Jogaram a gente numa cela qualquer lá, até a transferência chegar. A madrugada foi longa, eu tentava cochilar, mas só conseguia pensar nas crianças e na minha preta. Eu já fui envolvido, geral sabe e eu não nego mermo, mas rodei por estar no lugar errado e no dia errado.
Queiroz ligou pra Eliza, que chegou lá rapidão. Eu tava sem acreditar, minha cabeça só tinha as crianças, a Malu e a minha avó. Na hora que Eliza foi lá falar com a gente, pedi pra ela avisar lá em casa só na hora do almoço, pra não dar merda.
Trocando ideia com Queiroz, enquanto comia a marmita que a Eliza levou, ele deu o papo que há um tempo, deu uma apertada num moleque lá do morro, que tava andando direito com uns playboys e levando pro baile e tal. O moleque não era cria, então já rolou aquela diferença, mas ele namorava a Mirela. Não sou de apontar não, mas tá ai, não vê quem quer.
(...)
Policial: Tem uma moreninha gata demais chorando por causa de um deles lá fora. – ele disse rindo.
Policial2: Deve ser marmitinha de bandido, tem mulher que gosta. – riu também.
Policial: Mas é gata, hein. Disperdício. – ele ficaram falando, enquanto debochavam da nossa cara, achando que iam ter a oportunidade de dar outro esculacho em um de nós.
Eu vou fazer o quê? Apanhar mais? Tava nem me aguentando com as dores do meu corpo, mas eu sabia que era a Malu. E aquilo me deu um nó na garganta, pprt. Não sei se era mais raiva deles falando dela, ou de mim, por fazê-la passar por isso.
Policial3: Levanta ai, tem 5 minutos de visita pra você. – apontou pra mim. Levantei e fui pra sala que ele me levou, bagulho de algema dói pra caralho, se foder.
Fiquei em pé na sala virado pra porta, e ela veio, chorando muito. Não aguentei e deixei cair também.
Acho que a pior parte de ficar preso, é pensar na família lá fora. Se aqui eu sofro, lá eles sofrem o dobro. To me sentindo um merda, tá ligado? Pior sensação. Fico aqui pensando que não vou ver as crianças crescendo, e sem contar na barriga da Maria Luiza. Não vou curtir essa fase.
Chegamos aqui e já encontramos vários irmãos de firma, já deram a planta toda pra nós. Pelo menos falar com a Malu eu vou conseguir, os cara tem tudo aqui. Fé!
Não sei quanto tempo vou encarar esse inferno aqui, né? Já tava até esquecendo que tá perto do Natal. Ossada!
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VAMOS FUGIR!
Non-Fiction{2016} FINALIZADA! O que é seu, sempre vai ser seu, não importa quantas voltas o mude dê. Se é teu por direito, volta pro lugar. Depois de perder sua mãe, Maria Luiza precisa morar com o seu pai em um lugar novo, no meio disso tudo, conhece o amor d...