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  Thomas e eu só saímos dos aposentos na hora do jantar. Devidamente vestidos e ornados, como que para um baile, como o costume de Cumberland's Hall. Descemos as escadas apaixonadamente.
  Lady Clarisse estava na sala de jantar, e observou a nós dois.
  -- boa noite, minha tia -- ele cumprimentou, de forma elegante.
  -- oh, boa noite! Thomas, meu querido... Esperei por sua chegada há dias! Você se surpreenderia com o quanto senti sua falta.-- ela lamentou.
  -- e agora estou aqui. E trago boas notícias.
  -- por favor, me diga quais são! Foi uma tortura ficar esperando dias a fio...
  Ele sorriu e ordenou que fossemos servidos.
  Esperou gentilmente até que os lacaios se afastassem.
  -- encontrei o atual lorde Pevensie. Ele concordou em escrever ao Comitê de Privilégios, atestando seu parentesco com Amélia. Na verdade, já o fez. É um rapaz gentil e compreensivo.
  Lady Clarisse ficou satisfeita. Sorriu e voltou sua atenção para o seu jantar. Aquilo bastou para aplacar sua ansiedade.
  Não disse nada mais, apenas saboreou a comida. Thomas e eu a imitamos, o jantar estava espetacular. Em homenagem ao retorno do querido Conde, certamente.

  Naquela noite, também houve sobremesa especial.
  Conversamos sobre alguns assuntos banais ainda na sala de jantar. Lady Clarisse tinha muito a contar. Ela fez um breve relatório de tudo que aconteceu na ausência de Thomas.
  E ele, foi compreensivo a ponto de ouvir tudo atenciosamente. Sem reclamar ou ignorar suas dezenas de comentários.
  Fomos para sala de estar, onde tinha uma jovem nos entretendo naquela noite. Segundo Lady Clarisse, filha de um de nossos inquilinos. Exímia pianista. Estava no conservatório e, para ser conhecida na sociedade, precisava de algum apoio financeiro.
  E é claro que Lady Clarisse seria mais do que isso.
  A jovem Jane tocava lindamente, enquanto nós conversávamos. Um dos lacaios veio até nós com taças de vinho branco.
  Lady Clarisse se serviu, assim como Thomas. Eu estava me abstendo de bebidas alcoólicas desde que descobri a gestação.
  Porém, Lady Clarisse não tinha percebido isso. Ela me encarou, um tanto desconfiada.
  -- não vai apreciar o bom vinho? Pedi essa garrafa especialmente pra o retorno de Thomas -- ela comentou, de forma insistente. -- veio do norte da Itália. Especialmente para essa comemoração.
  -- Agradeço a gentileza. Mas não vou aceitar.
  -- ora essa!-- ela começou a reclamar, mas Thomas simplesmente a olhou, e ela parou de falar.
  -- bem, -- ele disse, ignorando seu falatório e mudou de assunto -- soube que houve um evento em Cumberland's Hall, na minha ausência.
  -- oh, sim! -- respondi, feliz -- organizamos uma apresentação da orquestra do Conservatório. E depois um belo jantar.
  -- uma pena que eu não estivesse aqui.
  -- você teria adorado, querido sobrinho.
  -- não tenho dúvidas.
  -- oh, Amélia... Foi uma agitação toda, não foi? Todo o planejamento... Ela chegou a adoecer!-- Lady Clarisse exclamou, verdadeiramente preocupada.
  -- adoecer?-- ele rebateu.
  -- no dia seguinte ao evento, Amélia caiu de cama. Tive que mandar buscar o médico. Doutor Miller veio ver Amélia.
  -- Lady Clarisse, não é necessário perturbar o Conde com esse assunto -- disfarcei.
  -- oh, Amélia! Thomas precisa saber o que aconteceu contigo em sua ausência.-- ela me censurou, agoniada, voltou-se para Thomas -- a pobre Amélia estava febril, querido Thomas, precisei chamar o doutor!
  -- eu acredito que tenha ficado realmente preocupada, minha tia.
  -- oh, sim... Sabe que eu levo a saúde bem a sério. Principalmente a da nova Condessa.
  -- Lady Clarisse -- comecei, me aproximando de Thomas, no sofá macio.
  -- me permita terminar, Amélia. Mas quero que Thomas saiba que eu estive cuidando de você...
  -- disso eu não tenho dúvidas, minha tia -- ele sorriu, de forma sedutora, até mesmo para Lady Clarisse.
  -- eu só ia te dizer, Lady Clarisse, que não se preocupasse. O meu recente ... Bem, adoecimento...-- comecei novamente, procurando as palavras certas.
  -- o que minha querida esposa quer dizer, minha tia -- Thomas assumiu, vendo minha aflição com as palavras. -- é que ela já conversou comigo sobre esse incidente. Que, na verdade, não deveria se chamar incidente ou adoecimento, não é mesmo, querida?
  -- sim. Na verdade, naquela consulta, o doutor Miller me trouxe boas notícias.-- falei de uma vez, com o coração batendo acelerado.
  Thomas segurou minha mão com carinho.
  Lady Clarisse me olhou com confusão no olhar. Me senti um pouco culpada de ter escondido dela por aqueles dias todos.
  -- o que aconteceu aquele dia, foram alguns sintomas. A verdade é que estou esperando um filho.-- contei, sentindo um alívio sair de mim.
  -- oh céus...-- ela murmurou, colocando a taça sobre a mesa de apoio.-- está grávida?
  -- sim, estou -- confirmei, e Thomas beijou meu ombro carinhosamente.
  -- meus parabéns, Amélia -- sua voz saiu embargada de emoção, como eu nunca tinha visto antes. -- que felicidade a vocês dois...
  Lady Clarisse se levantou e veio até nós em um abraço afetuoso e emocionante. Ela beijou meu rosto e acariciou Thomas gentilmente.
  -- eu estava preocupada com sua saúde, Amélia... E você estava esse tempo todo esperando ele chegar para contar seu segredo -- ela disse, de forma amável.
  -- logo teremos uma criança em Cumberland's Hall. Um herdeiro.-- anunciou Thomas, tornando a me beijar.
  Aquele era o melhor para se estar. Dentro de um abraço da minha família. Meu adorado marido e minha - ainda que fosse estranho dizer isso - tia avó.
  Ela estava feliz com a notícia. Mais feliz do que eu esperava que ficasse. Chorou, emocionada, mais que duas vezes. Demonstrou seus sentimentos mais do que eu esperei que fosse demonstrar em toda sua vida.
  Lady Clarisse ficou genuinamente feliz por nós dois.
  Thomas exibia um sorriso que não se podia descrever. Ficamos naquela sala por um bom período, conversando despreocupados, como éramos acostumados a fazer.
 
  Depois, retornamos aos nossos aposentos.
  Maeve me esperava para a troca de roupa.
  -- boa noite, milady -- ela saudou, trazendo consigo uma camisola elegante de algodão -- como foi o jantar?
  -- boa noite, Maeve. Foi muito bom. Tinha sentido falta de jantar em família com o Conde.
  Ela sorriu e veio até mim. Desabotoou o vestido, soltou os espartilhos. Me ajudou a trocar de roupa, em silêncio.
  -- Maeve, quero que seja a primeira da criadagem a saber. Thomas pretende anunciar amanhã -- comentei, chamando sua atenção.
  -- milady?
  -- acredito que deva saber, visto que é uma camareira excepcional. Mas eu estou esperando um filho.
  Maeve me olhou nos olhos e sorriu.
  -- oh, milady! Que alegria!
  Eu estendi os braços para um abraço. E ela não hesitou. Me permiti dar a ela essa liberdade. Um abraço carinhoso era algo que eu não iria dispensar jamais.
