Infortúnio no jardim

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  No dia seguinte, William partiu. Com muito choro e preocupação da parte das mulheres. Pois ele manteve sua postura e foi embora como um cavalheiro.
  O casamento de Mary e Ethan foi marcado para dali três meses. Seria uma grande festa em outubro, e toda a alta sociedade estava agitada por causa deles.
  Lady Caroline de dedicava com os preparativos do casamento, para evitar pensar em William, que estava na França.
  Louis seguia viajando a negócios, tinha ficado responsável por tudo, na ausência de seu irmão. Eu agradecia muito, pois sua presença em casa era incômoda para mim.
  Conforme as semanas se passaram, a agonia da espera de notícias de William e Thomas me fazia sofrer. Secretamente, em meu quarto, eu rezava e chorava para que Deus guardasse os dois naquela guerra.
  Mas eu precisava manter as aparências e minha postura, para que ninguém soubesse sobre Thomas.

  Quando outubro finalmente chegou, os Fersnby vieram para o casamento uma semana antes. Assim como Louis.
  As duas famílias completas, com exceção de William. Prontas para comemorar o enlace entre seus filhos.
  A estadia deles estava cercada de luxo, seus aposentos sempre impecáveis. Eu tinha ficado responsável pela companhia de Sophie e Hellen, mas às vezes precisava preparar seus aposentos quando acordavam também.
  A criadagem ficou sobrecarregada com tantos hóspedes. Afinal, Ethan era o mais velho de nove irmãos. A casa ficou cheia de crianças e adolescentes, agitados e à procura do que fazer ali.
  De acordo com o que ouvimos, os Fersnby tinham uma propriedade à beira da praia em Great Yarmouth, ao sul de Norfolk.
  Tinham uma fortuna razoavelmente grande, visto que Lorde Bennet concordou com esse casamento sem pensar duas vezes.
  E Mary estava ansiosa por mudar para o litoral. Tínhamos terminado de bordar seus enxovais e estava tudo preparado.
Só nos restava aguardar o casamento.

  E esse dia chegou com uma festa maravilhosa e de grandes proporções.   Nunca antes eu tinha visto um baile como aquele. Haviam banquetes e uma orquestra, estava presente toda a nobreza do Condado.
  Eu tive trabalho como nunca.
  Estava ocupada demais para sequer chorar de saudades de Thomas. Afinal, eu precisava trabalhar.
  Enquanto todos dançavam alegremente, meu corpo dóia de cansaço. Eu via sorrisos e conversas animadas, moças felizes, rapazes apaixonados. E fui sentindo uma tristeza sem tamanho.
  Aproveitei que as moças estavam juntas, e me afastei um pouco para respirar. Sentei-me onde podia descansar, pelo menos por um instante.
  Os jardins sempre eram um lugar maravilhoso para arejar a mente e deixar o choro sair. Depois de algumas lágrimas de saudades, imaginando como seria o meu casamento, consegui me tranquilizar.
  Tirei o relógio de meu bolso e fiquei olhando para ele por alguns minutos, não sei quantos. Então ouvi passos se aproximando.
  - belo relógio - a voz de Louis soou ao meu ouvido, de forma sarcástica, me causando um frio na barriga.
  Eu não respondi, pois o medo me invadiu. Olhei ao redor e não havia ninguém por perto. Era o meu pesadelo se realizando: eu estava a sós com Louis.
  - se estou certo, esse relógio pertenceu a Thomas Cumberland - e continuou a falar, se aproximando de mim.
  - sim.
  - eu ouvi Thomas comentando com William, que ele estaria interessado em você. Agora vejo que é verdade.-- ele murmurou, em um tom ameaçador. - eu só não entendo por que.
  Eu me levantei, planejando escapar. Meu corpo se preparava para fugir, pois o medo tomava conta de mim. Procurei com o olhar o caminho mais fácil para fugir dele.
  - você vive se esgueirando, fugindo de mim pelos corredores, Amélia...- ele me seguiu, ainda ameaçador - e não tem nenhuma objeção em se oferecer a um hóspede de minha casa!
  Louis iria me fazer mal. Eu percebi sua postura agressiva e suas palavras duras. Precisava vencer o medo e correr dali o mais rápido possível.
  Quando me movi, ele segurou meu braço violentamente. Não tinha como eu ser mais rápida do que ele, com aqueles calçados desconfortáveis e o vestido bufante.
  - me solte!-- gritei, desesperada.
  - escute só, sua vadiazinha! Você é uma criada aqui! Deve obediência! Não pense que eu vou deixar isso passar!-- ele ameaçou, apertando ainda mais os meus braços - eu não iria te forçar a nada, sua vadiazinha! Mas você se atreveu a se oferecer a um hóspede, na minha casa, sob meu nariz!
  Eu gritei por socorro e rapidamente ele segurou minha boca com força. O desespero tomou conta de mim e comecei a me debater violentamente para tentar escapar.
  Meu pior pesadelo se tornou real, quando percebi que seria impossível escapar de seus fortes braços. Ele forçou um beijo, enquanto eu tentava me soltar.      Com uma de suas mãos, ele agarrou o decote do meu vestido e rasgou, expondo minha pele.
  Eu consegui gritar novamente, completamente apavorada. Precisava lutar pela minha vida e minha dignidade.
  De repente, algumas pessoas se aproximaram, pois foram atraídas pelos meus gritos, e logo foram chamando por ajuda. Louis se assustou, me jogou no chão e saiu correndo.
  Eu estava em lágrimas, tentando me recompor. Uma dama veio até mim, oferecendo um xale para que eu cobrisse meu colo exposto. Por pouco, meus seios estavam à mostra.
  - se acalme, querida - ela sussurrou, me ajudando a levantar.
  Alguns cavalheiros se aproximaram também. E como no pior dos meus pesadelos, uma pequena multidão se reuniu ao meu redor. As damas comentavam sobre um atentado ao pudor e outras um abuso, no meio do jardim.
  Lady Caroline Bennet apareceu entre as pessoas, desesperada. Eu já tinha conseguido parar de chorar, mas quando a vi, as lágrimas tornaram a cair.
  - oh, minha querida Amélia!-- ela exclamou, me abraçando - o que aconteceu contigo?
  Eu só conseguia chorar, de culpa e de vergonha. Meu rosto queimava e eu só queria me esconder. Todas aquelas pessoas estavam assistindo a minha ruína.
  Minha reputação estava acabada. Toda a sociedade estava assistindo enquanto eu me cobria com o xale e chorava, no meio do jardim.
  - nós ouvimos gritos e viemos aqui, lady Bennet. Tinha um rapaz agarrando a moça - a dama que tinha me ajudado explicou, solidária - ele rasgou as roupas dela, pobrezinha.

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