POV. Lauren P. Gonçalves
Faltava algumas horas pra meia noite do dia 24 de dezembro, isso significa que já era natal no Brasil. Peguei papel com o número de Carol e disquei.
A deliciosa sensação de que somente uma ligava telefônica é capaz de causar, o nervosismo da espera que chat on-line nenhum é capaz de causar.
Enquanto aguardava Carol atender minha mente me levou à primeira conversa on-line com Camila e toda aquela maldita espera por aquele "digitando..." me causou.
Ok, talvez o digitando... seja o novo toque contínuo de uma ligação sendo completada.
— Alô?
— Feliz natal, maninha.
Fechei os olhos ao ouvir os gritos de Carol do outro lado da linha, afastei o celular da orelha e ainda conseguia ouvir os gritos virarem xingos.
— Sua vagabundaaa, como você me some assim? Desgraçada.
— Poxa, liguei pra te desejar feliz natal e vou ficar ouvindo palavrões?
— Lauren isso não se faz. - Agora ela estava chorando.
Que droga.
— Carol, para por favor. Estou aqui agora ok? Pronto.
— Você é uma ridícula!! - Chorava e me xingava. - Tenho tanta coisa pra te contar, poxa!!!!
— Pronto, pode me contar agora. Vamos ficar a noite de natal fofocando por ligação, pode ser?
— De vídeo?
Maldita tecnologia!
— Ok. Me retorne à ligação.
Coloquei o celular na escrivaninha e me sentei na cadeira. Fazia tanto tempo que eu não me sentava ali, era onde eu costumava escrever.
Deslizei o dedo na tela para atender a ligação e lá estava Carol com o cabelo mais curto, usando óculos de grau e vestido florido.
Aquela imagem de minha irmã na tela de meu celular era extremamente nostálgica. Deus, parecia que eu havia vivido anos naquele lugar a ponto de sofrer dê saudades.
— Mulher tu está tão abatida. - Carol me olhava preocupada. - Tens comido?
Soltei um riso ao ouvir aquilo.
— Ótima recepção, Carolina. Você está bem? Me conte as novidades...
Olhei pra minha máquina de escrever e me lembrei de quando escrevia.
— Lauren, não estou gostando do seu jeito. Nem parece a mesma pessoa. Tu cortou os cabelos foi?
Passei a tesoura sem dó, desfiei por inteiro e deixei mais o menos na altura dos ombros. Olhei pra meus cabelos ao ouvir sua pergunta.
— Foi, por pura preguiça de me cuidar. Mas pare de me fazer perguntas e fale de você...
— Vou me mudar pra outra cidade!!!! Grande dessa vez! Pai deixou eu estudar longe, nem acredito que vou parar de fazer EAD.
— É mesmo? Vai continuar no mesmo curso?
— Não!!! Vou mudar pra Letras!
Abri um sorriso e sentir meu coração ficar quentinho com aquela informação.
— Olha, que interessante. Alguma influência? - Brinquei.
— Total influência! Você mudou as coisas por aqui e quem sabe um dia eu me torne uma pessoa foda quanto você.
— Foda acho exagero.
— Laur, por Deus. Você não tem ideia - Carol parou de falar ao perceber que alguém havia entrado em meu quarto.
— Baby!!! - Madison havia entrado com tudo.
— Baby???? Eiiii quem é tu??? - Perguntou Carol.
— Quem é ela? - Madison me perguntou em inglês.
Mas que inferno, Sarah.
— Depois te explico, poderia me dar licença Madison?
— Já está quase na hora da ceia e você aqui socada nesse quarto!
— Agora tu é minha mãe? Por Deus, eu tinha dito pra Sarah que não queria ceia alguma.
Carol assistia tudo com uma cara, não entendia inglês.
— Vou te espera lá na cozinha, Lauren.
Revirei os olhos.
— Ela é modelo né? Só pode. Minha nossa senhora. Que mulher linda, parece um pouco doida das ideias, mas nossa...
Dei risada.
Eu amava o jeito de Carol.
— Para vai. Continue me falando das novidades. Vai estudar sozinha? Vitória vai junto?
— Não, Vit também vai e uma amiga nossa também.
— Muito bem, assim fico mais tranquila em saber que não irá só.
— Fica tranquila mana, vou acompanhada. E por falar em mulheres... Ei, Rita sente tanta sua falta... Ela ficou tão triste quando soube que tu foi embora. Deixa eu passar esse número pra ela, mana?
Minha vontade era que as pessoas de Muçambê se esquecessem da minha existência, mas Rita era tão gente boa comigo que ao menos uma despedida ela merecia.
— Passe sim! - Falei.
— LAUREN!!!!! - Era Madison gritando da escada.
O fato de conhecê-la desde a adolescência dava a ela uma liberdade de transitar por minha casa e sem contar que minha mãe era apaixonada por ela.
— Ihhhh é a modelo, eita que até o jeito dela fala teu nome é chique né?
— Pare!!!! Nem pense em começar com esses seus negócios.
— Qual o nome dela?
— Madison.
— E o sobrenome?
— Elle. - Respondi no automático e depois percebi a merda que havia acabado de fazer. - Eiiiii!!!
— Eita que já achei o Instagram!
— Sua pentelha!!!! Você não ouse, Carol. Sério, ela é uma ex namorada e sério não damos certo. Nem tente com suas ideias malucas.
— Oxi, não faço nada.
— Tu não sabe falar inglês né? Ufa.
— Querida, já ouviu falar em tradutor?
— Vai pagar mico, porque esses tradutores são péssimos.
— Veremos.
— Carol!!! Sem palhaçada.
— Beijo, mana! Feliz natal.
Encerramos a ligação e eu então desci para a tal ceia. Falar com Carol me deixou animada.
POV. Camila Ferreira
Eu já não me empolgava mais com o natal desde a morte de meu pai, mas esse ano essa data se superou e antes mesmo da meia noite minha mãe já estava dormindo.
Aproveitei pra fazer minhas malas, pois Carol resolveu que seria melhor passarmos a nossa virada do ano já na cidade grande.
Me empolguei porque Vitória disse que era bom demais passar a festa de final de ano por lá, precisava daquela mudança urgentemente.
Meu pedido de natal era que a viagem chegasse o mais rápido possível.
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Tropicana
RomanceLauren é fruto de um romance entre um nordestino e uma americana; nasceu no Estados Unidos, nunca pisou no Brasil e nem mesmo conhece seu pai. Tinha de tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. Alcoólatra aos 27 anos, valentona que vive se metendo em co...