Entre As Memórias E Os Pincéis

Entre madames

  Sempre quis saber como era ser hóspede em uma grande propriedade de uma família influente. Eu sempre estava do outro lado, na criadagem.
  Então, quando os desjejum foi servido em nosso quarto e duas criadas chegaram para nos auxiliar, eu sabia exatamente como funcionava os bastidores daquilo.
  Fomos vestidas e adornadas para o dia agitados que teríamos. Nós sentamos tranquilamente para o desjejum matinal.

  O vento frio que soprava nas janelas foi a melodia que embalou nossa refeição.
  -- santo Deus, como venta nesse lugar -- comentei, após uma rajada de vento atingir nossa janela.
  -- sim, venta demais. Qual será nosso itinerário para hoje?-- ela perguntou, procurando pelo cartão que estava sobre a mesa.
  -- espero que não tenha atividade nenhuma lá fora.
  -- bem, Lady Dawson trouxe um pianista para nós entreter até a hora do almoço. Depois teremos um breve recital de poesia e passeio pela mansão. Ao anoitecer teremos um jantar e um quarteto de cordas se apresentando. Isso tudo para as mulheres. Os homens terão caçada a tarde.-- ela leu, atenciosa.
  -- graças a Deus, todas as atividades serão aqui dentro.
  -- oh, sim... adoro recitais de poesia -- ela suspirou, colocando o cartão de volta a mesa -- e você, Amélia?
  -- bom, eu confesso que fico um pouco entediada
  Lady Clarisse sorriu de lado.
  -- imagino que Thomas também fica. Assim como imagino que ele não participará de nenhuma caçada.
  -- ele me informou ontem que não participará da caçada.
  Lady Clarisse segurou uma risada.
  -- Amélia, querida... quais serão os seus planos para hoje?
  -- como assim, milady? Acabou de ler o itinerário.
  -- eu sei o que eu li. Mas imagino que você e Thomas tenham outros planos.

  Ergui uma sobrancelha, pensativa. Entretanto, não disse nada.
  -- bem, Amélia, o pianista inicia em meia hora. Já terminamos de comer e estamos com um tempo livre.-- ela mudou de assunto, ao ver minha defensiva silenciosa -- podemos sair pela mansão. Talvez encontremos Lady Dawson por aí.
  -- é uma boa ideia, milady.
  Ela me ofereceu o braço e saímos pelos corredores.

  Quem nós visse ao longe, imaginaria que eu fosse uma neta querida acompanhando sua doce avó.
  Fomos admirando os detalhes da decoração da mansão dos Dawson. Tudo muito clássico e gentil. O lugar deixava claro que pertencia a uma família muito tradicional e rica.
  Segundo Lady Clarisse me contou, em nossa breve caminhada entre corredores elegantes, os Dawson eram donos de minas de estanho por toda Grã-Bretanha. Lorde Dawson vivia viajando para gerenciar seus negócios e, toda vez que voltava de suas viagens, Lady Dawson o esperava com bailes e banquetes.
  Uma família tradicional e rica. Como eu já disse.
  Eles admiravam a arte e cultura, e também boas caçadas. Logo encontramos a gentil Lady Dawson, culta e elegante.
  Ela nos acompanhou até sua sala de música, onde as outras hóspedes estavam tomando um chá. Eu me senti tão pequena quando entrei ali.
  As senhoras ricas e finas, conversavam entre si e me olharam de cima a baixo quando me aproximei.

  Lady Clarisse logo as cumprimentou com alegria e educação. Conhecia aquelas mulheres, tanto de outros bailes quando de outros eventos. Ela foi a Condessa daquele lugar por longos 40 anos.
  -- oh, fico feliz que estejam aqui. Esta é minha amiga Amélia Pevensie, como se fosse da minha família -- ela me apresentou, me puxando para perto de si.
  Lady Clarisse me exaltou entre suas amigas.
  Sentamos juntas a mesa, tomando um bom chá inglês, enquanto o vento assobiava lá fora. E ao contrário de minha mente pessimista, que imaginava que eu seria jogada aos lobos quando estivesse em evidência, surpreendentemente, as finas senhoras me receberam bem.
  Não demorou muito para estarem conversando comigo como se eu fosse uma delas.
  Quando minha própria mente tentava me sabotar, as palavras de Lady Clarisse ecoavam na minha mente: aqui você não é criada, não é governanta e nem assistente pessoal do Conde. Me escute bem. Você é uma visita nossa, que está hospedada em nossa casa.
  Então, ao redor da mesa com decoração fina e luxuosa, com porcelanas francesas e talheres de prata, eu tomei o chá ao lado de várias senhoras e senhoritas da alta sociedade.
  Com luvas de renda, vestidos com pedrarias e belos penteados. Eu, Amélia Pevensie, estava ali.
  Lady Clarisse sempre falava bastante, mais do que as outras. Ela tinha o prestígio de seu sobrenome e posição social. Até mesmo Lady Dawson, nossa anfitriã, deixava que ela falasse primeiro.