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JAMILY

Eu não aguento mais viver assim. Juro! Vivo me prometendo que vou sair dessa vida, que vou tentar ser melhor, mas tá em mim, não dá.

Conheci o Wesley, eu tinha 17 anos, foi assim que ele se envolveu no movimento. Meu sonho sempre foi ser mulher de um deles, cresci vendo minha prima montada no ouro, tendo tudo o que ela queria, andando montada, nunca tava feia. E era aquilo que eu queria.

Nunca tive noção de nada do que ela passava com o falecido dela, nem na rua, com a fiel dele ou com as lanchinho. Ela tinha pose, não deixava ninguém perceber nada. E eu cresci nessa ilusão.

Aos 16, comecei a me envolver com eles, ia em festinha privada, sarrava nas cintura ignorante, dava pra quem quisesse me comer, na esperança de que algum deles fosse me assumir. O que nunca aconteceu, porque querendo ou não, eles gostam de mulher posturada, não de mulher de bonde. É só olhar pra Eliza, a mulher sempre foi o sonho de qualquer vagabundo desse morro. Queiroz teve que ralar muito pra conquistar. E ninguém tira farinha com ela, ele não deixa, e ela menos ainda.

Falando em Eliza, tenho certeza que foi ela que contou pro WL que eu traio ele. Tava no beco, saindo do carro do Marcinho, um taxista que mora aqui no morro, e ela passou na moto dela. Ela me encarou firme, pra eu ter certeza que ela me viu. E como ela adora essa patricia que o WL come, é claro que ela ia falar.

Liguei pro WL, porque eu queria buscar meu filho. Ele foi todo ignorante, dizendo que ia acabar comigo, e quando ele fala, ele faz mesmo.

Ele é um dos caras mais tranquilos desse morro, eu dou graças a Deus pelo pai que dei pro Junior. Eu nem sei porque o WL é envolvido. Quem conhece o filme Cidade de Deus e vê o Bené, vê o WL. Já a Mariana, eu não sei o que vai ser de nós duas.

Gostar do WL de verdade, eu não gostava. Eu era afim dele, porque ele mete pra caralho. E eu sabia que se eu engravidasse dele, ele não ia me largar. Ele ama criança, o sonho dele é formar família. E o status que eu tinha na favela por ser "a mulher do WL", me enchia os olhos.

Nunca deixei de dar meus perdidos, chorava com ele no telefone, mas sentava pra outro depois. Eu sei que ele nunca vai me amar, ele ficava comigo por carência, porque essas ratinhos da rua, não dão pra ele o que eu dou. Isso eu posso dizer.

Quando engravidei do Junior, eu tinha certeza que era dele, e fiz de propósito. Assim que nasceu, não deu outra. Ele é o WL todo.

To aqui deitada na cama, desesperada, Mariana não para de se mexer e qualquer barulho que eu ouço na rua, acho que é o Wesley vindo fazer algo comigo.

(...)

O dia amanheceu, eu acabei cochilando sentada na cama com as minhas coisas. Ouvi um barulho na porta e já me encolhi. Eu tinha certeza que o WL não ia me bater, mas também não ia deixar passar batido.

WL: Junior, se despede da sua mãe, porque tu nunca mais vai ver essa filha da puta.

Jamily: Não faz isso comigo, WL. Não me proíbe de ver o Jr. Tudo. Menos isso.

WL: Não vim aqui pra conversar contigo. - ele botou o Junior no chão. - DG, Cúrio e D2, traz o cara aqui. - ele gritou.

Meu coração parecia que ia sair pela boca, achei que ia entrar em trabalho de parto ali mesmo.

DG pegou o Junior e tirou ele de lá. Ele começou a chorar, mas logo parou. Os outros dois trouxeram o Márcio. Ele parecia um morto vivo, careca, com a cara toda ferrada, a roupa toda suja de sangue, nem o olho ele conseguia abrir.

Jamily: WL, por favor. Eu to grávida. - eu implorava, chorando.

VAMOS FUGIR!Onde histórias criam vida. Descubra agora