Podemos Recomeçar

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  Estaria mentindo se dissesse que tinha dormido o suficiente. Meu sono foi invadido por sonhos, em que Thomas estava comigo. Sonhos que envolviam seus beijos e suas mãos sobre mim.
  Assim que amanheceu, Maeve entrou no quarto, me despertando. Ela trazia uma bacia com água e colocou no quarto. Me olhou e viu que eu estava acordada, e disse:
  -- já está desperta, Amélia?
  -- sim -- eu respondi, me sentando, ainda sonolenta -- não dormi quase nada essa noite...
  -- foi um baile e tanto. Procurei você ontem a noite, mas não encontrei -- ela comentou, preparando um vestido para mim.
  -- eu preferi caminhar um pouco -- menti, tirando minha camisola.
  -- bom, que seja. Mas espero que tenha aproveitado bastante.-- ela disse, erguendo uma sobrancelha, maliciosamente.
  -- o que quer dizer?
  -- havia uma química entre vocês ontem, que todos no salão perceberam -- ela começou e eu senti meu corpo arrepiar -- o Conde simplesmente rejeitou todas as investidas de todas as moças ontem.
  -- verdade?
  -- sim. Mas eu vi que dançou com um rapaz...
  -- sim, dancei.
  -- disseram que o Conde não gostou nem um pouco disso. Bom, Amélia, você pode negar, mas todos nós vemos que tem algo entre vocês.
  Eu não respondi, apenas lavei meu rosto.
  -- qual o motivo para que esteja aqui hoje?-- perguntei, enquanto ela me ajudava a me vestir.
  -- só vou parar de vir aqui quando o Conde ordenar -- ela respondeu, despreocupada.
  Terminei de escovar os dentes e ela logo começou a arrumar meus cabelos. Era muito estranho ter alguém para me servir daquela maneira. Geralmente eu estava do outro lado.
  -- quer que eu traga o desjejum aqui?-- ela perguntou, sendo gentil -- ou talvez queira ir até a mesa. Mas não garanto que alguém vá comer lá agora. Estão todos dormindo ainda...
  -- traga aqui, por favor.
  Ela saiu do quarto e fechou a porta.

  Eu fui até a janela e todas as memórias da noite anterior surgiram em minha mente. Suas declarações, suas confissões e nosso beijo.
  Meu corpo se aqueceu com as lembranças. Bastou uma breve lembrança para surgir uma fagulha de desejo no âmago do meu coração.
  Meus pensamentos foram interrompidos por alguém que bateu a porta. Maeve sabe que não precisa bater, pensei, indo abrir a porta.
  Mas quem estava ali não era Maeve. Era Thomas.

  Ele ainda estava com as mesmas roupas da noite anterior e os cabelos ainda bagunçados. Um calor desconhecido passou pelo meu corpo. Todas as sensações da noite passada surgiram novamente.
  -- Thomas?-- eu me assustei.
  -- podemos conversar?-- ele perguntou, ansioso.
  -- sim, claro. Mas Maeve logo volta.
  -- eu a encontrei e pedi que esperasse.
  Eu lhe dei passagem e ele entrou.
  Sua presença sensual alterou todo o ambiente. Ele caminhou pelo quarto até a pequena mesa que estava ali. Ele se apoiou e virou para mim, colocando as mãos nos bolsos.
  -- queria te pedir desculpas por ontem...-- ele começou, me olhando de cima a baixo -- quando eu duvidei de você, querida Amélia.
  Eu não respondi. Meu coração batia desesperado e meu corpo ardia por ele.
  -- eu te procurei em todos sorrisos, Amélia. Mas devo confessar que nenhuma mulher nesse mundo me atraiu. Mas mesmo sem te reconhecer, eu percebi que havia algo diferente naquela governanta bem humorada que me recebeu aqui -- ele abriu um sorriso, passando os dedos entre os cabelos -- saiba que eu não deixei de te amar, apesar de tudo, Amélia. Mas...bem -- ele hesitou um momento -- muito tempo se passou, Amélia, e temo que não seja o mesmo homem que você conheceu.
  -- Thomas...-- eu resmunguei, querendo me aproximar dele.
  -- eu sei que perdemos anos... Mas eu não te conheço mais. E temo que você também não me conheça.
  -- então, o que sugere?
  -- o destino nos ofereceu uma segunda chance. Podemos recomeçar.-- ele sugeriu, se aproximando elegantemente.
  Meus olhos percorreram seu rosto. Ele provavelmente não tinha dormido a noite. Sua camisa estava desabotoada e eu podia ver seu peito forte. Respirei fundo, desviando o olhar.
  -- eu concordo -- falei, tentando dissipar os pensamentos impróprios que surgiam.
  -- eu quero ter o prazer de me apaixonar de novo por você...-- ele sussurrou, se aproximando ainda mais  -- oh, poxa... Eu nem consegui dormir, pensando em você!
  -- Thomas...-- respondi, dando um passo em sua direção, ficando frente a frente com ele -- eu quero que sinta o que eu sinto, o que nós dois sentimos um dia. Eu não sou a mesma mulher que conheceu, muitas coisas aconteceram desde que partiu... E eu prometo que te contarei tudo.
  -- eu não me importo. Eu juro. Se você me disser agora, que conheceu outra pessoa, eu não vou me importar -- ele prometeu, segurando minhas mãos.
  -- isso nunca. Você foi o único que esteve em meus pensamentos nesses anos todos...
  -- que bom, fico aliviado -- ele sorriu, suspirando -- quero que saiba que muitas mulheres se aproximaram de mim, nesses anos... Mas eu te prometo que não houve ninguém. Está me ouvindo?-- ele segurou meu rosto para que eu o olhasse nos olhos -- nesses sete anos, nunca houve ninguém que eu fosse capaz de amar!
  -- o nosso amor é...
  -- como o amor de um casal de cisnes, minha querida Amélia. Único, para toda a vida.
  Nossos olhares estavam unidos e o silêncio que surgiu foi cheio de uma tensão inexplicável. Eu podia sentir meu coração batendo fervorosamente dentro de mim e o sangue fervia em minhas veias.
  Como se o mundo tivesse parado ao nosso redor, Thomas se inclinou e uniu seus lábios nos meus. Delicadamente caloroso. Trazendo para mim uma onda de calor que tomou conta dos meus sentidos.
  Ele requisitou de mim todo o meu fôlego e prazer, tomando de meus lábios todo o desejo que eu estava sentindo. Suas mãos saíram de meu rosto e me puxaram para junto de seu corpo.
  A excitação de nossos corpos unidos foi o estopim para que ele se afastasse de mim, rapidamente.
  Levou as mãos ao rosto, respirando ofegante.
  Eu, por minha vez, sentia o sangue fervendo e minha face vermelha de desejo.
  -- isto não é apropriado...-- ele se desculpou, respirando para se controlar -- eu devo me retirar.
  -- tem razão, não podemos ultrapassar nossos limites.-- eu concordei, dolorosamente.

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