Capítulo 2 - parte 9 (rascunho)

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– Eu também vou – comentou Faria, levantando-se. – Estou cansado. Bem, Major, a aposta está paga. Divirtam-se.

– Capitão, era para a gente dividir – disse Luísa.

– Aposta é aposta, Major – respondeu ele, rindo.

– Está bem – disse ela. – Eu e o Paulo ficaremos mais um pouco, mas vão na viatura que pegamos um táxi. O coitado do soldado precisa de descansar.

Pegou o telefone e deu as suas ordens ao motorista. Quando estavam sozinhos, Luísa olhou para ele e perguntou:

– Mais relaxado, Paulo?

– Sabe, Major...

– Ora, pelo amor de Deus – interrompeu ela, rindo. – Me chama de Luísa. Detesto formalismos, ainda mais nestas ocasiões.

– Está bem... Luísa – disse ele. Sabia que já estava meio alto da bebida, mas também sabia que era o que precisava para desabafar e pôr para fora tudo o que o incomodava e sufocava. – Sem dúvida que você é uma das pessoas mais enigmáticas que eu conheço.

– Sério!? – questionou a major, espantada. – Eu sempre me achei até transparente demais.

– É que... – começou ele, reticente.

– Sim?

Não sabia se devia abordar o assunto com ela por ser um tanto delicado, mas aquilo estava travado na sua garganta há demasiado tempo. Tomou coagem e continuou:

– Você parece muitas pessoas em uma só. Quando está comandando é tão séria, ríspida até; mas, quando entrou naquele avião, parecia uma menina linda e sapeca, cheia de alegria de viver, como se aquilo fosse tudo no mundo. Tem horas que é tão espontânea e outras que fica intransponível, impondo uma distância constrangedora. – Paulo notava que, à medida que falava, Luísa sorria mais como se aquilo fosse a melhor notícia que já recebera, deixando-o desorientado. – Às vezes é uma pessoa apaixonante que nos enche de vontade de a amar incondicionalmente e, em outras, tenho vontade de a estrangular. São muitas Luísas para um só corpo. Luísas demais para um só homem entender.

– Sabes, Paulo – disse ela, ainda sorrindo e de olhos muito brilhantes. – Ganhaste, com esse comentário, um lugar todo especial aqui dentro de mim. Somente uma pessoa antes de ti foi capaz de ver a minha pluralidade, embora ela seja bem natural e visível.

– Um namorado? – perguntou, enciumado e, dessa vez não se espantou por isso porque, admitir o que disse antes, fê-lo ver o que realmente sentia por ela e não desejava mais negar esse sentimento.

– À, namorado não – respondeu, rindo. – Faz tempo que não tenho namorado. Os meus relacionamentos meio que foram um tanto quanto desastrosos.

– Nesse aspecto, então, acho que somos parecidos. Também não tenho lá muita experiência com relacionamentos – confessou o colega, sério. – Tive pouquíssimos.

– Queres dizer que tu não... – ia perguntar, mas ficou sem jeito e parou.

– Não, também não chega a tanto, mas tive poucas experiências com mulheres e a maior parte delas acabou mal. Acho que é uma síndrome de cientista. Mas, se não foi um namorado, quem foi? – perguntou ele. – Fiquei curioso.

– Uma mulher me disse – respondeu ela. – Era uma vidente que falou que eu era de Aquário com ascendente em Gêmeos, o que me daria muitas personalidades poderosas, mas a maior parte das pessoas não conseguiria atravessar isso para as ver e me conhecer de verdade. Aqueles que conseguíssem, me amariam de verdade e para sempre.

– Acredita mesmo nessas coisas de videntes? – perguntou Paulo, céptico. Ele notou que ela estava falando sério, mas não era o mesmo sério de quando estava zangada ou dando ordens, vendo outra faceta daquela pessoa lhe parecia cada vez mais intrigante e apaixonante.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora