Capítulo 4 - parte 1 (rascunho)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras."

Aristóteles.

– Sete, seis...

Naquela noite Luíza chegou aos alojamentos cansada e um pouco irritada. Encontrou o marido sentado na sua mesa, trabalhando com o computador. Ele olhou para ela de relance e sorriu, mandando um beijo.

– Me dê uns cinco minutinhos, meu amor – pediu Paulo, voltado a olhar a tela do simulador. – Estou terminando uma ideia que tive para aumentar a eficiência do composto. Você está muito cansada, tudo bem?

– Sim, tudo bem – respondeu ela, atirando-se ao sofá. – Estou muito cansada mesmo e também preocupada.

– O que foi, amor? – perguntou Paulo, sem tirar os olhos da tela.

– Problemas no transporte de insumos para a construção da nave e alguns empecilhos muito bem localizados mas que, em conjunto, podem vir a ser perigosos.

– O que você quer dizer com isso, Lú – perguntou o marido, virando o rosto para ela, sério. – Isso até parece teoria da conspiração!

– E temo que seja sim – respondeu Luísa, levantando-se e começando a tirar a roupa. – Vou tomar um banho.

Paulo voltou a observar a simulação e deu um sorriso rápido ao ver os resultados positivos. A seguir, virou-se para a porta do banheiro, pensativo. Luísa não era de se alarmar facilmente porque tratava-se da pessoa com o maior sangue frio que já conheceu. Afinal isso tinha que ser assim em uma piloto do nível dela. Desligou o computador, após mandar uma nota para o capitão Faria, e virou-se para a mulher, observando-a enquanto se banhava, estasiado com a sua beleza.

Quando ela saiu, embrulhada na toalha, o marido levantou-se e abraçou-a. Após um beijo longo, disse:

– Agora eu quero que você esqueça esses problemas e relaxe, meu amor. Trouxe uma das suas comidas preferidas. Depois vamos dormir uma boa noite de sono e, amanhã, as coisas estarão melhores, eu tenho a certeza.

– Tá bom. – Luísa sorriu e abraçou-o. – Na verdade, amanhã pretendo falar com o TB para me arrumar um auxiliar administrativo.

– Acho ótimo – disse o marido, afastando-se e preparando a mesa do jantar.

Os alojamentos dos oficiais tinham muito mais recursos que os demais, que ficavam restritos às instalações comunitárias, apesar de que uns poucos alojamentos comuns possuíam banheiro privativo. Paulo pegara o jantar no refeitório e trouxera para aquecer no micro-ondas. Quando Luísa sentiu o cheiro, sorriu e disse:

– Lasanha, ai que delícia. Estava mesmo precisando disso.

Paulo sorriu e serviu uma porção generosa para a esposa. Sentaram-se a comer e Luísa perguntou:

– Amor, as modificações no caça ficaram prontas?

– Mais um dia, Lú – disse Paulo. – Eu e o Toninho estamos aperfeiçoando a nova câmara de combustão.

– Ótimo – disse ela, com ar sonhador. – Tô mesmo precisando de voar um pouquinho.

― ☼ ―

Apesar de o tenente-brigadeiro ser o chefe do centro espacial de Alcântara, ele não interferia na liderança da major no projeto porque tinha inteira confiança. Costumava ler todos os relatórios periódicos e nada lhe escapava.

Naquela manhã, a major, como dissera para Paulo, bateu à porta do comandante.

– Entre – disse Josué com a voz lacônica.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora