Capítulo 62: Camila

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POV. Camila Ferreira Gonçalves

Mal tive tempo de olhar ao redor, porque assim que sai do carro fui colocada pra dentro de casa por Vitória.

- Não, não. - Dizia ela ao me direcionar para dentro de casa. - Pode entrando e se aquietando aí que tu é a noivinha... - Fez uma pausa. - As duas são noivinhas, né, só que... Ahhh tu entendeu. - Vitória não teve raciocínio para concluir seu pensamento. - Carol me mata se eu deixar tu sair antes da hora. - Concluiu.

Neguei com a cabeça achando graça de Vitória. 

- E o Pai Varela?! Ele veio? - Perguntei visivelmente ansiosa pela resposta.

Vitória sorriu e assentiu com a cabeça.

- Já conheceu Lauren e tudo. - Disse ela.

Foi inevitável não sorrir com aquela notícia.

Flashback on  

Não era novidade pra ninguém que depois daquele rebuliço todo, depois que Lauren voltou para o Estados Unidos eu fiquei muito mal; mesmo que tenha sido eu a culpada da sua partida, aquele não foi um pedido de coração.

Eu não queria que ela tivesse ido, só me assustei em ser assunto na boca do povo, me assustei com a reação de mãe... Me assustei com aquele preconceito todo.

- Oi... - Disse ao chegar. - Posso entrar? - Perguntei ao parar em frente a porta do escritório de atendimento. 

- Claro, filha. Entre. - Disse sorrindo. - Que alegria te ver por aqui menina.

Dei um leve sorriso e suspirei ao sentar na cadeira.

- Acho que a última vez que te vi por aqui foi numa festa de Cosme com seu pai. - Sorri ao lembrar daquele dia.

Em lugares como Muçambê, ou que seja, pequenas cidades do interior... A festa de Cosme e Damião é o dia mais aguardado por todas as crianças.

Geralmente em festa de Cosme e Damião os templos de Umbanda abrem suas portas para celebrar a alegria dos Erês com muito doces e as vezes brinquedos. Então para uma criança pobre como eu era, aquela festa era o momento mais aguardado do ano inteiro, mesmo mãe sendo da igreja, meu pai sempre dava um jeito de me levar para pegar doces.

- Queria poder voltar no tempo. - Confessei nostálgica.

Voltar aos tempos de criança, voltar ao momento em que Lauren decidiu ir e eu nada fiz.

- Você pode comer doce mesmo sendo adulta, Camila. - Disse ele com aquele semblante alegre de sempre. - Não tem idade para isso e você pode se conectar com seu Erê sempre que quiser... - Concluiu Varela. 

 Respirei fundo e fechei os olhos ao perceber que estava prestes a chorar.

- As vezes precisamos passar por determinadas situações para que no futuro as coisas sejam mais fáceis.

Olhei para Varela e ele estava escrevendo algo numa folha de caderno.

- E se não houver um futuro? - Perguntei e ele riu da minha pergunta.

- Sempre há um futuro. - Respondeu ele. - Passará anos e o amor sobreviverá.

Olhei atenta após aquela última frase.

- Às vezes precisamos de um susto, precisamos sofrer a dor de perder alguém para que haja mudanças... Infelizmente algumas pessoas só funcionam assim, no susto. E não sei, olho em seus olhos e algo me diz que você precisava desse susto. 

- E ela não me quiser mais? - Perguntei rapidamente. - Se ela encontrar outra pessoa? 

 - Você não entrou na vida dessa moça por um acaso, aliás, ninguém entra em nossas vidas por acaso. Tome, leve isso com você. - Me entregou uma folha escrita.

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