X Cap. 67, Malena X

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Almoçamos no pior clima. Papai sem trocar uma palavra conosco,mamãe tentando agir como se o mundo não estivesse caindo sobre nossoas cabeças,enquanto eu,só me concentro em fazer a conversa com o Luan sair da minha cabeça.
Sua proposta não poderia ser mais tentadora. Meus pais sempre fizeram tudo por mim,pelo meu sonho,talvez seja a hora de retribuir.
Passei a tarde inteira rolando na cama,com os dedos coçando para falar com a Kiara,pedir um conselho,mas a voz do meu ex dizendo que as seriam feitas sigilosamente me "segurou".
Malena: Meu Deus,me ajuda. Me dê um sinal do que fazer! Por favor! -sussurro,olhando o céu azul lá fora.
Minutos depois,papai entrou em meu quarto.
Cairo: Princesa,a companhia médica ligou me fazendo um ultimato. Eu sei que você me pediu um tempo,mas não dá mais para esperar. Vou vender o hospital. -diz com a voz embargada.
Ok,Deus! Eu entendi.
Malena: Não,pai. -levanto- Eu tenho a solução e vai ser melhor para todo mundo.
"Menos para mim!" Penso.
Cairo: E o que é? -diz curioso.
Malena: Eu e o Luan conversamos muito ontem no jantar e ele ofereceu ajuda. Está disposto a reformar o hospital e ainda emprestar o dinheiro que falta. -ele ri emocionado.
Cairo: Você disse que não poderemos pagar logo? -assinto.
Malena: Luan está sendo generoso. -meu pai suspira aliviado.
Meu coração aquece,por tirar esse peso de seus ombros.
Cairo: Acho que ele ainda gosta de você! -diz sem graça e eu nego.
Malena: Só estamos sendo civilizados.
Cairo: Seu velho pai sabe reconhecer um homem apaixonado e o jeito que ele te olha,quando você não está olhando,confirma minha tese. -sinto as bochechas esquentarem.
Malena: O que importa agora é que em poucos meses a Santa Casa abrirá as portas novamente e tudo voltará ao normal. -rimos com os olhos marejados.
Cairo: Vou contar para sua mãe,ela vai ficar radiante. -sai animado e eu me jogo na cama,supirando.
De todas as possíveis voltas que eu imaginei para nós,esse é o pior jeito de todos,mas talvez seja o castigo que eu mereço pelos erros do passado.

X Cap. 68, Malena X

Sem que minha mãe perceba,pego o número do Luan em seu celular e volto para o meu quarto.
A cada toque de chamada,minha pulsação aumenta e a barriga dói. Me sinto uma adolescente,prestes a fazer uma prova de recuperação,sem poder errar quase nenhuma questão.
Quando ele atende,o ar foge dos pulmões,mas forço meu corpo a reagir.
Malena: Luan,é a Malena.
Luan: Maleninha! Não sei por que,mas tinha certeza que você ligaria. -debocha.
Malena: Eu aceito. -seguro o choro.
Luan: Muito bem,amor. Você fez a escolha certa. -escuto sua risada do outro lado.
Malena: O que acontece agora?
Luan: Vamos jantar juntos hoje. Preciso te dar muitas instruções. Esse número é seu?
Malena: Sim. -engulo o nó formado na garganta.
Luan: Mais tarde te mando o endereço do restaurante.
Malena: Tudo bem,então até à noite. -estou quase desligando,quando ele me chama.
Luan: Malena? Todos devem pensar que somos um ex casal ensaindo uma reconciliação,redescobrindo o amor. Seja convincente. -a frieza em sua voz me irrita- Não deve ser tão difícil,já que fingiu me amar por cinco anos,não é?
Malena: Não ouse falar sobre os meus sentimentos. -digo rude- Até mais! -desligo.
Espero um tempo até me acalmar e desço. Encontrar meus pais tão animados faz um fiozinho de felicidade crescer em meu coração.
Consuelo: Seu pai já me contou! -diz quando me vê- Preciso ligar para o Luan e agradecer. Pensei em fazer um jantar aqui. O que acha? -rio de sua empolgação.
Malena: Jantaremos juntos hoje. Transmitirei seu convite. -ela ri maliciosa.
Consuelo: Está sentindo esse cheiro de reconciliação,Cairo? Seria um sonho vê-los juntos de novo.
Cairo: Luan é um bom homem e como eu te disse,parece que ainda guarda sentimentos do passado. -forço um riso.
Mal sabem eles quem é o verdadeiro Luan,ou no que ele se transformou.

