Capítulo 2 - parte 5 (rascunho)

43 3 0
                                    

– Bom dia, Major Polanski – disse Paulo, entrando na sala da Luísa em uma atitude bastante formal. Isso disparou um alerta na sua mente, mas estava tão bem-disposta que decidiu ignorar.

– Oi – respondeu Luísa, alegre. – Acho que não há necessidade de formalismos em excesso.

– Acredito que, neste caso, seja necessário, Major – disse, ainda mais sério.

Sentindo que algo a incomodaria bastante naquela linda manhã de segunda-feira, ela deixou o sorriso esvanecer.

– Pois bem, nesse caso, o que deseja de mim, Major? – perguntou, já um tanto ríspida.

– Major, tenho visto que a senhorita e o capitão Faria passam muito tempo juntos; inclusive, no sábado, eu o vi sair da sua residência bem cedo – mais acusou do que afirmou, vendo a irritação dela e sentindo que a tempestade ia ficar feia. – Como a senhorita bem sabe, as nossas regras neste projeto não permitem esse tipo de intimidade.

– É só isso, Major? – perguntou ela, ríspida. Estava zangada e isso refletiu-se na sua face, enrugando a testa e estreitando os olhos, uma expressão que não lhe tirava a beleza, mas dava um certo temor, ainda mais ao Major que já experimentara a sua ira quando se conheceram.

– Não acha que isso pode gerar falatório e problemas? – perguntou , meio gaguejado e quase dando um passo atrás, ao sentir-se intimidado.

– Não, não acho, Major – respondeu Luísa, um tanto alterada e levantando-se. – Eu sou de opinião que se pode cultivar amizades em qualquer lugar, sem falar que a minha vida particular diz respeito exclusivamente a mim. Depois, o que as regras recomendam e não determinam é que não deve haver vínculos matrimoniais externos por conta dos riscos e tempo de ausência. Além do mais, o senhor não tem a autoridade necessária para chamar a minha atenção, ao contrário de mim, que sou sua superiora imediata. Se não está satisfeito com alguma coisa, pode fazer um relatório para o coronel Fagundes solicitando uma providência, mas eu lhe garanto que vai fazer o mais idiota dos papéis, compreendeu bem, Assunção?

Aquele ímpeto de energia era de tal forma intenso que o pobre coitado mais uma vez encolheu-se, dando um passo atrás. Tentando consertar as coisas, disse:

– Hum, ham... bem...

– Poupe o seu latim, Major – arrematou ela, interrompendo bem seca. – Eu quero que, a partir de amanhã, o senhor apareça na minha residência às seis em ponto, devidamente trajado para atividades físicas. Assim, além de entrar em forma, pois parece bem molengão para a sua idade, poderá confraternizar melhor com os seus colegas em vez de bancar a velha alcoviteira que só faz fofoca com a vida alheia.

– Major, eu não queria...

– Está dispensado, Major Assunção – ripostou a superiora, ameaçadora. – Não se esqueça. Seis horas em ponto, sem atrasos ou teremos sérios problemas.

Frustrado, Paulo achou melhor sair antes que a coisa piorasse. Como um peão, deu meia volta e abriu a porta quase arrancando a fechadura de tão afobado. Fechou-a atrás de si e encostou-se à parede, inspirando fundo. Alguns segundos depois, foi interrompido por uma voz que lhe assustou:

– Tá tudo bem, Major? – perguntou Faria que se aproximava da porta. – Precisa de alguma coisa?

– N... não, obrigado – gaguejou, procurando se afastar, enquanto Antônio batia à porta da major Polanski. Naquele momento, quanto menos chamasse a atenção, melhor.

― ☼ ―

No dia seguinte e no horário determinado, apresentou-se à residência como fora ordenado. Quando ia bater à porta, ela abriu-se e a moça apareceu com roupas de correr, deixando o pobre major de olhos arregalados. Usava um short curto, azul-escuro, e uma camiseta rosada que lhe moldava bem o corpo por ser justa, embora não muito.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora