Capítulo 4: Professora

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POV. Lauren P. Gonçalves

Levei um tempo até concordar com essa ideia de Muçambê, não pela cidade e sim por Domingos. Meu mental não estava nada bem, lidar com a ideia de ter um "pai" nessa altura do campeonato poderia ser demais pra mim e mesmo com o mental todo fodido, existia uma lista de motivos pelos quais eu deveria continuar nessa cidade.

Primeiro descubro que Pedro anda assediando Camila, minha irmã caçula vivendo um romance lésbico as escondidas numa cidade extremamente preconceituosa... Não tinha como voltar pra casa.

Chegamos no casarão na ponta do pé pra não acordar ninguém, e na real só deu tempo de entramos em nossos quartos, tomarmos um banho e descermos para o café da manhã.

— Bom dia meninas! - Domingos estava na ponta da mesa. - Sumiram da festa...

— Estavam por aí envergonhado o nome da nossa família. - Disse o intrometido do meu irmão.

Nem mesmo esse insuportável iria estragar o que me aconteceu nessa madrugada e muito menos me fazer perder a fome.

— Oxê, que conversa é essa? - Perguntou Domingos.

— Pedrinho tá falando delas ficarem dançando com mulheres na festa, meu bem. - Disse Rosa me fazendo revirar os olhos.

A coitada de Carol estava mais branca que o guardanapo da mesa, temia por seu romance as escondidas com Vitória.

— Não sabia que no Brasil era proibido dançar com pessoas do mesmo sexo.

Falei enquanto cortava um pedaço de pão, olhava diretamente para Pedro com um sorriso debochado nos lábios.

— Sabe Pedro... - Fiz uma breve pausa ao passar um pouco de manteiga no pão. - Você deveria ter feito o mesmo...

Pedro bateu na mesa nervoso com a sugestão, enquanto eu degustava calmamente daquele pão caseiro fresquinho.

— Tu tá querendo insinuar o que com isso?

Solto um riso fraco assim que terminei de engolir o pão que certamente me cairá mal, pela péssima companhia.

— Ter feito o mesmo... Dançado. Com uma moça, sabe?

— Não gosto de dançar. - Rebateu meu irmão.

Concordei com a cabeça enquanto limpava os lábios no guardanapo.

— Eu percebi, realmente seu negócio outro... - Me inclinei pra sussurrar bem próximo de Pedro. - Assediar não é mesmo?

Esse assunto não passaria em branco e na primeira oportunidade conversaria com Domingos sobre o acontecido.

Me afastei e Pedro riu, estava prestes a começar seu show quando Rosa se meteu.

— Domingos, faça alguma coisa! - Pediu ela.

Mas meu pai continuou calado e apenas observando.

— Elogiar não é assédio. - Rebateu Pedro.

— Quando a pessoa se encontra em seu ambiente de trabalho é assédio sim. Ela estava nitidamente incomodada com seus "elogios", irmãozinho. Tenha um pouco de vergonha nessa tua cara barbuda.

— Camila não se sente incomodada com nada.

Neguei com a cabeça rindo daquele absurdo.

— Pedro e Camila se conhecem desde pequenos, foram criados praticamente juntos e não vejo problema algum se ele for apaixonado por ela. - Rosa tomou as dores.

Ah meu Deus, o problema era muito maior do que eu imaginava.

— Realmente, problema não há. Mas alguma vez a senhora já parou assim pra pensar se Camila sente o mesmo?

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