X Cap. 69, Luan X

O estouro da garrafa de champanhe preenche minha sala.
Luan: À minha vitória! -brindo com Nonato.
O gosto doce da vingança na boca e a satisfação vibrando no coração. Finalmente,esse momento chegou!
Nonato: Vai ser difícil ficar perto dela sem ceder. Pelas fotos que eu vi,ela é uma mulherão.
Luan: Mais respeito com a minha mulher,rapaz! -cerro os olhos para ele,que ri.
Nonato: Sua mulher?
Luan: Não é o que ela será muito em breve?
Nonato: O prazer com que você fala isso,me obriga a concordar com a Mariá. -coça a nuca.
Luan: Não fala merda. Por hoje,você está dispensado. Eu mesmo quero dirigir. -ele assente.
Nonato: Então,até amanhã. -sai.
Luan: Cora,faça reserva para hoje,no restaurante de sempre. Para dois. -digo pelo telefone.
Cora: Sim,senhor.
{...}
Deixo os dois primeiros botões da camisa social preta abertos e analiso o reflexo no espelho. Rio,lembrando das vezes que Malena dizia o quanto eu ficava sexy todo de preto.
Juro que me arrumar assim para o nosso jantar não foi proposital.
Borrifo o perfume,ajeito o topete. Pronto.
O caminho até o restaurante é tranquilo. A noite parece mais estrelada,o ar mais fresco e as pessoas a minha volta mais felizes. Ou seria meu estado de espírito sendo refletido?
Nada como alcançar um objetivo pelo qual você espera há anos!
Metre: Seja muito bem vindo,senhor Santana. Me acompanhe,por favor! -me direciona até a mesa reservada.
Luan: Estou esperando uma pessoa. Malena Poncino. -ele assente.
Metre: Um vinho enquanto espera?
Luan: Uma garrafa do Chateau Margaux. -peço o favorito dela.
Mestre: Com licença. -se afasta.
Fixo os olhos na porta e uma ansiedade irritante me toma.
"É só um jantar de negócios,idiota!" -minha consciência alerta.

X Cap. 70, Malena X

O dia se arrastou e quando,finalmente,Luan mandou a mensagem com o endereço do restaurante e o horário do jantar,um pânico se instalou.
É como se as coisas se tornassem reais após esse encontro. Eu,literalmente,estou me entregando para um homem que não faço ideia de quais planos tem para mim,mas com certeza não são bons.
No banho,tentei sem sucesso me acalmar. Nem mesmo a água quente foi capaz de relaxar meus músculos tensos.
Me arrumei lentamente e no final,gostei do resultado.
Consuelo: Não esquece de fazer o convite! -diz,assim que coloco os pés na sala.
Malena: Não tem como esquecer,a senhora falou disso a tarde inteira. -ela ri.
Cairo: Você está linda,princesa. -beija minha testa- Agradeça ao Luan por mim. -assinto- Cuidado no trânsito.
Cheguei no restaurante,e vê-lo tão lindo só fez meu nervosismo aumentar. O maldito sabe que eu adoro quando ele veste preto e tenho certeza que fez de propósito. Ao me ver,riu de canto e pude ouvir a voz de Kiara dizendo "molhador de calcinhas".
Luan: Minha avó diz que quando duas pessoas se vestem com a mesma cor, é porque os pensamentos estão conectados. -beija meu rosto como sempre tem feito,raspando o nariz em minha bochecha,aspirando o perfume e sua mão apertando de leve minha cintura.

X Cap. 71, Luan X

Aproveitamos para fazer logo nossos pedidos e foi impossível não observá-la,enquanto escolhia.
Deveria ser pecado sair de casa tão linda assim. E para que precisa ser tão cheirosa?
Malena: Vamos direto ao ponto?
Luan: Ah não,negócios só depois do jantar. Pode dar indigestão,Maleninha. -ela revira olhos.
Malena: Seu deboche me irrita!
Luan: Estou apenas preocupado com a minha futura esposa e tentando ser gentil também,afinal vamos passar o resto da vida juntos,nossa relação precisa ser ao menos amigável,não acha? -Malena ri sem humor,começando a ficar corada.
Ela sempre fica linda ruborizada de raiva!
Malena: A última coisa que isso vai ser é amigável. -bebe um gole generoso de vinho- Meus pais pediram para eu te agradecer,agora você é quase um santo lá em casa. Só falta o altar. -bufa e eu seguro o riso.
Luan: Gosto muito deles,sempre me trataram como um filho. Mesmo seu pai me barrando de dormir no seu quarto. -ela ri fraco.
Malena: Se ele soubesse das coisas que já fizemos. -rimos.
Luan: Com certeza,meu amigão sofreria as consequências. Ele ainda tem aquela coleção de bisturis?
Malena: Está ainda maior! -mais sorrisos.
Luan: Lembra aquele dia na rede,lá na fazenda?
Malena: Claro! Ele quase nos flagrou,você ficou tão nervoso que me fez cair da rede. Passei uma semana mancando. -ri com mão na barriga.
Quando percebemos o que estamos fazendo,os dois param. Me ajeito na cadeira e retomo minha postura.
Por alguns minutos pareceu que oito anos não tinham se passado e éramos os dois jovens noivos,cheios de vida e amor,pelo menos da minha parte.
Isso não pode acontecer de novo,não posso esquecer os reais motivos que me trouxeram aqui.
Malena: Minha mãe pediu para te convidar para jantar lá em casa no sábado. É o jeito dela de agradecer,você conhece. -diz fitando o prato.
Luan: Irei com prazer,dona Consuelo é uma anfitriã como poucos.
Não demora para os pratos chegarem e comemos sem trocar qualquer palavra,ou olhar e eu até prefiro que seja assim.
Malena: Saudades da vó Cecília. Ela sempre foi um amor de pessoa comigo. -me afasto,tentando controlar a respiração.
Efeitos idiotas que esse homem me causa.
Luan: Ela também sente muito sua falta. Ainda mora no mesmo lugar,garanto que vai adorar receber sua visita. -sentamos um de frente para o outro.
Como ontem,nos perdemos no tempo,só trocando olhares. Parecemos querer decifrar as almas um do outro,descobrir nossas intenções.
Metre: Com licença. O vinho. -quebramos o contato e ele nos serve.

Linha Tênue.Onde histórias criam vida. Descubra agora