Capítulo 5 - parte 3 (rascunho)

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A nave já estava montada e a plataforma de lançamento era preparada para ela. Polanski e o marido tinham tirado mais uns dias de férias "forçadas", em especial porque o dia do lançamento estava cada vez mais próximo. Quando chegaram à base, daquela vez sem incidentes, Luísa viu três tanques enormes sendo construídos.

– Mas o que vem a ser aquilo? – perguntou ela.

– Foguetes impulsores, como o ônibus espacial do século passado – explicou o marido. – Pessoalmente acho ridículo e um risco desnecessário.

Mal deixaram as coisas no alojamento, Paulo foi para o laboratório e ela bateu à porta do Fagundes.

– Entre... à, Polanski, tudo bem? – perguntou Fagundes, apontando uma cadeira à sua frente. – Como foram as férias?

– Boas, senhor – respondeu ela, sentando-se.

– Que ótimo. – Fagundes olhou para ela e perguntou. – E o que desejas?

– Senhor – começou Luísa –, eu não estou gostando mada desses foguetes impulsores que pretendem colocar na nave. Estive falando com o capitão Faria e o major Assunção. Ambos consideram algo desnecessário e um risco absurdo.

– Explica-te – pediu o coronel, ficando ereto e mais formal.

– Senhor, a "Marcos Pontes" não precisa de foguetes impulsores porque tem potência mais do que suficiente para subir por si própria. O que eu vejo é um bando de lunáticos colocando três tambores de hidrogênio e oxigênio, cada qual com mais de cem metros de tamanho. Vamos sentar em cima de uma superbomba, senhor. Basta uma coisinha simples dar errado e... bum, já era a missão Júpiter-Brasil... e eu mais a minha equipe!

– Tenente-coronel – disse ele. – Temos dois motivos para fazer isso: os uruguaios encheram a paciência para contribuírem no projeto; a nave é uma mega bomba muito pior que o hidrogênio. Quanto combustível ela carrega?

– O suficiente para alcançar a estrela mais próxima e voltar, segundo Paulo – respondeu a garota. – Cerca de uma tonelada, eu creio...

– Exato, Polanski – respondeu o coronel, professoral. – E um quilo desse negócio faz boa parte do Maranhão desaparecer do mapa.

– Entendo o seu ponto de vista, senhor, mas o nosso combustível é facílimo de controlar.

– Acredito que sim, mas são ordens superiores e isso não vai matar ninguém.

– Eu espero, senhor – comentou ela. – Já temos uma previsão para a decolagem?

– Sim. Sairão em quatro meses – respondeu ele. – Os tripulantes estrangeiros já estão integrados?

– Estão, senhor – disse ela. – A propósito, ouvi um rumor sobre mais um tripulante.

– Sim, eu ia falar disso agora – disse o coronel. – Os americanos pediram para levarmos algum material para a estação e também um tripulante. Ele já tem experiência, então não é o fim do mundo pegar alguém em cima da hora.

– Não gosto disso, meu coronel – disse Luísa, fechando a cara.

– Nem eu, filha, mas é fato que eles nos apoiam e ajudam muito, então não podemos dizer não.

– Bela forma de plantar um espião, senhor – resmungou a garota, séria. – Ele sabe português?

– Sim, fala mal, mas fala.

– Pior ainda – resmungou ela. Levantou-se e disse. – Vou para o meu gabinete, senhor, com licença.

Luísa fechou a porta da sua sala e olhou pela janela, triste. Dali era possível ver o mar e parte da plataforma de lançamento principal, onde sairia a sua nave. Estava quase se entregando à nostalgia quando bateram à porta. Suspirou fundo e disse:

– Entre.

A porta abriu-se e ela viu um homem alto, bem-apessoado e com cerca de um metro e oitenta. Estava à paisana e o crachá identificava-o como sendo visitante. Ao vê-la, o homem arregalou os olhos. Depois sorriu e perguntou:

– Eu ser William Blackstorn e procurar Tenente-coronel Polanski. Ser senhora?

– Sim, sou a tenente-coronel Polanski – respondeu, imaginando que ele devia ser o americano que o coronel falara.

– Eu ser NASA e vir apresentar coronel para integrar equipe.

– Sim, o espião americano – afirmou Luísa.

– Como?

– Deixe pra lá – falou ela. – Pode me chamar de TC, comandante ou Polanski, já que o senhor é não é da FAB. Já tem acomodações?

– Sim, TC – respondeu ele, rindo. – Eu pensar que Polanski ser homem grande e mal-encarado.

– Conforme a situação, a única diferença pode ser apenas o gênero.

– Não entender!

– Deixa pra lá. O senhor vai para o seu alojamento trocar de roupa e vamos para a pista de atletismo ver o seu preparo. Depois avaliaremos força g, deslocamento em zero g e por aí afora. Deviam ter incluído o senhor mais cedo.

― ☼ ―

Na pista de atletismo Polanski colocou o americano para correr durante meia hora. Quando acabou, disse-lhe:

– O seu preparo está abaixo da nossa média, meu caro. Eu quero que corra todos os dias pela manhã cedo durante, pelo menos, quarenta minutos. Ficará melhor nesse horário porque encontrará mais colegas. O coronel Fagundes disse que o senhor tem experiência no espaço. Em quê?

– Eu fui capitão de nave – respondeu ele. – Ir muitas vezes base na Lua.

– Bem, aqui vou colocá-lo como auxiliar da engenharia porque eu comandarei a missão. Agora vamos ver o resto.

O dia foi todo em cima de treinos com o americano e a tenente-coronel estava decepcionada com a média dele. Custava-lhe a crer que fosse um comandante de nave americana pelo fraco preparo e isso levava-a a pensar que era mesmo um espião.

Duas semanas depois, foi falar com o coronel porque foi chamada por conta dos relatórios.

– Senta-te, filha – disse ele, apontando a poltrona. – Como vão as coisas com os treinos? Noto que a tua opinião sobre William não e das melhores.

– Não sei, senhor, custa-me a crer que ele é um astronauta qualificado.

– Bem, a posição que lhe designaste é inócua – comentou o coronel, rindo. – E quanto ao resto?

– O resto está na santa paz – disse ela. – Todos bem entrosados e prontos para a nossa aventura.

– Ótimo, porque a tripulação final será essa mesma, exceto se houver uma emergência. A última lista já foi aprovada.

– Sim, senhor – respondeu ela, perdendo a esperança de vez e ficando triste, evitando demonstrar.

O coronel, porém, conhecia-a bem demais para não notar. Paternal, disse:

– Polanski, eu sei que é um grande sacrifício, mas sabias disso desde o início e espero que entendas que não é nada pessoal. Estamos falando do criador de toda uma tecnologia que revolucionará o mundo e nos colocará no topo. Sei que não é o único, mas é o principal.

– Eu entendo, senhor, e ele também – respondeu, resignada com o destino –, mesmo sabendo que o conhecimento dele já está bem registrado como conversamos algum tempo atrás. Bem, senhor, já que está tudo esclarecido, vou indo.

– À vontade, filha.

Luísa fez uma leve continência e saiu. Quando chegou à casa dela, trocou de roupa e foi para a pista de atletismo, correr algum tempo para esquecer a angústia, que não queria passar.

― ☼ ―

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora