Resposta

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  Os dias que se seguiram foram cheios de bailes, jantares e recebendo visitantes em Cumberland's Hall. Resultado da minha recente ascensão na sociedade, todos queriam receber o Conde e a Condessa em suas recepções.
  Era tudo muito luxuoso e trivial.
  Horas e horas de conversas aleatórias em banquetes, algumas danças animadas e piquenique ao ar livre.
  A principal vantagem era a companhia de Thomas. Que, a cada dia, estava mais apaixonado por mim. Com um exagero de demonstração, ele me fazia sentir a mulher mais sortuda do mundo. E de fato eu era.

  Em Cumberland's Hall, Lady Clarisse me cercava de cuidados. Nossas caminhadas matinais pelo eram sagradas. Logo que eu voltava para casa, ela ia se encontrar com Fitzwilliam Moore.
  As vezes, ela me contava o que tanto fazia na estufa: recuperava o tempo perdido. Fitzwilliam viveu uma vida solitária enquanto esperava por ela. Iria aproveitar cada segundo ao lado dela.
  Mesmo que ela tentava esconder, a criadagem estava ciente do que estava acontecendo. Assim como os demais jardineiros.
  Entretanto, minhas ordens eram para manterem a descrição e fingirem que não estavam sabendo de nada.
  Lady Clarisse era uma mulher elegante e não merecia se sentir envergonhada por estar sendo feliz.
  Ela abandonou os vestidos de luto e usava amarelo na maior parte do tempo. Por incrível que pareça, ela ficava muito bem de amarelo.
  Fitzwilliam Moore voltou a enviar narcisos para Cumberland's Hall. Desde o primeiro vaso de flor, no Hall de entrada da mansão, ele exibia seus preciosos narcisos.

  Quando eu visitava os aposentos de Lady Clarisse, podia ver que os narcisos estavam ali também.
  -- o amarelo traz uma alegria a esses aposentos, Lady Clarisse -- comentei, observando ao redor enquanto tomava uma xícara de chá.
  -- oh, são lindos, não são?-- ela sorriu, olhando para as flores.
  -- são sim. Foi o senhor Moore quem mandou?
  Ela concordou, com um sorriso discreto.
  -- plantamos um canteiro todo de petúnias ontem. Quando finalmente florescerem, você vai amar, Amélia.
  -- tenho certeza disso. Gosto de petúnias nos vasos dos meus aposentos.
  Lady Clarisse concordou com a cabeça e não disse nada. Ficou em silêncio por uns instantes e perguntou, mudando de assunto:
  -- teve novidades do Comitê de Privilégios?
  -- ainda não. Por que a preocupação?
  -- ora, Amélia... Ninguém fica despreocupado quando o Comitê de Privilégios está pressionando.
  -- eu sei. Mas o Lorde Pevensie já escreveu a eles. Então, acredito que esteja quase tudo resolvido.
  Ela colocou sua xícara na mesinha próxima. Em seguida, esfregou suas mãos, de forma ansiosa.
  -- algo mais a preocupa?-- questionei.
  -- Fitzwilliam, bem... Ele finalmente...-- ela hesitou, com certo receio.
  -- sabe que pode confiar em mim.
  -- sei sim. Bem, Amélia... Fitzwilliam me pediu em casamento.
  A surpresa que senti me causou um sorriso sincero.
  -- casamento?
  -- sim. Temos passado algum tempo juntos, desde nosso reencontro. O que foi mais do que necessário para que chegasse a essa conclusão. Amélia, já perdemos muito tempo.
  Sua explicação foi sucinta e cheia de sentimento. Ela me olhou com sinceridade, e em seus olhos eu vi a emoção que ela tentava esconder.
  -- fico feliz por vocês, Lady Clarisse. Senhor Moore me pareceu muito apaixonado por ti.
  Ela deu um risinho tímido.
  -- eu quero que seja feliz. Mais do que qualquer coisa.
  -- e eu estou feliz, Amélia. Ele me esperou por décadas. Eu estou aqui agora. Viúva. Desimpedida. Eu quero aceitar o pedido dele.
  -- então deve fazê-lo.
  -- todavia, temo a intromissão do Comitê. Estou aguardando o desfecho da sua situação.
  -- eu juro que será a primeira a saber, quando chegar alguma notícia.
  -- eu sei, acredito em você.
  Ela alisou o tecido do vestido, pensativa.
  -- talvez tenha que deixar Cumberland's Hall.
  Eu me espantei com sua fala. Não esperava que dissesse algo assim.
  -- o que diz, Lady Clarisse?
  -- a nobreza jamais aceitaria ver a Condessa Viúva casada com um jardineiro, Amélia. Você sabe bem disso. Talvez eu tenha que ir embora.
  -- ir embora de Cumberland's Hall?
  -- ir embora de Suffolk.
  -- Lady Clarisse, te peço que me poupe disso. Na verdade, eu imploro. Não suportaria que nos deixasse.-- eu lamentei, angustiada.
  Lady Clarisse ficou em silêncio, baixou seu olhar de forma dolorida.
  -- apenas a menção de uma situação dessas, me traz angústia e sofrimento. Não ouse dizer nada desse tipo novamente.-- implorei, com a voz falhando.
  -- Amélia, minha querida...-- ela começou, um tanto calma -- Fitzwilliam não me pediu isso, ele não pediria jamais. Entretanto, se for a única solução para ficarmos juntos, eu farei isso sem pensar duas vezes.
  -- Lady Clarisse...-- minha voz saiu num lamento, como um choro embargado.
  -- eu não posso desistir do meu amor, Amélia. Não de novo. Não, quando tive essa chance de fazer tudo diferente. Eu escolherei Fitzwilliam.
  Seus olhos eram tão sinceros quanto suas palavras. E eu a compreendi. Verdadeiramente. Me levantei do meu lugar e me ajoelhei aos seus pés.
  Ela segurou minhas mãos enquanto algumas lágrimas escorriam.
  -- sentirei sua falta.
  -- eu também.
  Deitei minha cabeça em seus joelhos. E deixei que meu choro escorresse. Ela acariciou meus cabelos carinhosamente e eu pude ouvir que ela também chorava.
  Fiquei ali, no seu colo, apoiando sua decisão. E sendo consolada pela angústia que me assolava.
  Lady Clarisse era minha família. Imaginar Cumberland's Hall sem ela, era como imaginar Thomas sem sua arte. Não fazia sentido.
  Eu não queria que ela partisse jamais. Desejava que ela estivesse comigo até o fim de seus dias. Tínhamos muito o que conversar ainda.
  Mas aquela decisão cabia somente a ela.
  E Ela tinha escolhido seu amor.
  A mim, só restava o apoio incondicional que eu lhe devia. A felicidade de Lady Clarisse era o que mais importava.

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