Capítulo 6 - parte 4 (rascunho)

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A atração do Sol já se fazia forte e precisavam de compensar com a aceleração radial e trazendo alguma gravidade proporcionada pelos jatos em aceleração cosntante, isso a meio caminho de Vénus para Mercúrio. O pequeno planeta era visível no horizonte desde que se usasse os filtros de luz porque o sol estava enorme e demasiado brilhante. Em compensação, muitos cientistas não davam folga aos sensores e computadores, aproveitando o fato de que era a primeira vez que uma nave tripulada chegava tão perto da estrela mãe. Naquele momento faltavam poucas horas para o momento mais crítico da viagem. Quando chegou a hora de irem para as câmeras de preservação e receberam a ordem, vários deles ficaram frustrados porque entrariam em um estado de quase suspensão de vida. Entretanto, o que mais desejavam era continuar com as suas observações, inclusive a navegadora, que era astrofísica.

Os elementos mais importantes também já se preparavam para a hibernação e apenas conferiam a automação antes de entregarem todo o controle da nave para os supercomputadores que estavam enfiados nas entranhas mais profundas, em salas quase que inexpugnáveis para resistirem tanto à radiação quanto a um impacto de asteroide. A diretiva primária dos computadores quando em modo automático era zelar pela vida dos tripulantes. Duas horas depois, Luísa foi a última pessoa a se deitar na câmara. Era uma sensação estranha que não lhe agradava e ela dizia que aquilo parecia um esquife com tampa de vidro, uma câmara mortuária de alguns milhões de dólares. Depois que se deitava, toda a estrutura adaptava-se ao corpo como uma segunda pele e provocava uma certa sensação de claustrofobia. Passados alguns segundos, ela perderia a consciência muito rápido e vários processos especiais fariam o corpo ficar rígido de modo a aguentar as gigantescas pressões a que seriam submetidos. A comandante bem que tentou permanecer consciente, mas apagou em dez segundos. Por toda a "Marcos Pontes", a vida parecia ter cessado e o artefato aproximava-se do Sol, ganhando velocidade sem parar.

Quando a nave chegou ao ponto em que passaria mais perto da nossa estrela, começou a sacudir de forma anormal e um alarme tocou na sala de comando, mas não havia quem tomasse alguma atitude. Em compensação, uma série de medidas foram executadas pelo computador, que manteve tudo sob rígido controle com tanta precisão quanto um ser humano ou até melhor.

Assim que o periélio passou, a nave cessou a trepidação e a aceleração foi reduzindo aos poucos até ficar a um g. Ainda assim, ganhava velocidade sem parar.

Ficou desse jeito por mais um dia e, após, reduziu para um valor equivalente à força de atração na Lua, iniciando a rotação que criaria a sensação gravidade e começando a acordar as pessoas para o qual fora programada em primeiro lugar.

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Luísa recuperou a consciência devagar e com um ligeiro mal-estar, mas nada de grave se comparado a uma manobra mais radical em um caça de combate. As brincadeiras que ela fazia com o marido e o capitão Faria eram bem mais exigentes do que aquilo. A câmara trepidava de forma suave para lhe massagear o corpo e restaurar a circulação por completo, o que acabou provocando uma sensação agradável e relaxante, deixando-a nova como se acabasse de sair de um sono reparador. Alguns minutos depois, a cúpula de vidro abriu-se e ela teve que rir ao comparar a câmara com um caixão do Drácula, se bem que aquele seria inútil a um vampiro, uma vez que a tampa era transparente. Riu de novo e levantou-se com cuidado porque a nave estava com a gravidade de um sexto da Terra em função da aceleração muito mais reduzida. Ela permaneceria assim por muitos dias até que, pouco depois da metade do caminho, daria meia volta e os propulsores começariam o processo de redução de velocidade. A sala de hibernação dos principais tripulantes era ao lado da ponte de comando de forma a entrarem em atividade o mais rápido possível. Olhou para a câmara do marido e viu que ela já iniciara o processo de recuperação. Satisfeita, sorriu e foi para a ponte. Olhou para os mostradores de status, conferindo a situação da nave e dos equipamentos, notando que tudo correu muito bem. Segundo o computador de navegação, a nave permanecia no rumo correto sem ter desviado um microssegundo de arco. A seguir e muito alegre, prestou atenção ao espaço, olhando pela vigia. Já deviam estar perto da órbita da Terra, embora o planeta mãe estivesse do outro lado do Sol. Segundos depois, o marido apareceu e abraçou-a. Após um longo beijo, Paulo disse, sorridente:

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora