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5 MESES DEPOIS

MARIA LUIZA

Estou aqui no hospital com o meu pai, ele não tá nada bem. Tentei descobrir o que tava acontecendo antes, mas só descobri quando ele passou mal. Dr Pedro está com um câncer no estômago, viveu todo esse tempo deixando a doença se agravar e tentando o nosso perdão. Ainda bem que conseguiu, eu nunca ia me perdoar se deixasse o meu pai morrer sem saber que eu o perdoei de verdade e que eu o amo. Tenho passado a maioria todos os dias com ele, desde que ele deu entrada na internação, a Edna leva as crianças para vê-lo e fica lá no tempo d'eu ir em casa, tomar um banho, comer alguma coisa e resolver as coisas das lojas. Tranquei a faculdade, abri uma loja pra mim, to administrando a clínica e a Edna administra as concessionárias.

Tomei banho, comi, passei na loja pra ver como as coisas estavam, e tudo muito bem. Fui até o escritório do Renato, que era bem pertinho do shopping. Cumprimentei a secretária e a achei um pouco estranha, falou mais que o normal, parecia que queria me prender.

Entrei na sala sem ser anunciada e pra minha surpresa, o Renato estava aos beijos com a Joana. Os papéis no chão, ela semi nua e ele igual. Respirei fundo e fechei a porta. Me despedi da secretária que pelo semblante, não entendeu nada.

Voltei pro hospital e meu pai parecia melhor, estava falante, sorrindo com a Edna e com as crianças.

Malu: Demorei?
Edna: Claro que não, pretinha. – ela me olhou e já sabia que algo tinha acontecido. Levantou de onde estava, me deu um abraço apertado e sussurrou: O que houve?
Malu: Não merece a importância, depois falamos sobre. – sussurrei de volta e nos soltamos.

O quarto em que meu pai estava internado era no sexto andar, abri a janela, peguei a aliança e o cordão que o Renato tinha me dado e arremessei de lá mesmo. Meu pai ficou me olhando, sem entender nada, mas entendendo tudo. Edna pegou as crianças, me despedi deles, dei um cheiro bem gostoso e fiquei lá com meu pai.

Conversamos muito nessa noite, falamos de coisas que nunca imaginei conversar com ele. Já estava tarde, arrumei-o a cama, botei a coberta por cima, e me sentei na cadeirinha reclinável ao lado dele. Ele segurou firme na minha mão e deu um beijo.

Pedro: Preta, você me perdoou de verdade?

Malu: Claro, pai. Eu te amo, o seu amor, o nosso amor quebrou todo o rancor que existia aqui. Eu te amo muito e te agradeço por tudo que fez e faz por mim. E se Deus quiser, vai continuar fazendo.

Pedro: Eu te amo demais e tenho muito orgulho de você. Você é uma mulher incrível, merece ser amada e respeitada, merece que as pessoas sempre vejam o quão poderosa você é. Quero que você corra atrás de tudo que ama e acredita, não deixe que ninguém te diga que é impossível. Você consegue tudo. – deu mais um beijo na minha mão, segurou firme na mesma e dormiu.

Fiquei ali alisando a mão dele e acabei dormindo também. Na madrugada, escutei um barulho estranho nos aparelhos, eles não davam mais os sinais vitais do meu pai. Comecei a chorar, agarrei ele, e logo os enfermeiros e médicos começaram a entrar no quarto. Foi uma luta pra me tirar de perto dele, eu não saia de jeito nenhum.

Consegui em meio aos meus soluços e lágrimas, ligar pra Edna e avisar do ocorrido. Agora, com a doença do meu pai, a mãe dela passou a morar com a gente também. Ela disse que ia deixar as crianças com ela e que logo chegava. Mandei mensagem pra Talia, avisando também.

Eu não conseguia acreditar, estava sentada no chão, ao lado da porta do quarto dele. Passamos 2 meses juntos nesse quarto de hospital, e passamos 2 anos morando juntos. Conseguimos resgatar os que não vivemos juntos e graças a Deus, eu consegui perdoá-lo, eu consegui viver bem com ele, ele me deu todo o amor que nunca havia dado. O câncer levou a minha mãe e tinha acabado de levar o meu pai.

(...)

Edna e eu decidimos que era melhor que ele fosse enterrado no mesmo cemitério que meus avós, no interior, na cidade de onde eu vim.

Passei em casa só para tomar um banho e pegar uma muda de roupa. Edna não me deixou dirigir na serra, disse que eu precisava descansar, porque não preguei os olhos. Fui no carona, admirando a paisagem, lembrando do quanto foi maravilhoso esse tempo ao lado dele. Talia estava no carro com a gente também, largou tudo e foi me ajudar. Isso que é amiga.

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