35

5.2K 330 3
                                    

WL: Já disse que não vim falar nada contigo. Levanta aí, filho da puta. - ele disse pro Marcio, que nem conseguia se mexer. - Tua sorte é que é minha perna tá ruim.

Márcio se levantou com muito custo, e foi em minha direção. Pegou a tesoura, e começou a cortar o meu cabelo ali mesmo. Enquanto eles olhavam.

Eu só conseguia chorar. O WL sabia o quanto eu amava o meu cabelo, tanto que ninguém botava a mão.

WL: Eu te dei tudo, sua vagabunda. E tu foi me trair, dentro da favela, com esse comédia. - ele veio andando pro meu lado. Tomou a tesoura da mão do Márcio e começou a picotar meu cabelo todo.

Os caras levaram o Marcio e ficamos só eu e ele no quarto. Tentei abraçá-lo e ele me empurrou.

WL: Tira a mão de mim, piranha. - me deu um socão na boca.

Jamily: Pelo amor que você tem ao Junior, não faz nada comigo.

WL: Não fala do meu filho, porra. Cala a boca! Se eu ouvir sua voz mais uma vez, vou te dar um tiro. Agora levanta!

Eu levantei, e peguei uma bolsa com as roupas, porque sabia que ele ia me mandar embora da favela.

WL: Tá pegando essa porra por quê? Deixa esse caralho aí. Vai sair com a roupa do corpo, com o cabelo assim e os caras vão te levar.

Jamily: Pra onde? - deixei as coisas em cima da cama. - Posso levar pelo menos as coisas da Mariana?

WL: Tá de sacanagem né, garota? Tu vai se virar pra fazer enxoval com o pai da tua filha. Nada que tá aqui, tu vai levar. Quem pagou essa porra, fui eu. - ele me deu um porradão na cabeça. - Vai logo, se adianta.

Eu sai, o DG estava com o Junior no quarto dele brincando, e ele nem me viu. Realmente, eu era uma péssima mãe. Naquele momento, eu tive a certeza.

Entrei no carro com o Marcio e os caras, eles levaram a gente pra praça, que era já frente da casa do Marcio e deixaram lá. Era horário de comércio, então todo mundo ia ver.

WL: Nenhum dos dois vai embora daqui, eu vou ficar de olho. E você, sua piranha, não aparece mais na vida do Junior. Se não, já sabe... - e saiu.

Fiquei pensando no quanto eu era burra, porque podia ter ido embora de madrugada. Mas fiquei com medo de ter alguém me esperando e ia ser pior.

O foda agora é que o Marcio tem uma mulher e 2 filhos. Eu não tenho ninguém na favela, minha avó mudou, minha tia também. O que eu vou fazer?

O Marcio ficou na mesma posição de que saiu do carro, acho que ele não tinha força pra fazer nada. Olhei pra frente e vi que a mulher dele vinha, por conta do caralho, com um pedaço de madeira na mão.

ALGUNS DIAS DEPOIS

(...)

Apanhei como nunca aquele dia, só no rosto e nas costas, a mulher batia e dizia que tinha pena de minha filha.

Pra minha sorte, a mãe da Mirela passou e me tirou de lá, me levando pra casa dela. Naquele dia, eu me arrependi de tudo que eu fiz, desde a primeira traição.

A Mirela e a mãe dela não tinham uma condição boa, sabe? Mas ficaram com pena de mim e me acolheram. Enquanto elas saiam pra trabalhar, eu cuidava da casa, fazia a comida. Até porque, além do medo de botar a cara na rua, tinha a vergonha, que eu ainda acho pior.

Fiquei sabendo que o Márcio precisou fazer uma reconstrução no rosto e no pênis. Sempre ouvi dizer que os cara do Queiroz são ruins, mas depois disso, eu tive certeza.

A mulher dele veio me procurar depois disso, mas a tia Marlene que atendeu, eu não tenho cara e pensei que fosse apanhar de novo. Ela veio trazer um dinheiro, pra eu comprar roupas pra minha filha e fazer o enxoval dela.

A Mirela arrumou o meu cabelo, e até que não ficou tão ruim. Mentira, ficou, mas cabelo cresce. E quanto às roupas, fiquei com algumas dela e da tia.

A minha filha está bem, mas não consigo encarar a mim e a minha barriga no espelho, só choro.

Outro dia, eu estava levando o lixo pra fora e o Junior passou com a Janaína, me escondi e fiquei olhando de longe. Ele estava lindo, forte, corado, todo feliz e bem tratado. Ele não merece a vergonha de ter uma mãe assim, não mesmo.

Se eu duvidava da existência do inferno. Eu passei a acreditar depois disso tudo.

VAMOS FUGIR!Onde histórias criam vida. Descubra agora