Encontros no Desjejum

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Sete anos atrás

  Logo pela manhã, eu e Lisette montamos as bandejas para levar aos quartos dos hóspedes, com seu desjejum.   Alguns desceram para participar da refeição com os anfitriões e outros decidiram ficar em seus aposentos.
  Lady Bennet entrou na cozinha quando estávamos terminando de montar cada bandeja.
  - bom dia, queridas. Está tudo perfeito por aqui.-- ela cumprimentou, esbanjando classe - eu trouxe a lista dos hóspedes que desejam o desjejum em seus aposentos.
  Ela me estendeu um papel com os nomes.
  - Duque de Cambridge, Lorde e Lady Scofield, Lorde e Lady Granger, Lorde Cumberland e Louis Bennet.-- eu li em voz alta, me controlando para não sorrir ao ouvir o nome dele.
  - eu sei dos problemas com meu filho, Amélia. Deixe que Lisette leve a bandeja dele. Estou fazendo de tudo para que ele sequer cruze com seu caminho - ela comentou, com um olhar solidário.
  - sim, milady.-- Lisette respondeu.
  - obrigada, milady.-- eu disse, pegando uma bandeja.
  Lady Caroline Bennet saiu da cozinha, tão elegante quando tinha entrado.
- eu levo para os Scofield, o Duque e Cumberland - falei, saindo da cozinha.
  Lisette concordou com a cabeça e andamos até os aposentos. Uma bandeja de cada vez, fomos deixando em cada quarto. Éramos invisíveis e ninguém notava nossa presença.
  Por último, Lisette subiu ao quarto de Louis e eu segurei a bandeja de Thomas, enquanto a ansiedade tomava conta de mim.
  Andei até sua porta e bati levemente.
- desjejum. - informei.
  Antes que eu precisasse bater novamente, a porta foi aberta. Thomas sorriu quase que imediatamente.
  - oh, bom dia, Amélia.-- ele cumprimentou, me dando passagem - entre, por favor.
  - bom dia, lorde Cumberland.
  Caminhei até a mesa próxima a janela, colocando a bandeja sobre ela.
  - tenha um bom dia, lorde Cumberland.-- eu falei, me direcionando a porta.
  Ele ainda estava parado, com sua postura elegante. Ali em seu quarto, podia sentir seu cheiro por todo lado, que embriagou meus sentidos. Ele tinha cheiro de mar, como uma brisa que sobre com a maré. Eu podia sentir um cheiro de madeira molhada, me lembrava um navio, ou algo do tipo.   Thomas exalava sensualidade até em seu cheiro.
  - já vai sair, Amélia? Estou com a impressão que está fugindo de mim - ele perguntou, se aproximando de mim, olhou a bandeja na mesa e continuou:-- tem comida o suficiente para dois nessa bandeja. Gostaria de comer comigo?
  Eu pisquei, um pouco incrédula.
  - Eu não posso, Lorde Cumberland.
  - ora, e por que não? Eu insisto.
  Ele caminhou até a mesa e puxou a cadeira para mim.
  - venha, sente-se e coma comigo.
  - logo vão me procurar, se eu me demorar.
  - não se preocupe. Digo que estava resolvendo alguma coisa em meus aposentos, como uma emergência com meu cobertor.-- ele brincou e insistiu novamente - sente-se, por gentileza.
  - já que insiste.-- eu me dei por vencida.
  Sentei-me ajeitando as saias do meu vestido de criada. Ajeitei alguns fios de cabelo que escapavam no lenço.
  Realmente, a bandeja estava bem servida, com chá, pães e bolos, algumas frutas e leite.
  Thomas colocou chá em sua xícara e logo depois um pedaço de bolo. Ofereceu o mesmo para mim e eu aceitei.
  Não era todo dia que eu participava do desjejum dos senhores. Meu desjejum era um pão e uma xícara de chá, bem apressado.
  - então, Amélia.-- ele começou, colocando a xícara na mesa após beber - já que se ofendeu quando perguntei sobre sua pessoa aos outros. Pode me dizer você mesma.
  - como assim, lorde Cumberland?
  Ele meneou a cabeça e disse, um pouco mais sério:
  - meu nome é Thomas e agora que estamos a sós, acredito que não necessita manter as formalidades.
  - eu sinto muito, é um hábito.
  - eu te chamo de Amélia enquanto estivermos a sós. Em público, a chamo como?
  - Criada.
  - oh, não. Que deselegante. Qual seu nome completo?
  - Amélia Isabel Pevensie.
  - lady Pevensie.
  - eu não sou uma lady.
  - para mim é.
  Naquele instante uma tensão surgiu entre nós e eu precisei levar minha xícara aos lábios, para aliviar essa tensão. Ele observava meus movimentos, olhava para mim como se quiser ler meus pensamentos.
  - quero dizer - ele começou a se explicar, percebendo o clima que surgiu - você possui a graça de uma Lady, anda com elegância e com a postura que, facilmente, eu te confundiria com uma das Bennet.
  - na verdade confundiu.-- apontei, sorrindo e lembrando de quando nos conhecemos e ele realmente acreditou que eu fosse uma dama.
  - sim, é verdade. Naquele baile, eu colocaria minha mão no fogo para garantir que você fosse a mais fina das damas.
  Senti em seu olhar, aquele calor que crescia entre nós. Meu coração errou as batidas. A constante agonia estava crescendo e minha mente gritava desesperada para deixar de lado o calor que surgia, quando estávamos juntos.
Terminei de comer meu bolo e falei, fazendo menção a me levantar:
  - bom, já terminamos. Agora preciso ir.
  - oh. É uma pena que precise ir. Saiba que foi um gosto dividir esse desjejum contigo. - ele falou, estendendo a mão para segurasse a minha - mas se precisa mesmo ir, eu espero te encontrar de novo por aí.
  Baixei meus olhos para nossas mãos levemente unidas. O calor de sua mão sobre a minha foi o suficiente para me causar outra onda de calor por todo meu corpo e eu retirei minha mão, me levantei. Fiz uma breve reverência e deixei seus aposentos.
  Caminhei entre os corredores, respirando devagar para tentar me acalmar. Eu repetia para mim mesma que seria tolice alimentar aqueles sentimentos. Thomas exercia um poder sobre meus sentimentos, que eu não podia explicar.
  Entrei na cozinha e me assustei com Lisette, que já preparava alguns pratos para o almoço.
  - santo Deus, Lisette. Olhe que horas são - impliquei, pegando um alho para descascar, despreocupadamente.-- ainda é muito cedo para estar mexendo com as panelas.
  - fazer o que, Amélia. Hoje alguns hóspedes irão embora, se Deus quiser.
  - mas já?
  - sim, mas outros irão ficar. Então temos muito trabalho pela frente.-- ela informou, mexendo uma panela gigante.
  - Lorde Cumberland disse que ficaria uma semana.
  - oh, céus... William nunca está em casa, mas quando está, faz questão de convidar todos os amigos dele para tirar nossa tranquilidade.
  - de onde William conhece o tal Cumberland? - indaguei, querendo me informar sobre ele- é a primeira vez dele aqui.
  - pelo que ouvi lorde Bennet dizendo, William tem negócios com um parente do Cumberland. Mas por que o interesse?
  Eu engoli em seco, precisando disfarçar.
  - sei lá. É a primeira vez que ele vem para cá e já fica uma semana.
  Lisette torceu o nariz.
  - como eu estava dizendo, William só conhece gente sem noção. E faz questão de trazer para cá!
  Preparamos as refeições conversando coisas do dia a dia. Lisette era como uma amiga próxima, eu a conhecia desde que tinha chegado naquela casa.        Trabalhávamos juntos e dormíamos em quartos vizinhos. Porém, ainda tinha coisas que eu não tinha coragem de contar a ninguém.
  O restante do dia se seguiu e não encontrei Thomas mais nenhuma vez. Fui encarregada de lavar as louças, então não pude estar presente no almoço. Em casa instante, meu pensamento estava em Thomas. Fiquei amargurada enquanto lavava as panelas sujas, pensando que poderia estar com ele.
  No jantar, a mesma coisa. A agonia apenas aumentava.
  Ficava aliviada por não ficar perambulando pela casa e correr o risco de trombar com Louis, mas não podia negar que ansiava por mais alguns minutos ao lado de lorde Thomas Cumberland.

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