O Desjejum

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  Lady Clarisse me convidou para o jantar. Eu fiquei aliviada, pois não queria olhar para meus antigos colegas de trabalho, sabendo o que todos eles pensavam sobre mim. Precisava de um momento para aceitar suas opiniões sobre mim.
  Desci para a sala de jantar, onde Lady Clarisse me esperava. Sentia uma onda de ansiedade por estar à mesa junto com meus senhores. Na mesa, ainda havia o lugar de Thomas posto, porém ele ainda não tinha chegado.
  -- boa noite, Amélia -- ela cumprimentou, sendo gentil -- fico feliz que tenha atendido ao meu pedido.
  -- é uma honra, mi Lady -- respondi, me sentando.
  A mesa estava gloriosamente organizada, exatamente como eu tinha exigido das criadas. Senti um pouco de orgulho ao ver que tudo caminhava maravilhosamente organizado, mesmo na minha ausência.
  -- Vossa graça me disse que viria jantar, então vamos esperar um pouco -- ela comentou, despreocupada -- se ele não vier, certamente avisará.
  -- sim, mi lady.
  -- Andy me contou que não está cumprindo os deveres de governanta, a pedido do Conde.-- ela apontou, curiosa.
  -- sim, ele me destituiu do cargo.
  -- oh -- ela se surpreendeu -- e com que razão?
  -- pediu que eu fosse sua assistente pessoal -- eu expliquei de uma forma fácil, para que ela não tivesse dúvidas sobre minha função -- ele está se dedicando a pintura e pediu minha ajuda.
  Lady Clarisse ergueu as sobrancelhas, tentando compreender.
  -- você pinta?
  -- não muito.
  -- vai ajudar com o que, então?-- ela indagou, ainda sem entender -- vai posar para ele?
  -- o que? Não!-- eu me defendi, segurando um riso de nervoso -- eu estava organizando a sala de artes e ele disse que tenho um olhar crítico para arte. Então quer minha opinião sobre suas técnicas e obras.
  -- ah, sim -- ela pareceu compreender, mas ainda estava um pouco confusa. -- então ele está pintando mesmo?
  -- sim, estou -- ele interrompeu, se aproximando.
  Eu não entendia como ele conseguia se aproximar do nada, sem que ninguém percebesse. Caminhava com elegância pelos corredores, de forma furtiva e sensual.
  -- boa noite, Clarisse -- ele cumprimentou, após atrair nossa atenção.
  -- oh, boa noite, vossa graça. Amélia me dizia que não é mais a governanta de Cumberland's Hall -- Lady Clarisse se explicou, um pouco envergonhada de ter sido interrompida.
  -- sim. Amélia agora trabalha comigo. -- ele concordou, se sentando elegantemente -- a propósito, boa noite, Amélia. Não sabia que jantaria conosco.
  -- boa noite, vossa graça.-- eu respondi, sentindo meu rosto corar diante de sua elegância -- Lady Clarisse me convidou.
  -- de qualquer forma, é um gosto tê-la conosco.-- ele murmurou, sinalizando aos criados que nos servissem.
  Alfred e Maeve se aproximaram servindo nossas taças e pratos, em ordem. Os olhos deles pairavam sobre mim por alguns segundos. Eu sabia o que pensavam. E sabia o que aconteceria na cozinha assim que saíssem dali.

  Após estarmos servidos, eles se afastaram no canto da sala de jantar, lugar onde eu estive várias vezes. Eu sabia que eles estava vendo e ouvindo tudo ali, assim como eu vira e ouvira várias vezes.
  Começamos a jantar e aquela comida era incrivelmente saborosa, ainda mais servida naquela louça elegante com direito a vinho na taça de cristal.
  -- já comecei a enviar os convites do baile, tia Clarisse -- ele informou, sendo educado.
  -- excelente, Vossa graça.
  -- precisaremos de uma boa governanta -- eu informei, com um sorriso -- um baile a altura de Cumberland's Hall precisa ser bem organizado.
  Thomas concordou com a cabeça enquanto comia.
  -- eu fui até Cambridge a procura de uma governanta, boa o suficiente para fazer a gestão de Cumberland's Hall. Mas o senhor a destituiu do cargo -- comentou Lady Clarisse, um pouco afrontosa.
  Eu dei um gole no meu vinho, para disfarçar o clima pesado que tinha surgido.
  Thomas, por sua vez, ergueu seu olhar do prato e fixou em Lady Clarisse.
  -- oh, eu sinto muito -- ele disse, depois de um suspense -- sei que foi a senhora que a contratou, mas eu preciso dela comigo. Logo encontraremos outra governanta.
  Lady Clarisse rapidamente pôs seus olhos sobre mim, me julgando instantâneamente.
  -- sim, encontraremos -- ela respondeu, ainda me olhando.
  -- aliás, se a senhora puder fazer isso por mim, eu agradeceria -- ele acrescentou, despreocupado e cortês.-- entende muito mais das necessidades de Cumberland's Hall do que eu.
  -- vou me esforçar. Garanto que não vai ser fácil encontrar alguém como Amélia -- ela argumentou, e eu senti que era uma afinetada.
  -- oh, não há ninguém como Amélia. Não é mesmo?-- ele brincou, me olhando carinhosamente.-- Amélia é única.

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