois voltamos para o jantar.-- ele sugeriu, me conduzindo pelo convés.
  -- excelente ideia.
  Caminhamos até às cabines da primeira classe. Ted e Maeve estavam a postos na porta da nossa, nos esperando com elegância.
  -- boa noite, vossas graças -- Ted cumprimentou, abrindo a porta para nós -- sua cabine conjugada e com vista para o mar, milorde.
  -- excelente, ted.-- ele respondeu, permitindo que eu entrasse primeiro.
  Assim que entrou, fechou a porta atrás de si. E veio até mim, me pegando desprevenida. Segurou minha cintura, me puxando para si, com beijos acalorados.
  Eu fiquei sem ar, mas completamente embriagada. Thomas desceu pelo meu pescoço com beijos e meu corpo arrepiou sob seus toques audaciosos.
  -- enfim sós -- ele sussurrou, diminuindo as carícias.
  -- sim, enfim -- respondi, conseguindo respirar enquanto meu coração batia desesperado dentro de mim.
  Ele olhou ao redor. E eu o imitei.
  Uma cabine confortável, bem menor do que os aposentos de Cumberland's Hall, mas era incrível. A decoração náutica era o charme. Tinha um armário espaçoso, uma escrivaninha e duas poltronas. Passei pela porta, caminhando pelo lugar.
  O quarto possuía um cama grande e confortável, uma janela com vista para o mar e belas cortinas. Uma outra porta levava ao banheiro, pequeno e intimista.
  Continuei explorando o lugar, enquanto Thomas verificava se as malas estavam todas ali.
  Vi então, uma nova porta.
  Abri com cuidado e me surpreendi com o que vi. Era outro quarto, igualmente aconchegante, conjugado. No mesmo instante pensei, Thomas e eu não dividiriamos o leito, e esse era o costume.
  Senti uma ponta de decepção, mas não me afligi com aquilo.
  Minhas malas estavam todas ali, todas as minhas coisas. Maeve tinha sido atenciosa e deixado tudo preparado.
  Certamente eu me trocaria para o jantar e ela precisaria estar ali comigo, por isso me aguardava no corredor.
  Voltei para a pequena sala, onde Thomas estava checando suas coisas.
  -- devo me arrumar para o jantar. Maeve está no corredor a minha espera -- informei, sentindo meu rosto arder.
  -- tudo bem. Eu também vou me preparar e desceremos em seguida.-- ele respondeu, me olhando com paixão.
  Fui chamar Maeve para me vestir e me arrumar. Ela entrou em silêncio e foi para o quarto conjugado. O meu quarto, no caso.
  Maeve tinha trazido vestidos lindos e casacos quentes. Tinha pensando em tudo. Minhas jóias estavam ali e ela me arrumava com carinho.
  -- você estudou para ser camareira, Maeve?-- perguntei, quebrando o silêncio constrangedor que estava ali.
  -- sim. Infelizmente em Cumberland's Hall só tinha vaga para uma camareira de Lady. Então me satisfiz com o cargo de arrumadeira. É melhor ser criada em Cumberland's Hall do que camareira de Lady em qualquer outro lugar -- ela me explicou, atenciosamente.
  -- então está feliz com seu trabalho?
  -- sim, estou. -- ela sorriu, terminando de colocar o diadema entre meus cabelos -- e por que não estaria? Estou indo para Sicília!
  -- isso ainda é pouco, para recompensar sua lealdade -- respondi, verdadeiramente grata.
  -- Vossa Graça, é o meu trabalho.-- ela respondeu, me trazendo o xale de pele e colocando sobre meus ombros.

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