Com direito a pérolas

6 3 0
                                    

  Aquela semana se passou e eu não me encontrei com Thomas nenhuma vez. Ele saía logo pela manhã e voltava ao anoitecer, pedia o jantar em seus aposentos e por lá ficava. Não recebia visita alguma ali.
  Eu passava grande parte dos meus dias na companhia de Lady Clarisse e com a nova governanta, Francis. Embora não fosse mais a minha função, eu gostava de organizar bailes.
  Como ele não me solicitou nenhuma vez mais, eu me dediquei a cuidar dos detalhes e dos preparativos do baile do fim de semana.
  Era quinta feira e os fornecedores estavam trazendo os últimos itens do banquete. Eu estava com Francis e Alfred conversando com os camponeses que traziam os alimentos, quando Thomas passou pelos fundos da mansão, bem em frente a porta dos criados.
  Ele me viu e fixou o olhar em mim, mas não disse nada. Pelo seu olhar, ele não tinha aprovado quando me viu entre os criados comuns.
  Todos nós fizemos uma reverência e ele seguiu seu caminho, sem dizer nada.
 
  Na manhã seguinte, fui despertada com Maeve. Fiquei assustada com sua presença ali tão cedo e sem ser requisitada. Ela estava ansiosa, andando de um lado para ao outro.
  -- o que houve?-- eu me sentei, ainda sonolenta -- o que você está fazendo aqui?
  -- ora, como assim? Hoje é o grande dia. O Baile de Cumberland's Hall!-- ela exclamou, batendo palmas de alegria.
  -- eu sei. Mas por que está no meu quarto agora?-- questionei, confusa.-- ainda é tão cedo.
  -- o Conde me solicitou hoje -- ela contou, toda animada.
  Ergui uma sobrancelha, me perguntando se ela tinha sido solicitada mesmo ou aquilo era uma ambiguidade para atos carnais. Naquele instante meu coração apertou.
  -- não, não da maneira que está pensando.-- ela me corrigiu, antes que eu dissesse algo -- ele mandou me chamar hoje bem cedinho. Pediu que eu te ajudasse com o que fosse preciso. Parece que fui promovida a sua criada pessoal.
  Abri minha boca de surpresa e não consegui dizer nada.
  -- hoje é o grande baile e você vai precisar de ajuda com seu penteado e também para se vestir. É necessário uma criada para tomar conta de tudo para você.-- ela explicou, percebendo minha confusão.
  -- sim... entendi, Maeve. Obrigada.
  Eu me levantei e Maeve já tinha preparado a água para que eu escovasse meus dentes e lavasse meu rosto. Ela já tinha separado minhas roupas e calçados.
  -- no almoço de hoje, receberemos algumas visitas.-- ela explicou, sendo gentil -- e o Conde requer sua companhia.
  Eu praticamente revirei os olhos.
  -- tudo bem. Obrigada, maeve.-- respondi, evitando que ela percebesse meu incômodo.
  Então, tomei meu café da manhã ali no quarto mesmo e Maeve se dedicou a me arrumar. Madame Desirée tinha mandado os melhores vestidos para mim e eu não podia deixar de me vestir bem.
  Escolhi um vestido cor salmão, bem suave e delicado. Ideal para um almoço no Solario da mansão. Era a primeira vez que ele seria usado e tinha certeza que seria em grande estilo.
  Ela prendeu meus cabelos e deixou alguns cachos soltos, diferente dos meus coques habituais. Entretanto, sentia falta de meus cabelos soltos. Como eu vivia ali, na casa dele, não achava próprio ficar com os cabelos soltos pela casa.
  Então, só os soltava para dormir.

  Maeve era uma moça dedicada. Quando soube que ela e Boyle estavam se encontrando, fiquei perplexa. Mas não mudou nada minha forma de vê-la como uma colega próxima. Não a julguei em nenhum instante.
  Quando finalmente fiquei pronta, me surpreendi com o resultado. Eu estava linda como uma Lady. O vestido era elegante e tinha todo um caimento especial, marca registrada de Madame Desirée, a melhor costureira do Condado.
  Desci para o almoço.
  Encontrei vários criados ocupados, se preparando para ao baile ao entardecer. E todos eles se surpreenderam comigo.
  Quando cheguei ao Solario, onde a mesa estava posta com elegância, com certo exagero de flores e frutas, Thomas imediatamente se levantou. Antes que eu conseguisse olhar ao redor, ele estava diante de mim.
  Thomas estava mais bonito do que nunca. Cabelos bem penteados para trás, um sorriso brilhante nos lábios. Seu cheiro irradiava. Seu terno tinha um belo recorte, deixando sua postura ainda mais elegante.

  Segurou minha mão e a beijou, lentamente, como há anos atrás.
  -- você está deslumbrante -- ele sussurrou, me olhando carinhosamente -- seja bem vinda.
  -- obrigada, Thomas.
  Ele me guiou pela mão até a mesa.
  Ali estavam dois homens, um mais velho e outro mais novo, igualmente elegantes e um pouco semelhantes a Thomas.
  -- Amélia, este é meu pai, George Cumberland e meu irmão, David Cumberland -- ele apresentou, um pouco orgulhoso.
  -- é uma honra -- eu saudei, com uma reverência.
  -- nós que ficamos honrados em conhecê-la, Amélia -- George Cumberland respondeu, sorrindo.
  Thomas puxou a cadeira ao seu lado na mesa e eu me sentei. Logo fomos servidos. Os três conversavam tranquilamente sobre seus próprios assuntos. Eu não me importei, afinal, estava comendo uma das melhores comidas que tinha comido na vida.

Entre As Memórias E Os Pincéis Onde histórias criam vida. Descubra agora