Capítulo 6 - parte 2 (rascunho)

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A nave acionou os jatos traseiros dando um impulso forte durante algum tempo. Submetidos a uma pressão de pouco mais de três g, a tripulação permanecia presa às poltronas especiais. Ao fim de meia hora, reduziram para dois durante mais meia hora. Assim que atingiram uma velocidade bastante elevada, o capitão falou:

– Atenção para gravidade zero. Logo após, faremos a rotação para criar sensação de um g no piso. Início em três, dois, um, zero.

Os propulsores pararam de trabalhar e todos sentiram-se aliviados, apesar da imediata sensação de desorientação e, em alguns, ânsias de vômito.

Luísa, que ajudava o piloto além de comandar, disse:

– Rotação em cinco, quatro, três, dois, um, rotação.

Acionando uma chave, alguns dos foguetes menores que ficavam em diversos pontos dos seis lados da nave provocaram um giro lento, primeiro em noventa graus sobre o eixo longitudinal e, a seguir, mais noventa graus no eixo transversal sobre o centro de gravidade da nave. Após esse ajuste, o piso da nave apontava para a Terra e o teto para a lua.

– Agora inicio de aceleração até um g. Preparar para sensação de gravidade – disse a comandante. Como todos o radio e o intercomunicador estavam ligados, tanto a tripulação quanto o controle de terra no Maranhão ouviam tudo. Por tabela, o planeta inteiro ouvia, inclusive a base da Lua.

Os propulsores de baixo, que eram usados tanto para decolar quanto navegar, foram acelerando aos poucos e, em cinco minutos, todos tinham a sensação que estavam com o mesmo peso da Terra.

– Ana – disse Luísa. – Já temos a rota para a Lua?

– Sim, comandante. Passando para o console do piloto e o seu. Mantendo esta aceleração, chegaremos à lua em pouco menos de três horas. Em oitenta e seis minutos devemos iniciar a rotação para frenagem.

– Excelente – disse Luísa levantando-se. – Capitão, programa o piloto automático com alarme para cinco minutos antes. A tripulação pode levantar e relaxar, mas deve voltar aos acentos para manobra de rotação de cento e oitenta gruas em uma hora e vinte. Haverá um alarme de aviso.

– Acho, TC – disse Antônio, levantando-se e espreguiçando com vontade –, que estamos batendo um grande recorde aqui. Um voo para a lua em apenas cinco horas!

– Verdade, Capitão; – Luísa riu a bom rir. – O nosso barquinho é muito bom.

A comandante pegou um café e sentou-se a bebericar, acompanhando tudo o que se passava. Fora o incidente inicial, nada deu errado. A voz no rádio tirou-a dos seus devaneios:

– "Atenção, 'Marcos Pontes'" – disse o controlador. – "Coronel Fagundes vai falar."

– Copiado, terra.

– "Como estão as coisas, Polanski?" – perguntou o coronel, surgindo na tela principal. – "Eu vejo que, apesar do susto inicial, sinto que tudo vai muito bem."

– Sim, meu Coronel – disse ela, alegre. Depois ordenou – Ricco, ligue as câmeras.

– Ligadas, TC...

– "Polanski" – voltou a dizer o coronel. – "Quanto tempo planejam ficar na Lua?"

– "Temos uma carga de uma tonelada para eles, senhor, mas a infra estrotura lá é maior que na estação. Acho que devemos inicar a viagem para Júpiter em um par de horas, talvez um pouco mais.

– "Excelente, filha" – respondeu o superior. – "Em breve não poderemos mais falar. Bom voo".

– Obrigada, senhor – disse a comandante. – Estamos todos ansiosos, por aqui. "Marcos Pontes" desliga.

O restante da viagem foi bem tranquilo e a rotação que fazia a nave apontar o piso para a lua, de movo da diminuir a velocidade ocorreu sem incidentes. Como a nave, graças à simulação de gravidade permitia uma série de vantagens – e também desvantagens no ponto de vista científico –, vários cientistas faziam análises diversas porque possuíam laboratórios e um excelente observatório astronômico. Para eles o tempo não passava a estranharam quando ouviram a comandante:

– Tripulação e passageiros, retornem para as poltronas por segurança, pousaremos em dez minutos.

O local de pouso era grande e feito de concreto reforçado, mas, mesmo assim, tinha bastante poeira que se levantou em um turbilhão violento com os jatos da nave. Mesmo na Lua, cuja gravidade era seis vezes menor, ela ainda pesava muitas toneladas. Assim que os jatos desligaram, ela disse:

– Major, favor ativar os dispositivos eletrostáticos para a poeira.

Tratava-se de uma técnica bem simples e eficiente para afastar a poeira desagradável e perigosa que ficaria horas a flutuar por conta da baixíssima atmosfera da lua, quase inexistente mas com influência sobre a poeira muito fina. A nave transformava-se em um gigantesco gerador de eletricidade estática que transferia cargas para as particulas. Logo depois, invertia a carga e, como as partículas estavam co a carga invertida em relação à nave, passavam a ficar iguais e eram repelidas, ao mesmo tempo que o piso, com a carga complementar, as atraía de volta, livrando o ambiente.

Luísa e alguns colegas, incluindo o americano, o marido e o piloto mais a navegadora que era bastante amiga deles, colocaram os trajes espaciais e foram para a comporta de descompressão. Todos eles sentiram uma sensação incrível em pisarem pela primeira vez em outro planeta, mesmo que estéril e inóspito. Polanski levantou o rosto e viu a Terra no horizonte, uma bola bem maior que a lua vista da Terra. Estasiada, observou o planeta mãe da humanidade.

– É uma vista demasiado linda – disse uma voz falando português com sotaque de Portugal. – Não me canso de olhar para ela.

A comandante virou-se para o lado e viu um homem em um traje com a bandeira de Portugal no ombro. Ela sorriu e ele continuou:

– Sou o doutor Carlos Gedeão e ofereci-me para vos recepcionar porque acredito que seja melhor terem um primeiro contato com alguém mais fácil de se entender.

– Oi, doutor Gedeão – disse ela, sorrindo. – Sou a tenente-coronel Luíza Polanski, comandante da missão, o Major Paulo Assunção, engenheiro da nave e o segundo na cadeia de comando, o Capitão e doutor Antônio Faria, o nosso piloto, a doutora Ana Silva, astrofísica e navegadora e o espião William.

– Eu não ser espião – ripostou o americano, zangado.

– O senhor tem razão – continuou Luísa. – Que vista espetacular.

– Vamos entrando enquanto a equipe se prepara para descarregar o material da vossa nave – disse o português, apontando a porta estanque. – Vocês vieram tão rápido que o pessoal não se preparou. Que rica nave, parabéns.

– É um barquinho maravilhoso – concordou Luísa, entrando junto com os outros. – Obrigada.

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Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora