Dia melhor

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  No dia seguinte, eu tomei coragem e saí de casa. Entrei na carruagem a caminho do ateliê de Madame Desirée. Era mais uma prova do vestido e também um passo muito importante para mim.
  Eu iria enfrentar de cabeça erguida o estrago que aquela matéria tinha causado.
  Respirei fundo olhando para a paisagem, através da janela. Maeve fez questão de me acompanhar e estava em silêncio ao meu lado.
  Conforme nos aproximamos da cidade, uma onda de ansiedade se apoderava. Não pude evitar um longo suspiro, na tentativa de me acalmar.
  Então senti a mão de Maeve sobre a minha.
  -- sei que não posso entrar no ateliê, milady, mas estarei do lado de fora te esperando.-- ela comunicou, de forma reconfortante.
  -- eu fico grata pela sua companhia, Maeve -- respondi, voltando meu olhar para ela.
  -- saiba que o clima entre a criadagem não está muito agradável...
  -- como assim? Algum problema?
  -- todos querem saber quem foi o traidor. Há uma névoa de desconfiança lá embaixo.
  -- Boyle me disse que estão se esforçando para descobrir quem foi.
  -- sim. A pedido de Lady Clarisse, toda e qualquer atividade suspeita deve ser relatada a ela. Em Cumberland's Hall, sempre tivemos um compromisso sério com sigilo. Entre nós, sempre comentamos muitas coisas, como você mesmo pode ver, quando era governanta. Porém, ninguém ousa dizer nada a alguém fora da mansão.
  Eu escutei atentamente.
  A fofoca era liberada entre a criadagem. Eu pude experimentar isso. Mas era apenas ali dentro daquelas paredes. Para aquele assunto ter vazado, deve ter sido por um motivo pessoal. Alguém estava realmente chateado comigo.
  -- foi pessoal, Maeve.
  -- o que disse, milady?
  -- quem vazou isso, tinha um problema pessoal comigo. E o problema foi maior do que o compromisso de sigilo.
  Maeve ficou pensativa, escutando em silêncio.
  -- entretanto, eu posso assegurar que muitas pessoas ficaram infelizes com minha recente ascensão. Então, temos muitas suspeitas.
  -- milady... No geral, a criadagem não está infeliz com sua sua ascensão. No início, alguns torceram o nariz sim, não posso negar. Mas já se acostumaram com a ideia. -- ela rebateu, ainda pensativa -- devo confessar que houve uma certa revolta com essa matéria. Foi algo que atingiu a todos.
  Fiquei surpresa com aquilo.
  -- oh... Acaba de dizer uma coisa que eu não esperava ouvir...
  -- milady, o Conde é um pouco reservado sim, mas no geral, ele trata todos muito bem. É um lorde amado pelos serviçais. E você... Bem... Você é você, Amélia -- ela disse, um pouco sem jeito.
  Suspirei, tentando entender o que ela havia dito. Eu não era muito boa em entender coisas que ficavam implícitas.
  -- confesso que não compreendi.
  -- você chegou aqui na pior época de Cumberland's Hall, quando a própria Condessa viúva estava no fundo do poço. Mas você reergueu a casa, reergueu a nossa senhora de seu luto. -- ela explicou, gentilmente -- para os criados que viram o estado que estava Lady Clarisse, você é uma pessoa muito querida também. Enfim, acredito que o que eu estou tentando dizer é: todos ficamos felizes por vocês dois. E está sendo um desafio descobrir quem foi o traidor.
  Suspirei novamente, mas dessa vez controlando as lágrimas de emoção.
  -- agradeço suas palavras, Maeve. Mas eu acredito que logo vão descobrir. Esse tipo de coisa nunca fica encoberto por muito tempo.
  -- sim, milady.
  A carruagem seguiu mais algumas ruas e logo parou em frente a luxuosa loja que se destacava entre as demais, o Ateliê de Madame Desirée.
  Quando desci, algumas pessoas que passavam na calçada, logo me viram. A carruagem de Cumberland's Hall chamava a atenção por onde passava. Entrei, acompanhada de Maeve.
  Algumas mulheres estavam na sala de espera, consultando alguns tecidos e conversando com as atendentes. Minha presença foi o centro das atenções.
  Madame Desirée parou o que estava fazendo e veio até mim rapidamente.
  -- oh, milady! Que bom que veio, estava a sua espera!-- ela cumprimentou, logo após um beijo na bochecha -- não vamos perder tempo, venha...
  Antes que eu respondesse, ela me conduziu para uma sala reservada, onde o manequim com o vestido de noiva estava coberto com um tecido escuro e firme.
  Ela trancou a porta atrás de mim, ficando a sós.
  -- oh, minha cara! Temi que não viesse!
  -- lamento minha ausência, Madame Desirée...-- me desculpei, verdadeiramente entristecida.
  -- oh, não se desculpe. Eu recebo muitas mulheres aqui, milady... E além disso, eu também leio aos jornais -- ela comentou, segurando minhas mãos com carinho.
  -- então, imagino que saiba.
  -- sim. Porém, não gastarei nosso tempo com isso. Evolui muito no seu vestido e preciso aproveitar bem nossa hora.
  Eu concordei com a cabeça.
  Madame Desirée foi até o manequim e retirou o tecido que o cobria, revelando sua mais imponente obra de arte.
  -- seu vestido de noiva, milady -- ela exibiu, enquanto eu tentava absorver a magnitude dele.
  Estava praticamente pronto. Belas rendas feitas a mão, mangas elegantes e decote em coração, bem comportado e ao mesmo tempo, majestoso. Era branco, mais branco o que eu podia descrever, possuía o brilho das estrelas, por conta das pequenas pedrarias que ornamentavam o bordado do corpo. A saia descia em um tecido leve e com belas flores em renda.
  Fiquei boquiaberta.
  -- oh, céus...
  -- por isso o mistério, não é mesmo? Apenas eu e minha melhor rendeira temos acesso a ele. Estou deixando todas as ladies saberem que eu estou fazendo todo esse mistério. Precisamos do poder da curiosidade desse povo -- ela comentou, sorridente e satisfeita.
  -- é o vestido mais deslumbrante que eu já vi -- me aproximei para analisar os detalhes.
  -- se for tocar nele, não tire as luvas -- ela me recomendou, atenta -- não podemos tocar nele com as palmas suadas, para evitar que amarele.
  -- oh, claro.
  -- eu quero explendor, Lady Amélia Pevensie. Você é a noiva do Conde Cumberland, preciso que seja comentada com esse vestido por anos a fio.
  -- isso é o puro explendor, Madame Desirée. Eu duvido que esqueçam desta obra de arte tão cedo -- continuei a olhar de perto, sem acreditar nos detalhes.
  -- bem, chega de elogios. Vamos provar.
 
  Então, perante ao espelho, eu estava usando o meu vestido de noiva. E não tinha palavras para descrever. Respirei fundo, controlando as lágrimas que surgiam. Era inevitável me emocionar.
  -- oh, Lady Amélia Pevensie!-- ela exclamou, me olhando de um lado para o outro-- está perfeito!
  -- sim, está -- murmurei, piscando para dissipar as lágrimas.
  -- gire para mim. E movimente os braços -- ela pediu e eu obedeci -- ao que parece, está pronto.
  Eu suspirei alisando a saia do vestido com delicadeza.
  -- parece um sonho.
  -- oh, minha querida... As luvas também estão prontas -- ela me entregou uma caixa gentilmente -- e eu vou buscar seu véu.
  Troquei as luvas. Por conta das mangas que chegavam próximo aos cotovelos, as luvas eram curtas e não passavam dos meus pulsos, porém eram tão delicadas que temi rasgar com minhas unhas.
  Madame Desirée prendeu o véu entre meus cabelos. Era fino e com uma pequena renda nas bordas e descia como uma cascata sobre minhas costas e se misturava a cauda do vestido, pelo chão.
  Ela checou o caimento.
  -- tudo perfeito. Você está perfeita -- ela definiu, me olhando com orgulho.
  -- nunca imaginei que fosse ficar assim.
  -- oh, minha querida. Quem irá preparar seu cabelo? Sua criada?
  -- sim. Maeve. Ela está me esperando lá fora.
  -- tudo bem. Irei conversar com ela a seguir. Podemos tirar o vestido e vou embalar. Na sexta-feira, levarei até você pessoalmente.
  Concordei.
  E passo a passo, ela foi retirando tudo e dobrando cuidadosamente. Me ajudou a me vestir e suspirou orgulhosa, quando terminou.
  -- será uma grande festa, milady.
  -- sim, será.
  -- o Condado está ansioso para esse casamento. A maioria das mulheres lá fora estão aqui para provar seus vestidos. Então, não deixe aquela matéria te abalar.
  -- isso é impossível, Madame Desirée. Foi um grande golpe.
  Ela concordou com a cabeça, com olhar solidário.
  -- saiba que serei seus olhos e ouvidos, milady. Tudo o que eu descobrir, irei informar Cumberland's Hall -- ela jurou, segurando minhas mãos com sinceridade.
  -- e eu lhe sou grata.

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