Na manhã seguinte, enquanto eu planejava o cardápio do fim de semana, pois já era quinta feira, Polly e Alfred me olhavam estranho. Continuei meu trabalho, tentando ignorar os dois, mas era impossível.
-- aqui está o cardápio. Por favor, me diga o que está faltando na dispensa. Pois irei ao mercado mais tarde e já comprarei tudo o que falta -- comuniquei, entregando a eles o papel com a lista.
-- tudo bem -- Alfred respondeu, pegando o papel de minha mão, e lendo rapidamente.
-- quem irá te levar ao mercado, Amélia?-- perguntou Polly, curiosa.
-- eu acredito que Ted irá me acompanhar, por que a pergunta?
-- ouvi Boyle chamar os cavalariços, dizendo que o Conde irá até a cidade hoje. Pensei que ia com ele.-- ela informou, curiosa por uma resposta minha.
-- bom, ao contrário do que vocês pensam, eu não conheço o itinerário do Conde.-- rebati, um pouco irritada.
-- de qualquer forma, cara Amélia, devia aproveitar a carona -- comentou Alfred, me devolvendo a lista com alguns itens anotados -- hoje os fornecedores do campo vem trazer as encomendas, então restam poucas coisas do mercado.
-- obrigada, Alfred. -- respondi, saindo da cozinha.
Essa marcação da parte deles estava pesada. Polly não iria desistir de me irritar sobre isso. Ela imediatamente desenvolveu um amor platônico por Thomas, e queria que alguém realizasse as suas fantasias.
Terminei de delegar algumas tarefas, incluindo levar o cavalete de pintura para a varanda da sacada da sala de arte. Os criados já estavam acostumados ao me ver passando pelos corredores, e logo saiam a procura de algo para fazer.No hall de entrada, Lucy estava tirando o pó dos aparadores, enquanto Boyle contava algo a ela. Não sei dizer o que, pois ele parou imediatamente, quando me viu.
-- bom dia, Boyle. Bom dia, Lucy.-- cumprimentei ambos, educadamente.
-- bom dia, Amélia -- Lucy respondeu, e logo se dedicou a limpar novamente.
-- bom dia, Amélia. Como vai?-- Boyle saudou, me olhando com um olhar malicioso, o que me fez pensar que a conversa da noite anterior tinha chegado aos seus ouvidos.
-- mande Ted preparar uma carruagem para nós. iremos ao mercado.-- informei, evitando o máximo outro assunto com ele.
-- Conde Cumberland acabou de solicitar uma carruagem, Amélia. Deveria ir com ele, assim não retiraria Ted de seu trabalho.
-- aposto que o Conde tem muitos afazeres na cidade e não vai querer minha companhia -- rebati, sentindo um constrangimento tomar conta de mim.
-- eu não me importaria -- Thomas interrompeu, se aproximando elegantemente.
Meu corpo todo foi invadido por uma sensação estranha, sua presença fez meu coração disparar.
-- eu não tenho muitos afazeres e, se não se importar, eu apreciaria sua companhia -- ele continuou, fazendo com que minha sanidade me deixasse e eu fiquei incapaz de dizer algo -- não irei demorar, eu prometo. Porém, gostaria de partir o mais breve possível.
-- está ouvindo, Amélia? Como eu disse, deveria ir com o Conde.-- provocou Boyle, com um sorriso falso.
Eu engoli em seco, lutando para voltar a minha sã consciência.
-- sim, vossa graça, se assim deseja. Irei contigo -- respondi, baixando o olhar, evitando olhar para seu rosto maravilhoso e sedutor.
-- excelente, vou ver se está tudo pronto -- ele caminhou alguns passos e Boyle abriu a porta para que ele saísse.
Voltei para a cozinha, procurando meu chapéu e minhas luvas. Não era habituada as formalidades das damas, mas quando saía em público, fazia questão de cumprir todos os protocolos.
Peguei também minha cesta, para comprar os itens necessários da semana. Respirei fundo enquanto caminhava para o hall de entrada, onde Boyle estava me esperando com um sorriso nos lábios.
-- vossa graça te aguarda.-- ele informou, um pouco sarcástico.
-- tenha um bom dia, Boyle.
-- e a senhorita, tenha uma boa viagem.
Eu não me dei o trabalho de responder e ele abriu a porta para mim. Thomas na aguardava no topo da escadaria, as mãos unidas atrás do corpo, cartola na cabeça, com sua postura impecável.
Precisei respirar fundo para reunir forças de ir até ele. Thomas se virou e estendeu a mão para mim.
-- está pronta?-- perguntou, abrindo um breve sorriso.
-- sim, vossa graça.
Descemos as escadas e a carruagem já estava pronta a nossa espera. Porém, minha atenção estava voltada para nossas mãos unidas, e mesmo sob a luva, eu podia sentir seu toque quente.
Aquilo era uma tortura.
Eu ainda o amava. Eu me lembrava de tudo. Ele segurava minha mão enquanto descíamos os degraus como se não tivéssemos nos beijado, apaixonadamente alguns anos atrás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre As Memórias E Os Pincéis
RomanceA história de Amélia Pevensie, uma jovem criada de uma casa de família, que conhece o apaixonante Lorde Cumberland na sua adolescência. Uma breve paixão arrebatadora inunda seus corações, mas infelizmente o destino os afasta sem piedade. Sete an...