Entre As Memórias E Os Pincéis

Eis o adeus

  Quando meus meninos completaram dois meses, Lady Clarisse e Fitzwilliam Moore se casaram. Uma cerimônia intimista, apenas em Cumberland's Hall. Sem nenhum convidado da alta sociedade. Um brunch para a família e própria criadagem. Cerimônia rápida com o padre. Vestido claro e simples. Mal dava para acreditar que era um casamento.
  -- minhas amigas jamais vão me perdoar -- ela comentou, ajeitando o delicado chapéu -- mas não posso explanar isso na alta sociedade, Amélia.
  -- sim, eu entendo.
  -- estarei partindo, mas quero que saiba -- ela segurou minhas mãos com carinho e lágrimas nos olhos -- eu voltarei. Escreverei toda semana. Virei visitá-los. Esses dois meninos vão enjoar de mim.
  Eu a abracei, antes de qualquer coisa. Eu a amava de uma forma indescritível. Quando a conheci, jamais imaginei que fosse ter um vínculo tão forte com ela.
  Deixei as lágrimas escorrerem.
  -- não posso imaginar como vai ser, sem você aqui. Mas quero que seja muito feliz com Fitzwilliam.
  -- eu serei. Espero que vá me visitar também. O ar do campo vai te fazer bem também -- ela sorriu, acariciando meu rosto.
  Thomas se aproximou e a abraçou.
  Ficaram alguns instantes abraçados. Não tinha palavras para serem ditas naquele momento. A Condessa Viúva, Lady Clarisse tinha se casado novamente. E estava partindo. A partir do casamento, Clarisse Moore.
  -- sentirei sua falta, minha tia. Em todo desjejum, almoço e jantar. E também no chá da tarde. Não pense que Cumberland's Hall será a mesma sem você -- ele confessou, ainda abraçado a ela. -- agradeço sua hospitalidade, generosidade e seu apoio incondicional. Prometo que irei te visitar em breve.
  -- oh, meu querido Thomas... Se serve de consolo, estarei sendo imensamente feliz.
  -- oh, sim. Deveras. Seja realmente feliz, minha tia.
  Lady Clarisse Moore segurou na mão do amado Fitzwilliam e ambos entraram na carruagem. Estavam partindo pra o interior. Com suas malas e pertences. Muitos narcisos.
  Onde poderiam viver até seus últimos dias sendo imensa e completamente feliz. Vivendo o amor que lhes tinha sido negado na juventude. Porém, não era tarde demais para eles.
  Thomas e eu ficamos olhando a carruagem sumir no horizonte.
  Precisei de um abraço de conforto do meu adorado marido. Por mais que estivesse me preparando para aquele momento, não estava pronta para dar adeus a ela.

  Alguns dias depois, estava eu na Galeria de Arte com meu querido Thomas, e chegou uma carta. Ele abriu imediatamente, correu os olhos sobre o papel, em silêncio.
  -- é uma carta de Pevensie House, minha querida -- ele anunciou depois, se aproximando de mim.
  -- lorde Benedict Pevensie?-- me surpreendi.
  -- sim. Ele escreve para informar que seu testamento está feito, nomeando Benjamin como seu sucessor. Por conta de sua saúde fragilizada, ele já adianta essa informação a nós, que somos os pais do herdeiro de Pevensie House. Como Alexander será o próximo Conde Cumberland, ele achou justo deixar o título e as herdades para Benjamin.
  Não segurei o sorriso. Não estava esperando uma carta de Benedict, ainda mais com esse assunto. Com todas emoções daqueles dias, tendo dois bebês em casa e a partida de Lady Clarisse, eu não tinha me preocupado com muita coisa além do necessário.
  Aquela carta me fez voltar a realidade. Benedict Pevensie tinha escrito uma carta com um assunto extremamente importante. O meu pequeno Benjamin seria seu próximo herdeiro. Precisei de alguns instantes para assimilar.
  -- Pevensie House...
  -- sim. Vai voltar para você, minha querida. Nosso filho herdará Pevensie House, um dia. E você poderá voltar lá de cabeça erguida.
  Eu o abracei. Precisei de certo esforço, por conta de sua altura. Mas eu ficava na ponta dos pés com orgulho, se fosse para beijar meu adorado marido.
  Tudo graças a ele, que tinha ido até Norfolk, procurando por um parente próximo. Encontrando assim, o jovem Benedict. Thomas não tinha medido esforço para ver um sorriso em meu rosto.
  Eu precisava beija-lo em toda oportunidade que eu tinha. Não desperdiçava nenhuma chance de sentir seu corpo quente contra o meu.
  A paixão ardia entre nós, de forma que jamais diminuia. Só aumentava. Éramos almas gêmeas e nada podia mudar isso.