POV. Camila Ferreira Gonçalves
O médico que estava no casarão no momento do óbito foi quem cuidou das coisas do velório, porque ele percebeu que a minha esposa não estava em condições. Estava muito abalada, mesmo tentando se fazer de forte era nítido que ela não estava nada bem em ser a linha de frente daquela situação. Ela era a filha mais velha, independentemente se eles tiveram pouco tempo para se relacionarem, ela era a primeira filha de Domingos e havia um amor genuíno de pai e filha que nem mesmo a distância poderia atrapalhar.
Acabou que toda responsabilidade iria cair em sua cabeça, mas graças a Oxalá tivemos ajuda.
Quando o corpo de Domingos chegou na capela da fazenda, minha mente pareceu reproduzir a cena do caixão de meu pai sendo velado naquele mesmo local. Para piorar toda a situação a chegada de Rosa e Pedro deixou o clima ainda mais pesado.
- Eu não sei se quero ficar aqui... - Disse minha esposa baixinho.
Estávamos do lado de fora da capela, mas dava pra ouvir os gritos de Pedro querendo respostas do porque ele e sua mãe não foram comunicados antes.
- Tu precisa ajudar Carol, meu amor. - Sussurrei baixinho em seu ouvido no instante em que abraçava seu corpo na tentativa de passar algum tipo de conforto.
- Não tô legal, não...
Sua voz fraca dilacerava meu coração.
- Quer ir pra casa um pouco?! Podemos chamar sua mãe e Carol pra tomar um chá... Não sei. - Olhei em seus olhos verdes e vi o quão perdida ela estava.
- Pode ser...
Disse ao se sentar no banco de madeira na área externa da capela.
- Fica aqui, tá? Eu vou lá dentro chamar as duas.
Selei seus lábios antes de entrar a procura de Carol e Sarah.
- ISSO É UM COMPLETO ABSURDO! - Pedro estava aos gritos com os amigos de Domingos. - EU SER O ÚLTIMO A SABER.
- Pedro, respeite o papai. - Carol estava devastada.
- CALE SUA BOCA, CAROLINA.
Ele estava completamente descontrolado.
- Ei, tu não fale assim com ela não viu?! - Me meti.
- EU FALO DO JEITO QUE EU BEM ENTENDER, CAMILA.
Minha esposa entrou pela primeira vez na capela, nem parecia a mesma pessoa que eu havia deixado lá fora agorinha mesmo. Estava tomada pelo ódio.
- Escuta aqui seu babaca, foi ele quem pediu para não lhe avisar porque queria partir em paz. Entendeu? Está mais do que obvio que sua presença não traz isso a ninguém.
Lauren estava cara a cara com Pedro, não elevou o tom de voz para passar aquele recado.
- Ou você respeita o velório do meu pai, ou eu te arranco daqui de dentro e te dou uma surra lá fora. Você escolhe. - Ela sussurrava suas palavras num tom ameaçador.
Pedro riu na cara de Lauren e soube naquele instante que o pior ainda estava por vir.
Certas coisas não dá pra fugir;
Eu me lembro muito bem da decisão que tomei quando pedi pra Lauen me deixar em paz, parte dela era por temer esse enfrentamento constante entre Pedro e ela. De que adiantou, se o destino desses dois estavam traçados pelo laço de sangue que os uniu.
- Tá me ameaçando, irmãzinha? - Ele baixou o tom de voz.
- Não, não é uma ameaça. É uma jura. - Concluiu minha esposa num tom de dar medo.
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Tropicana
RomanceLauren é fruto de um romance entre um nordestino e uma americana; nasceu no Estados Unidos, nunca pisou no Brasil e nem mesmo conhece seu pai. Tinha de tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. Alcoólatra aos 27 anos, valentona que vive se metendo em co...