  -- eu já desconfiava sim, mas não cabia a mim dizer alguma coisa -- ela disse, se afastando um pouco.
  -- eu estava esperando ele voltar. Não seria justo, se ele não fosse o primeiro a saber.
  Ela sorriu.
  -- e Lady Clarisse? Como reagiu?
  -- eu nunca a vi tão emotiva.
  Maeve tornou a sorrir.
  -- Lady Clarisse sempre quis ter seus filhos. Pelo que os funcionários mais antigos me disseram, desde que comecei a trabalhar aqui, havia uma pressão da aristocracia, por conta da ausência de um herdeiro em Cumberland's Hall.
  -- ela me disse. Ela tinha os enxovais prontos. Se quer saber, Lady Clarisse seria uma mãe maravilhosa.
  -- sim, seria. Assim como avó. Agora ela pode viver isso com vocês. É o sonho dela ver uma criança em Cumberland's Hall.
  -- é doloroso pensar que, se ela tivesse se casado com outro homem, teria sido imensamente mais feliz. Certamente teria tido filhos.-- lamentei, deixando-me levar pela sensibilidade do momento.
  -- milady deve saber sobre o senhor Moore.
  A menção do nome dele me fez gelar. Não respondi, mas Maeve leu no meu olhar que eu não queria me comprometer.
  -- essa fofoca chegou a criadagem. Afinal, alguns jardineiros são próximos dos lacaios, e os lacaios falam bastante.
  -- as vezes me esqueço que a criadagem triplicou de tamanho, desde que deixei meu antigo posto.
  Maeve riu. Ofereci que ela se sentasse. E me sentei próximo a ela. Era hora da fofoca.
  -- bem, os lacaios são amigos de alguns jardineiros, e a fofoca que chegou lá embaixo, é que o senhor Moore é completamente apaixonado por Lady Clarisse. Segundo Philippe, aquele senhor domador de cavalos, o velho jardineiro viveu a vida a contemplar a Condessa.
  -- oh, céus! Philippe é tão velho quanto senhor Moore. Ele deve conhecer a história desde o início.
  -- conhece. Eles eram amigos, na época. Assistiu de camarote, tudo que o velho Albert fez ao jardineiro. Quando essa fofoca chegou, Philippe contou a todos lá embaixo, a história inteira.
  Fiquei perplexa.
  Daria tudo para ter ouvido isso. Na minha época de criadagem, ninguém fofocava tanto assim perto de mim.
  -- toda essa história nos fez olhar para o antigo Conde com outros olhos. Assim como para Lady Clarisse. Ela deve ter sofrido horrores durante esses anos.
  -- ele proibiu os narcisos, Maeve.
  Maeve concordou, amargurada.
  -- não era permitido nenhum único narciso amarelo em toda Cumberland's Hall!-- eu me exaltei, sentindo os olhos arderem.
  -- velho desgraçado... Lady Clarisse não merecia nada disso... Se ela tivesse ficado com Moore, certamente teria sido mais feliz -- Maeve acrescentou, segurando minha mão.
  -- sim, teria. Poderia ter tido seus filhos. Teria vivido uma vida feliz.
  -- mas não é tarde para ela ser feliz. Fitzwilliam Moore está esperando por ela desde aquela época. Ele nunca saiu daqui. Se eles se acertarem, enfim, terão algum tempo de felicidade.
  -- espero que se acertem. E espero que o Comitê de Privilégios não fiquem zangados com isso.
  -- mas que diferença faz?
  -- oh, Maeve, a vida da nobreza não é fácil. Olhe bem para a situação que aconteceu entre eu e o Conde. Ele estava correndo risco de perder o título e a herdade. Imagine, Lady Clarisse, a grande Condessa viúva, se relacionando com um jardineiro da propriedade!
  Maeve assentiu, mais amargurada ainda.
  -- o que será da doce Lady Clarisse?
  -- eu não sei. Mas farei o que tiver ao meu alcance para vê-la feliz, maeve. Ela merece ser feliz.
  Maeve se inclinou para me abraçar mais uma vez.
  -- bem, milady. Acredito que o Conde a esteja esperando. Te vejo amanhã de manhã.
  Eu concordei e deixei o quarto. Thomas me aguardava com uma taça nas mãos. Me olhou com ternura.
  -- minha amada... Pensei que não viesse.
  -- não seja desesperado, meu marido. E não pense uma asneira dessas nunca mais -- respondi, enlaçando seu pescoço.
  -- devo confessar que estou um pouco incrédulo sobre essa novidade. É um tanto impensável, olhar para você e dizer que está carregando o herdeiro de Cumberland's Hall.
  -- oh, não se preocupe... Logo a barriga vai crescer e você vai ter certeza.
  -- quero pintar você.
  -- bem, podemos ver que você é bom nisso -- brinquei, apontando para os quadros ao redor.
  -- sim, eu sou. Mas quero uma pintura sua na sala de artes. Um retrato. Nada íntimo. Nada escandaloso.
  -- quer fazer um retrato meu?
  -- sim. Vou colocar ao lado do meu.-- ele beijou-me carinhosamente -- e farei uma pintura quando a gestação estiver mais avançada. Adoraria um registro desse momento.
  Meu coração se aqueceu.
  -- bem, você me disse uma vez que sou sua musa. Pode me pintar quantas vezes quiser.
  -- certo.-- ele sorriu, satisfeito, e me beijou novamente.
  Minha pele ardia sob seus toques. Seus braços fortes me seguravam junto ao seu corpo quente.
  Tinha sentido saudades do meu marido. De seu afeto, do seu calor, do seu cheiro, da sua força.
  Ele me conduziu ao leito, com uma gentileza inexplicável. Seus olhos não de desviavam de mim. Suas mãos não soltavam meu corpo.
  -- é um pouco tarde para te perguntar isso, visto a tarde animada que tivemos hoje. Mas é seguro para o bebê?-- ele questionou, se afastando um pouco.
  -- o médico não fez nenhuma contra indicação.
  -- vou mandar chamá-lo amanhã. Quero saber de todos os riscos e cuidados que você precisa. Você será a mulher mais bem cuidada desse reino.
  -- pensei que já o fosse.
  Thomas riu, beijando meu pescoço.
  -- oh, minha querida... Como você me faz feliz...-- sussurrou entre um beijo e outro.
  -- você não tem ideia da felicidade que sinto. Não teria palavras para descrever.
  -- não seria necessário, seu corpo me diz.
  Eu segurei em seu pescoço, puxando para um beijo apaixonado. Exigindo dele tudo o que eu podia tomar. E Thomas sempre estava disposto para mim.
  Ele conhecia meu corpo bem o suficiente para ir direto aos pontos que me davam prazer. Segurou meu seio com uma mão, enquanto me beijava. Soltou meus lábios para dizer:
  -- estou vendo que mais alguma coisa está aumentando, além do seu ventre. Devo dizer que estou ainda mais fascinado.
  -- é só o início, meu querido.
  Ele sorriu maliciosamente.
  Desfrutou de meu corpo com luxúria e eu me entreguei completamente. Ele sabia onde beijar, onde chupar, onde tocar. E sabia quando eu estava pronta para ele.
  -- me diga se sentir alguma coisa...-- ele sussurrou, enquanto se posicionava entre minhas pernas.
  -- além de prazer, você diz?
  -- sim, além de um prazer estonteante.
  Eu concordei com a cabeça, e logo o beijei novamente.
  Thomas era cuidadoso, apesar do desejo incendiário que eu via em seus olhos. Não houve desespero, não ouve a ânsia de luxúria. Houve apenas uma paixão intensa e tranquila.
  Com sentimento em cada beijo ou carícia.
  E houve também o ápice unidos, como sempre me fazia delirar.
  Nos braços dele eu sempre queria estar, ainda mais daquela forma arrebatadora.

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