Capítulo 24: Pouquinho de Muçumbê

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POV. Camila Ferreira

Fomos para outro estado, mas graças à Deus continuamos no nordeste brasileiro. Pelo menos o choque de cultura não seria tão grande e a nossa adaptação seria mais tranquila.

Viajei de avião pela primeira vez e foi assustador. Olhava pela janela e não conseguia enxergar nada. Inveja eu tive foi de Carol que teve o ombro de Vitória pra dormir. Ao chegar fiquei feliz em saber que moraríamos perto do mar, correria pra ele toda vez que eu me sentisse mal.

A casa que o Domingos alugou era relativamente grande, o que me levou a pensar em toda grana que estava sendo gasta com aquilo tudo.

— Bom que a gente ainda tem um dia antes do réveillon pra arrumar nossas coisas. - Disse Carol.

— A casa não é tão grande, rapidinho a gente arruma. - Falou Vitória.

— Minha gente, tem três quartos, dois andares... É grande sim. - Falei ao colocar as malas no cômodo já decorado como sala.

— Mas Mila, já está quase tudo pronto. Só precisamos dar uma limpadinha e escolher nossos quartos.

— Limpadinha não, uma bela faxina porque olha o tanto de poeira. - Passei o dedo na mesa de centro e mostrei pra Carol. - Escolham o quarto de vocês e que eu vou começar a limpar por aqui.

— Ixi, já vi que teremos uma fiscal da limpeza. - Vitória fez graça antes de subir com Carol.

Na cozinha achei alguns produtos de limpeza, mesmo não estando limpa a casa parecia já ter sido preparada para a nossa chegada.

Comecei a faxina no andar de baixo e aquilo me serviu como distração já que ouvi alguns barulhos vindo lá de cima. Diacho, teria que dividir o mesmo teto com um casal cheio de fogo.

Dei um tempo para que elas curtissem o novo lar e subi para organizar meu quarto.

Eu é que não dividiria parede com parede com aquelas duas, então peguei o quarto mais afastado o da ponta. Já estava noitinha quando terminei de arrumar meu canto, Carol foi me chamar para jantarmos fora. Antes tomei um banho rápido e coloquei um vestido já que o clima era tão quente quanto o de Muçambê.

Fomos para a orla da praia e jantamos num desses quiosques beira mar e automaticamente me lembrei da viagem que fizemos ao litoral.

— Que foi Mila? Não tá feliz?

— Claro que estou, Carol. - Forcei um sorriso. - Que pergunta besta...

Desde o acontecido ninguém mais tocou no nome de Lauren na minha frente, mas certas coisas nem precisam serem ditas para serem lembradas.

Olhando o mar pedi que eu consiga tirar essa mulher da minha cabeça quando as aulas começarem.

POV. Lauren P. Gonçalves

Mais um ano se encerrava e todos os meus projetos seguiam engavetados. A última vez que me empolguei em fazer algo, foi em Muçambê.

— Você precisa voltar a escrever, Lauren.

Madison estava o tempo inteiro por perto, as vezes ela chegava a ser mais presente em minha vida que eu mesma. Ela jura que me conhece desde muito antes do colégio, mas eu me lembro de estar no ensino médio quando notei a sua existência. Mas se levarmos em consideração o fato dela ter sido minha vizinha na infância, talvez seus cálculos façam algum sentido.

A nossa história só começou quando ela fez 16 e me pediu que a ensinasse a dirigir. Com 4 anos de diferença, começamos a namorar um ano depois tudo desandou quando eu entrei na faculdade.

Ela era aquela típica patricinha que viva em Beverly Hills e que dava show por qualquer coisa, suas crises e cenas de ciúmes foi que levou ao fim o nosso relacionamento. E agora mesmo sem declarar nenhum tipo de compromisso, ela segue por perto e agindo como se ainda fôssemos namoradas.

— Preciso de um tempo, estou no meio de um maldito bloqueio literário.

— Só me preocupo em te ver assim...

— Assim como? Estou normal.

— Você está triste, Lauren. Eu te conheço à anos, caramba. Tenho certeza de que foi por causa de alguma mulher.

Ela me conhecia mesmo.
Fomos interrompidas pelo toque de meu celular e o +55 fez o meu coração disparar.

— Vou atender e já desço pra comermos alguma coisa. Pode ser? Estou com fome.

— Está bem, vou preparar panquecas pra você baby.

Atendi a ligação assim que entrei em meu quarto.

— Alô?

— Bonito pra tua cara sumir assim!!!!

Sorri ao ouvir a voz de Rita.

— É assim que você começa suas ligações? Que jeito estranho.

— Tu é besta é? Primeiro me dá um milhão de desculpas, foge de mim e depois vai embora se nem me dar tchau? Estou puta da cara com você, Lauren.

— Pare de bobeira, vai. Você pode vir me visitar, oxi.

— Olha, nem vendendo o corpo eu consigo ir prai e olha que eu já faço isso muito bem.

— Para de graça, Rita. Deixa-me te ver, estou com saudade desse teu sorriso.

Enviei uma solicitação de chamada de vídeo e lá estava ela.
Ver o rosto de Carol, de Rita era matar a saudade daquele lugar que tanto me fez bem...

— Aí está, esse teu sorriso é a coisa mais linda. Sabia? - Rita estava com o cabelo jogado no rosto. - Tire esse cabelo da cara, mulher.

— Nã. Deixa assim mesmo. - Falou ela, estava um pouco de lado na câmera parecia esconder algo.

Usava um vestido de alça exibindo aquele colo bronzeado.

— Não, poxa. Amarre esse cabelo, Rita.

— Não, Lauren. Poxa.

— O que você tá escondendo? Vamos, prenda.

Ela resmungou, mas prendeu rapidamente num coque e ficou ainda mais de lado.

— Rita! - Chamei sua atenção e ela me olhou mostrando uma marca roxa em na maçã de seu rosto. - Que porra é essa? Quem fez isso com você?

— Foi um acidente, Lauren.

— Que acidente foi esse? Me fale então.

— Tu não vai desistir, não é?

— Não.

— Foi um marmota que acabou passando dos limites num programa...

— Não foi aquele retardado de Pedro não né?

— Um amigo dele.

Dei um soco na cama.

— Que merda Rita, chega dessas coisas vai...

— Essas coisas pagam meu sustento, Lauren.

— Vou dar um jeito de te trazer pra cá.

— Pare de fuleragem, Lauren.

— Estou falando sério, Rita. Vou dar um jeito de te trazer pra cá, um emprego num café ou num bar tu vai ganhar o triplo que ganha nessas paradas aí. Não falo pelo trabalho e sim pela sua integridade física.

— Tu fala de um jeito que chega me dá um negócio.

— Estou falando sério, Rita. Se você falar que aceita, vou correr atrás de tudo. Conheço muita gente no consulado, vai ser mole. Só preciso que você aceite de verdade.

— Eu não sei nem falar essa tua língua, mulher.

— A gente dá um jeito, só vou te pedir um favor.

— Fala...

— Não conta pra ninguém, tá?

— Tá certo.

O semblante de Rita se iluminou com aquela proposta;
Talvez trazer um pouquinho de Muçambê para cá seja a solução. 

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