Paulo não queria demonstrar o nervosismo, mas foi difícil esconder da filha, muito perspicaz. Ela pousou a mão no ombro e disse:
– Estás muito nervoso, pai. – Sorriu com doçura. – É por causa da mãe?
– Pior que é mesmo – confessou ele, com um suspiro. – Morro de medo que lhe aconteça algo. Afinal ela pretende enfrentar o monte de ET desconhecidos e invisíveis praticamente sozinha.
– Ela não deseja arriscar a vida de mais ninguém, pai. Por que não a chamas no rádio?
– Luísa proibiu as comunicações exceto em caso de emergência...
Nesse momento, o rádio deu sinal de vida interrompendo ambos e dando um tremendo susto no pobre major.
– "Aqui Polanski chamando major Assunção."
Paulo suspirou fundo e a filha sorriu. Apertou o botão de fala. A sua voz era de puro alívio.
– Oi, TC, aqui major Assunção.
– "Mudança de plano de ação" – disse ela, indo direto ao assunto. – "Chegamos aí em cerca de uma hora e levamos os equipamentos. Os níveis inferiores estão limpos. Talvez porque eles saibam que não há ninguém lá."
– Certo, ficaremos no aguardo.
– "Ok. Polanski para nave."
– "Sim, comandante" – disse um civil que ficava na ponte substituindo Ricco.
– "Preparem-se para o conflito em cerca de duas horas. Não abram as escotilhas em hipótese alguma exceto se eu, o major assunção, o capitão faria, o tenente Ricco ou a doutora Ana mandarmos."
– "Confirmado, TC."
– "Polanski desliga."
Luísa olhou para o pai e sorriu de novo. Depois, disse:
– Pai, sei que não conheço a mãe tão bem, mas conheço tudo o que li dela e de todos vocês. Ela e o capitão são naturalmente intrépidos e não há nada capaz de os impedir, mas agora acho que ela será uma benção. Se alguém pode salvar a humanidade, esse alguém é ela.
– Eu só quero ficar perto dela, filha – disse Paulo dando um grande e longo suspiro. – Só isso. Não é pedir demais.
Luísa filha ia falar algo, mas foram interrompidos por Artur, que surgiu do nada e disse:
– Doutora, Newton comunicou-me que a sua mãe deseja que toda a tripulação aqui presente seja equipada com trajes espaciais.
– Quem é Newton – perguntou a cientista, espantada.
– Newton é um console que ela solicitou para si – respondeu a máquina, assumindo a forma do outro console por uns segundos. Paulo não se conteve e deu uma risada bem espontânea, ao ver quem era.
– Bem – disse a filha, sorrindo. – Ela fez uma escolha boa. A minha mãe e o meu pai devem ter autoridade total sobre esta estação.
– Obrigado, doutora, já está registrado e os trajes devem chegar em uma hora.
― ☼ ―
Toda a equipe de desembarque permanecia sentada em uma sala de reuniões que havia perto do laboratório e já envergavam os trajes espaciais. Eles formavam um arco aberto e, de frente para todos, a tenente-coronel falava ao mesmo tempo que um holograma com o mapa da estação ficava ao seu lado. De braços cruzados, do outro lado, Newton prestava atenção, mas nada dizia. Em uma mesa, atrás dela, alguns dos equipamentos aguardavam para ser distribuídos. Ela conhecia muito bem a sua equipe e sabia exatamente os limites de cada um, só que não foram preparados para aquilo. A maioria, contudo, era de militares e tinha o treinamento apropriado e, naquele momento, mais do que necessário.
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Estação Júpiter 80
Ficção CientíficaEstação Júpiter, o trampolim para as estrelas... uma avetura eletrizante em meio a uma guerra interestelar. Em 2064 a primeira nave espacial brasileira é lançada para o espaço em direção a Júpiter 80, uma estação que orbita Júpiter e cujo objetivo é...