Capítulo 6 - parte 1 (rascunho)

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  "Caminhante, faz teu próprio caminho!
Porque é no avançar que ele é desbravado.
O futuro é um escrito enrolado, no escuro secreto de um pergaminho."

José Luiz da Luz.

– ...um, zero... ignição.

– Temos ignição – confirmou Luísa, voltando à realidade. Sem se conter, sorriu. Sim, a cartomante havia acertado de novo. Ela ia fazer uma viagem muito longa e precisou de fazer grandes sacrifícios, mas, de certa forma, burlou alguns deles com outras escolhas, ludibriando o destino graças ao marido. Na verdade, aquele par completava-se muito bem, além da grande harmonia.

Os grandes bocais de jato lançaram chamas gigantescas fazendo a nave subir, de início devagar e, logo a seguir, com uma aceleração bastante intensa, prensando todos contra as poltronas especiais.

– Dez segundos e dois g – disse Luísa. – Tudo em ordem na nave.

– Tempo para a separação dos impulsores será de noventa segundos – disse Paulo, compenetrado. – Preparando os foguetes primários. Teremos reação em oitenta segundos.

– Confirmado, Major – anuiu Faria do seu console. – Separação no prazo previsto. Controles de pilotagem ainda em automático; assumirei no momento oportuno.

– Dois ponto cinco g. O nosso pássaro tá fazendo bonito – disse Luísa, não cabendo em si de felicidade. Ela não podia estar mais contente do que naquele dia. No final, conseguiu que o marido a acompanhasse, apesar de todas as dificuldades e temores.

– Faltam sessenta segundos – alertou o piloto.

Nesse momento, Luísa sentiu uma pequena, muito sutil diferença nas vibrações da nave. Era algo que não saberia explicar a não ser pelo instinto, mas isso já vinha de criança. Qualquer mudança, por menor que fosse, ela sentia e alertava o pai. Com isso, salvou a ambos, uma vez, quando o avião ameaçou entrar em pane.

– Tem algo errado – disse, reagindo de imediato. – Engenharia, verificar tudo imediatamente. Checagem duplicada. Capitão Faria, prepare-se para o caso de precisar de assumir os controles...

– "Atenção, Tenente-coronel Polsanki" – interrompeu a equipe de terra. – "O que está acontecendo? Nossos sistemas de diagnóstico não acusam nada."

– Se a Tenente-coronel Polanski diz que tem algo errado, então tem algo bastante errado – resmungou Antônio, sério. – Quem já voou com ela sabe muito bem disso, só que meus instrumentos estão todos no verde.

– Cem por cento de acordo com você, Capitão – disse Paulo, rindo. – Mas aqui também não tenho nenhum registro de falha.

Pero yo lo tengo – disse o segundo engenheiro, lívido. Nesse momento, o alarme disparou de forma ensurdecedora.

– O que foi? – perguntou Luísa, sem perder a calma. – Tente falar português.

– A turbina três... – As três turbinas de impulso formavam um triângulo isósceles onde o centro de gravidade da nave ficava no centro geométrico deles.

– Acho que vai explodir – disse Paulo, olhando os displays de diagnósticos dos equipamentos da nave. – Alguma coisa parece ter acontecido com a válvula reguladora de pressão.

– Mudando para manual – disse Antônio, reagindo no ato para não perder tempo. Ele sabia que cada segundo, a partir daquele momento, seria decisivo.

– Major, quanto tempo para os propulsores da nave entrarem em atividade?

– Não vai dar tempo, TC – afirmou Paulo, assustado. – Acho que deu pra nós.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora