O Lago

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  Depois daquela semana dedicada aquela pintura, Thomas passou grande parte de seu tempo no seu escritório e fiscalizando o final das obras do jardim. Depois do nosso abraço inesperado, ele simplesmente deixou de me solicitar na sala de artes.
  Eu, no entanto, Fiquei planejando nossos exercícios de pintura para ele, na esperança de ser convidada novamente.
  Eu participava de todas as refeições na mesa, com o Conde e com a Lady Clarisse, que estava cada dia mais desconfiada de que havia algo entre nós. Porém, na mesa, Thomas se recolhia em dizer o mínimo possível. Talvez até era um pouco indiferente.
  Evitei o máximo cruzar com algum criados, passando grande parte do meu dia em meu quarto. Fiquei um pouco chateada com o afastamento de Thomas, mas compreendi que ele estava ocupado com seus próprios afazeres.

  Apenas na semana do grande baile, ele mandou me chamar. Eu não ousei demorar nenhum instante. Corri até a sala de artes imediatamente.
  -- com licença, vossa graça,mandou me chamar?-- anunciei, entrando educadamente.
  Thomas estava no meio da sala, com um papel nas mãos. Ele levantou seu olhar em minha direção e abriu um breve sorriso.
  -- foi rápida, devo admitir -- ele comentou, vindo em minha direção.
  -- ao seu dispor, vossa graça.
  -- sexta feira será o baile, Amélia. Conforme sugeriu, ao entardecer.-- ele informou, me entregando o papel com o planejamento do baile -- Lady Clarisse contratou outra governanta, então não se preocupe. Não estou te mostrando isso, pensando que vai trabalhar com a organização de nada.
  -- entendo.
  -- gostaria que estivesse comigo durante o baile -- ele continuou, despreocupado.
  -- eu?-- eu me assustei, confusa.
  -- sim, você, Amélia. Gostaria que fosse minha acompanhante.
  -- mas eu sou apenas...
  -- você é minha assistente pessoal -- ele interrompeu, firme -- você não é mais uma criada aqui. Eu gostaria que me acompanhasse nesse evento. Onde vou apresentar minha mansão para os convidados, inclusive essa Galeria de artes, que me ajudou a organizar.
  -- sim, mi lorde, como desejar -- eu respondi concordando, mas estava completamente atordoada.

  O que pensariam ao virem nós dois juntos no baile?
  Eu estava ciente dos comentários e suspeitas. E embora não tivesse saído da mansão naqueles dias, tinha uma leve certeza de que meu nome estaria na boca dos criados no mercado.
  -- só há um problema, mi lorde -- eu continuei, um pouco constrangida.
  -- ora, pois então me diga.-- ele indagou, impaciente.
  -- eu não tenho nenhum vestido a altura de um baile desses, mi lorde.
  -- oh, isso não chega a ser um problema. Tia Clarisse tem suas costureiras de confiança, que trabalham para ela há anos. Vou pedir que façam vestidos para você também. -- ele resolveu, um pouco agitado -- e se você se referir a mim, com "mi lorde" mais uma vez, eu lhe asseguro que me verá irritado.
  -- oh, eu sinto muito -- eu me desculpei, baixando a cabeça enquanto um rubor incontrolável subir ao meu rosto.
  -- Amélia, por favor. -- ele insistiu, inclinando a cabeça -- o que eu tenho que fazer para que veja que eu não estou aqui para ser o seu senhor?
  Eu não respondi. Ele tinha dado alguns passos em minha direção e sua proximidade me deixava extasiada.
  -- estávamos indo bem -- ele continuou, umidecendo os lábios de uma forma que me fazia queimar -- o que mudou?
  -- você não me solicitou nenhuma vez mais. Pensei que algo tinha mudado entre nós -- eu me expliquei, um pouco sem ar pela sua presença intimidadora.
  -- peço desculpas por isso, Amélia. A pintura teve que esperar. Eu estive ocupado com muitos afazeres. Mas não pense que se livrou de mim. Logo após o baile, retornaremos.
  -- oh, sim. Estou ansiosa.
  Ele piscou, me olhando como se quisesse dizer alguma coisa.
  -- posso perguntar uma coisa?-- eu perguntei, disfarçando a atração que surgia.
  -- qualquer coisa.
  -- terei que dançar?
  Thomas deu uma risada sincera.
  -- comigo? Não. Graças a algum bastardo francês, eu não sou mais obrigado a participar dessa tortura-- ele se explicou, rindo -- mas se quiser dançar com os cavalheiros convidados, fique a vontade.
  Senti o rubor subir ao meu rosto enquanto eu ria de nervoso.
  -- fico aliviada. Não danço há anos. Acho que não me lembraria como é.
  -- oh, que pena. Eu não sinto a menor falta.

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