Desavença do Destino

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  Após uma breve conversa com lady Caroline, deixei claro que não tinha interesse nenhum em me casar com Louis. Pelo contrário, eu o queria bem longe.
  No dia seguinte, ele partiu para Manchester. Onde cuidaria dos negócios de seu pai. Lorde Richard enviou com ele um guarda costas, que seria responsável por ficar de olho em tudo que ele fizesse.
Louis não poderia dar nenhum passo em falso.
  A surra que ele tinha levado era um aviso do que lhe aconteceria, se cometesse algum erro.
  Fiquei mais aliviada com sua partida.
Mas também, sentia um medo tomar conta de mim, quando precisava sair de casa.
  Mary partiu com seu marido para o litoral e eu fiquei responsável por ser a dama de companhia de Sophie.
  Ela também logo iria procurar um marido, estava com dezesseis anos e muito ansiosa por debutar em bailes e festas. Sophie era uma moça muito doce e fina, não iria demorar a conseguir um marido.
  Todas as vezes que eu precisava acompanhar Sophie a algum lugar, sentia meu coração apertado. Uma angústia tomava conta de mim e a vergonha de estar em público me invadia.
  Às vezes, ouvia burburinhos sobre o que tinha acontecido. Principalmente em bailes movimentados. Sempre tinha um mal-amado para relembrar o ocorrido.
  Eu precisava ter autocontrole para não chorar. Pois o sentimento de vergonha era desastroso dentro de mim.
Norwich era uma cidade preconceituosa e não era difícil encontrar alguém que me olhasse torto.
  Algumas más línguas aumentaram a história, chegaram a dizer que Louis tinha conseguido o que queria de mim, piorando ainda mais a minha situação.
  Lady Caroline percebeu meu desconforto ao sair em público e pediu que eu não saísse mais, enquanto não estivesse pronta.
  Minha função voltou a ser camareira.

  Os meses se passaram e o ano terminou, o inverno não tinha sido muito rigoroso e tudo corria bem.
  Quero dizer, na medida do possível.
  Lorde Richard não recebia nenhuma notícia de William e isso encheu a casa de tristeza. Eles temiam pela vida do filho. Assim como eu temia pela vida de Thomas.

  Mas em março, quando o inverno estava passando, eu estava ajudando a pequena Hellen a se vestir, quando ouvi gritos no hall de entrada.
  Desci imediatamente as escadas.
O mensageiro trazia uma carta a Lorde Richard. Todos se reuniram para ele ler a carta em voz alta:
  -"Caro Lorde Richard Bennet, é com grande honra que lhe comunicamos que seu filho William Francis Bennet foi dispensado do Exército de Vossa Majestade. Ele embarcou na França para seu retorno. Agradecemos por tudo que ele fez por nosso país".
  Lady Caroline se lançou ao pescoço do marido, exultando de alegria. Sophie e Hellen se uniram ao abraço.
Senti que meu peito iria explodir de tanta alegria. William estaria de volta em breve.
  Nossas preces tinham sido ouvidas.

  Os dias passaram rápido, creio que por conta da agitação que tomou conta de todos. Mary foi avisada sobre o retorno do irmão e rapidamente veio para casa.
  Ela parecia muito feliz com sua vida de casada. Chegou sorrindo em sua carruagem, de braços dados com seu esposo.
  Depois de cumprimentar a sua família, ela me chamou em seus aposentos.
Entrei, timidamente.
  - oh, Amélia!-- ela exclamou, animada em me ver.
  - como está, Mary? Parece bem feliz.
  - sim, muito feliz.-- ela me abraçou, sorridente.
  - que bom, minha querida...
- e você, Amélia? Pensei que fosse aceitar a proposta de meu pai para se casar com Louis.
  - eu jamais faria isso.
  Mary me olhou com carinho.
  - por que nunca me contou sobre o tal Cumberland? Pensei que fossemos amigas.
  - oh, Mary. Eu sinto muito. Combinamos que iria esperar ele voltar da França.
  Ela novamente me olhou, forçando um sorriso.
  - me conte como aconteceu.-- ela perguntou, sinalizando para que eu me sentasse ao seu lado.
  - lembra da Ópera de Mozart, que vocês me arrastaram em Norwich, no ano passado?
  - depois teve um baile, não foi? Me lembro sim.
  - Nós nos conhecemos naquele baile. Ele me confundiu com uma lady.
  Nós duas rimos. Senti meu coração se aquecer porque não tinha tido a oportunidade de conversar sobre nós dois com ninguém. Eu não tinha ninguém em quem pudesse confidenciar os sentimentos que reinavam em meu coração e nem ao menos as ansiedades que me afligiram.
  - e depois ele apareceu aqui em casa?
  - sim. Ele era amigo de William e se convidou para vir até aqui. Ele me disse que veio só para me ver.
  - oh, Amélia! Que romântico!
  - sim. Ele pedia que levasse o desjejum em seu quarto apenas para nós conversarmos alguns minutos.
  - oh, Amélia...- ela murmurou, sorrindo de orelha a orelha.
  - no dia da caçada, ele não quis ir. Me pediu para acompanhá-lo até o lago ao sul, pois ele iria pintar um quadro. Eu fui com ele. E ele sempre foi tão galante e gentil. Já era tarde quando ele se declarou para mim. Disse que me levaria com ele. Me jurou amor.
  - e então?-- Mary ficou ansiosa - o que aconteceu?
  - chegou a carta de Convocação do Exército. Ele teve que partir. Mas ele me prometeu que voltaria para me buscar.
  - oh, Amélia.. que história de amor! Eu espero que ele volte logo!
  - eu também, Mary. Eu também.
  Ficamos mais alguns minutos conversando, ela me contou sobre sua casa no litoral e sua vida de casada.   Abriu seu coração me contando o quanto amava seu marido e sua vida nova. No momento, viviam na mansão dos pais de Ethan, ela estava vivendo seu sonho.
Eu realmente fiquei muito feliz ao ver que Mary tinha encontrado seu propósito de vida.
  Ela era uma boa moça e merecia ser feliz de verdade.

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