POV. Camila Ferreira Gonçalves
Deus sabe de todas as coisas.
Há tempos eu venho sentindo o efeito que essa frase tem, e hoje posso afirmar que a senti em sua plenitude. Tivemos que voltar de nossa lua de mel antes da hora, pois Domingos estava partindo.
Senti na minha alma a tensão se instalar em cada centímetro de meu corpo assim que chegamos em Muçambê.
- Como ele está? - Perguntou Lauren assim que viu sua mãe.
Minha esposa estava abalada, independentemente de qualquer coisa... Era seu pai que estava indo embora deste plano.
- Está partindo, filha. - Disse Sarah. - Vem, vamos até o quarto dele. Ele só fala de você e quer muito te ver.
Lauren me olhou antes de seguir com sua mãe para o segundo andar do casarão.
É doloroso demais ver a pessoa que tu ama triste.
Aparentemente éramos só nós naquela despedida, porque Sarah ainda estava hospedada no casarão e isso só pode significar uma coisa: Rosa e Pedro ainda não estavam pelas bandas de Muçambê.
- Meu Deus... - Falei baixinho ao perceber que àquilo realmente estava acontecendo. - Ele estava tão bem no dia do casamento, só ficamos longe dois dias ou nem isso. - Estava falando sozinha.
- Oxii... - Rita apareceu literalmente do nada e quase me matou de susto. - Tu ainda não percebeu não foi?!
- Mulhê, como tu me aparece assim do nada?! - Massageei meu peito por causa do susto. - Não percebi o que?
Minha cabeça estava aérea com toda aquela situação.
Todos nós sabíamos que aquela cerimônia era o seu último desejo, mas não imaginei que seria assim tão rápido. A piora de Domingos não fazia sentido algum, era como se ele estivesse com os dias contados e isso era assustador demais.
- Essa doença é assim mesmo. - Disse Rita com a maior naturalidade. - Traiçoeira.
Se sentou no sofá com uma serenidade que eu cheguei a invejar.
- Aliás, a vida é assim. - Continuou. - Uma hora tu tá boazinha e na outra pode não acordar.
Sua naturalidade em falar desse assunto chega me deu um frio na espinha.
- Armaria Rita! Que coisa gasturenta de se dizer nesse momento. - Esfreguei meus braços para conter o arrepio. - E Carol? Rosa?
- Carol tá lá no quarto com ele. Não arreda o pé desde a noite que ele ficou bem ruim. Domingos pediu pra avisar Rosa e Pedro só quando ele for.
Pelo menos não teríamos que lidar com Pedro durante esse momento tão difícil. Depois de algumas horas minha esposa desceu acompanhada por um médico enquanto Sarah amparava Carol.
- Dona Lauren, se a senhora permitir eu posso entrar em contato com a funerária. - Disse o Doutor.
Respirei fundo ao ouvir aquela frase e me levantei do sofá junto com Rita.
- Eu agradeço, cheguei a Muçambê tem pouquíssimo tempo e honestamente não me lembro mais de nada por aqui.
Lauren estava atordoada, mas seguia mantendo uma postura perante aquela situação, pois ela certamente queria ser o pilar de Sarah e Carol. Mas eu sabia que ela estava muito mal e que provavelmente irá desabar quando estivesse a sós comigo.
- Ô meu amor, eu sinto muito... - Abracei seu corpo com força. - Tô bem aqui, viu?! Se quiser chorar, tudo bem meu dengo. - Sussurrei em seu ouvido. - Sua Camila tá aqui pra te cuidar. - Disse acariciando o seu rosto olhando em seus olhos verdes que me traziam tanta paz, agora pareciam mais acinzentados.
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Tropicana
RomanceLauren é fruto de um romance entre um nordestino e uma americana; nasceu no Estados Unidos, nunca pisou no Brasil e nem mesmo conhece seu pai. Tinha de tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. Alcoólatra aos 27 anos, valentona que vive se metendo em co...