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Sentada numa mesa um pouco afastada da multidão que saia e entrava do bar, Cecile prestou atenção em dois homens que falavam durante um e outra tragada de cigarro.

- Não está sabendo? Hoje teremos mais daqueles leilões. Um homem estava conversando com outro, sentado próximo a Cecile.

A jovem gostava de frequentar os bares da alta sociedade, era um espaço que ela podia ouvir música e se distrair, mesmo com as diversas investidas dos homens do local, Cecile nunca deu atenção a nenhum.

- Cara, aquele leilão... realmente é muito bizarro. Vender pessoas..., mas dizem que esse de hoje à noite, será especial. Eles estão dizendo que... A fera irá ser apresentada. O homem tentava ser discreto, mas sua empolgação não permitia.

Cecile estava curiosa, aquilo não era tão comum, um leilão... de pessoas, aquilo era imoral e cruel. Mas, mesmo sendo terrível não queria parar de escutar.

- A fera? Isso é apenas um chamariz para atrair pessoas... uma estupidez. O homem riu e olhou para os lados.

- Sabe, talvez podemos ir e ver o que seria essa "fera". Será no mesmo lugar do último, no edifício Everett. Será divertido... vamos. O homem sussurrou e tomou um gole de cerveja.

Cecile estava curiosa, talvez... Ela poderia ir a esse "leilão" ela ainda tinha controle da herança, faltava dois meses para ela ficar à mercê de um casamento e de um marido que a deixaria sem controle do seu próprio dinheiro.

A noite de Paris estava como sempre muito fria e agitada, as ruas lotadas de pessoas passeavam com seus respectivos parceiros, outros sozinhos a espera de alguma companhia e bêbados que insistiam em provocar confusão sem nenhum motivo aparente.

Voltando para a casa Cecile pegou uma de duas máscaras que tinha em sua coleção, seu hobbie era manufaturar dezenas daqueles apetrechos, quando era mais nova tinha ficado uma temporada em Veneza e lá pode aprender a fazer belas máscaras em porcelana e outros materiais.

"O leilão acontece anonimamente, precisamos arrumar as máscaras antes de chegarmos ao prédio, você não vai querer que as pessoas te reconheçam" Cecile recordou o homem mais cedo falando com seu amigo sobre as normas daquele evento.

- Senhorita, aonde vai a essa hora? Uma das empregadas se assustou ao ver a jovem saindo de casa.

- Vou ... ah, estou sem sono e vou passear um pouco, não se preocupe irei com o motorista, não me espere acordada ... Cecile deu um leve sorriso e partiu para o endereço.

Ao chegar ao edifício, a jovem estremeceu, mesmo o local sendo sofisticado tudo era tão soturno. Pessoas usavam máscaras e estavam animadas para o evento, Cecile tinha escondido sua face com uma máscara Gnaga em formato de gato adornada com detalhes em dourado e vermelho, que ela mesmo tinha feito, já que era uma distração quando não estava ocupada com os negócios da família.

- Por favor, eu estou para o evento .... Que irá acontecer. Cecile observou os olhares estranhos das pessoas, certamente ela era novidade naquele saguão.

- Pedimos um valor para a entrada deste evento senhorita. Um valor alto, não sei se.... Um homem com uma mascara de Pantalone fez um gesto exagerado com aos mãos.

- Aqui, creio que é o suficiente. E se não for ... há mais da onde veio esse. Cecile falou firme, era acostumada a ser menosprezada por ser mulher.

O homem observou o enorme valor em dinheiro, aquilo pagaria a entrada de três pessoas fácil. Deu uma última olhada na jovem e finalmente a deixou entrar.

Cecile conheceu metade daquelas pessoas, mesmo com as máscaras, aquelas vozes não mentiam, a alta sociedade as vezes a enojava. Todas aquelas pessoas reunidas ali, para um leilão de pessoas? E ela... estava também naquilo... sabia que deveria ter lutado para não vir, que sua curiosidade poderia a fazer coisas que não seriam boas.

O local era uma espécie de teatro, com poltronas num tom vermelho e pessoas animadas cochichavam entre elas sobre as maravilhas de ter um momento como aquele, outros ficavam ansiosos pois queriam comprar os nomes exemplares que estavam sendo anunciados.

"Essas pessoas ... elas têm noção do que estão fazendo? Animados para comprar um ser humano? Como fossem animais ..." Cecile se encolheu na poltrona, porém voltou a atenção agora para o enorme palco antes sem luz agora refletia um clarão no centro do palco.

Finalmente as cortinas do lugar se abriram, e um senhor muito bem vestido começou a falar, e anunciar as "peças" uma a uma, Cecile estava desconfortável, tudo aquilo... Não era certo, aquilo era medonho.

- E por último, senhoras e senhores! Contemplem a fera!!! Um exemplar único, quem o possuir irá ter uma arma! O senhor apontou para uma jaula coberta com um tecido azul.

Cecile estava prestes a sair, quando aquilo chamou sua atenção.

" Uma... Arma?" a jovem ficou observando as pessoas que se animaram a ouvir um barulho de gritos e uma movimentação com homens com facas e um chicote em volta a jaula. 

Me liberteOnde histórias criam vida. Descubra agora