Capítulo 16 - parte 4 (rascunho)

17 3 0
                                    


No agora limpo e arrumado centro espacial do Rio de Janeiro, Luísa observava ambos os telepatas. O marechal já havia dito que eram um casal de irmãos, mas nem precisava, já que eram gêmeos muito parecidos, apesar de não serem univitelinos. Ela sabia que as pesquisas eram feitas em conjunto com um povo não humano, mas esses dois pareciam ser humanos. Sabia que havia raças humanoides muito parecidas com a humana, mas seria capaz de apostar que eram humanos.

– A senhora ganharia a aposta, Tenente-brigadeiro – disse o rapaz, dando um sorriso gentil. – Somos humanos, nascidos na Terra mas fomos para Pégasos ainda crianças.

– Não têm cara de ter idade para isso – disse Luísa, impressionada, mas depois lembrou-se do filho. – Claro, o meu filho.

– A senhora é a primeira pessoa que nós vemos ciente dos nossos dons sem receio de nós por causa disso – comentou a irmã, impressionada. – Eu sou a major Helena Randal e o meu irmão o major Jammes Randal.

– Bem, meus caros – disse Polanski, tranquila. – Acredito que isso esteja mais para um grande fardo do que um dom, sem falar na responsabilidade. Não deve ser agradável saber de tudo sobre as pessoas.

O casal de irmãos olhou-se por alguns segundos e Helena foi quem falou:

– Tem razão, TB – disse ela, encolhendo os ombros. – Por isso desenvolvemos a capacidade de bloquear o uso da telepatia, como se pudéssemos ligar e desligar à nossa vontade.

– Por isso – continuou o irmão –, pedimos sinceras desculpas por termos lido a sua mente sem necessidade, mas confessamos que tínhamos muita curiosidade para saber como é a mulher mais famosa e importante da história moderna.

– Caramba, não sou assim tão importante – replicou Luísa, sem jeito. – Vocês acham que conseguiriam se comunicar com Krills?

– Nunca tivemos oportunidade de chegar perto de um, TB, mas o marechal disse-nos que a senhora capturou alguns.

– Exato, nós capturamos e precisamos de informações para podermos acabar com esta guerra.

– TB Polanski – disse Jammes, erguendo a mão. – Tem ideia do perigo que é fazer isso que pretende?

– Tenho sim, Major – respondeu Luísa, franzindo o sobrolho, um tanto zangada. – Em primeiro lugar, eu peso todos os riscos de uma ação e é por isso que eu decidi ir e não mandei ninguém; em segundo lugar, faça o favor de respeitar a cadeia de comando e pare de ler os meus pensamentos.

– Peço desculpas, TB, mas não estava lendo o seu pensamento de novo. O primeiro contato trouxe-nos muitas informações porque a senhora pensa em demasiadas coisas ao mesmo tempo. Nunca antes nos deparamos com tanta atividade mental e tão versátil.

– Sim, eu estou sempre analisando, mas não tenho o vosso treino, então preciso vocalizar. Por isso vamos nos ater a isso. Temos de arrancar informações deles. O máximo possível.

– Podemos ver o prisioneiro?

– Vamos – disse Luísa, levantando-se. – Um deles está na nave.

― ☼ ―

Polanski notou o sentimento de deferência que aqueles irmãos tiveram ao entrarem na "Marcos Pontes". Para eles, era como penetrar em algo muito velho, mas que foi a percursora das naves modernas. Andaram por alguns corredores e subiram um nível, entrando em uma porta onde se lia: "Laboratório Biológico. Entrada restrita."

Dentro estava o doutor Assunção que, ao ver os dois, sorriu e apressou-se a abraçar a major.

– Que saudades, Lena! – exclamou ele, feliz. – Tu ficaste muito tempo longe, sem falar que eu e a minha irmã ficamos presos em Júpiter!

– Eu sei, meu amor – respondeu ela. – Também tenho saudades.

Só nesse momento ele viu a mãe junto e espantou-se. Olhou ora para uma, ora para outra e abanou a cabeça, sorrindo.

– Caramba, mãe, como conhecias a Lena e o Jammes? – perguntou, muito curioso. – Estou tentando entender e não cheguei a uma conclusão.

Luísa abanou a cabeça e Jammes deu uma risada.

– O que mais tem aqui além de ti, filho? – questionou Polanski.

– Os Krills...

– Exato, os malditos gafanhotos – concordou a mãe. – Para um cientista, às vezes és meio tapado.

– É que, bem – disse ele batendo na cabeça. – Eu não correlacionei isso porque...

– Porque pensaste em vocês dois e concluíste que eu sabia de algo com relação a ambos, sendo esse o motivo de ter vindo ao lab de biologia – interrompeu Luísa. – Isso implica, claro, um relacionamento entre ambos.

Meio vermelho, Paulo disse, coçando a cabeça.

– É, estava dando tratos à bola para entender como podeiras conhecê-la, sim. Nós só não casamos porque acabamos sempre colocados em missões que nos separam por bastante tempo, mãe, e isso me fez lembrar que ainda não deu tempo para te dizer que tenho um filho com ela.

Luísa ergueu a sobrancelha e abanou a cabeça.

– Estou desconfiada que esse negócio de complicar tudo é mal de família e vem da parte do teu pai de certeza – disse ela e Helena deu uma gargalhada. – Depois contas isso melhor, filho, mas agora precisamos de acabar com isto de uma vez. Vamos ver o prisioneiro.

– Sabe, TB – questionou Helena. – Ainda estou tentando entender como conseguiu prender alguns Krills mal teve contato com eles e todos os mundos humanos e amigos, combinados, não conseguiram em cinquenta anos padrão.

– Um pouco de sorte e muita determinação, Major – respondeu Polanski, abrindo a porta para a sala ao lado. O casal de irmãos entrou e depararam-se pela primeira vez com um Krill. Ele estava em uma cela de vidro blindado e olhava para o grupo, mas era impossível saber alguma coisa pela aparência.

Fascinados, os irmãos aproximaram-se e colocaram as mãos no vidro.

– Sinto as emanações dele – disse Helena, concentrada.

– Exato, mana – comentou o irmão. – E ele está com medo. Medo e ódio ao mesmo tempo.

– Preciso me adaptar às linhas de pensamento dele – disse a major, virando-se e olhando em volta. Viu uma cadeira e pegou-a, trazendo para a frente do Krill.

– Como assim? – perguntou Luísa, curiosa.

– Eu e o meu irmão temos tipos diferentes de telepatia – explicou a militar. – Apesar de ambos podermos ler uma mente, operamos de formas diferentes. O meu irmão sente as emoções com mais força, enquanto eu ajo mais no nível do raciocínio. É por isso que sempre trabalhamos em conjunto.

Não disse mais nada e virou-se para o Krill, mas Luísa notou que ele fixou a atenção na mulher. Pensativa, concluiu que o insectóide também era telepata ou possuía algum tipo de comunicação desse nível, talvez empática.

– A senhora tem razão parcial, TB – disse a major –, mas agora preciso que se afaste de mim porque estou com a mente aberta e o seu pensamento é muito forte, interferindo as minhas observações.

– Claro, Major – disse Luísa, séria. – Eu vou à cantina comer algo e peço que me procure assim que tiver as informações necessárias.

– Claro, TB, obrigada.

Luísa fez sinal para o filho e ambos saíram da sala, deixando o casal de irmãos sozinhos.

– Agora me conta aí, filho, quero saber de tudo. Como é o meu neto?

– Mais velho que tu, mãe – disse Paulo, rindo. – Ele puxou à mãe, mas tem os meus olhos...

― ☼ ―

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora