Capítulo 18 - Final (rascunho)

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"Que o de que vive o mundo são mudanças.
Mudai, pois, o sentido e o cuidado.
Somente amando aquelas esperanças
Que duram para sempre com o amado."
Luís de Camões.


Luísa desceu as escadas da casa onde passou a sua infância, mas era estranha demais. Havia cordões de isolamento para alguns cômodos e até bonecos de cera. Sentia-se uma estranha, ali, mas também sentiu uma forte saudade dos pais. Quando chegou à cozinha, encontrou a vidente com a mesa posta e café fresco. Polanski sorriu e sentou-se, seguida do marido.

– Como pode alguém sentir-se um estranho na casa onde passou os primeiros dezenove anos de vida? – perguntou-se, após dar um gole no café. – Ai que delícia de café.

– E porque há muito que esta deixou de ser o seu lar, minha doce criança – respondeu a vidente. – Poderá até ser um porto seguro, mas o seu lar são as estrelas, não consegue ver isso?

– Sim, consigo, mas confesso que isso me dá um certo medo, sabe?

Paulo arregalou os olhos e deu uma risada, logo a seguir.

– Não acredito que ouvi a grande e destemida Luísa Polanski admitindo medo de alguma coisa.

– Sem sacanagem, amor – resmungou a esposa.

– Mas por que motivo, Luísa? – perguntou a vidente. – O teu destino foi cumprido e salvaste a humanidade. Em qualquer mundo desta galáxia onde há um humano, haverá alguém que fará qualquer coisa por ti.

– Sei lá, talvez apenas precise de dar um passo por vez. – olhou para o marido e continuou. – Para começar, acho que a nossa casa deverá ser em Pégasos, já que é lá que os nossos filhos vivem.

– Estou de pleno acordo – disse Paulo. – Então acho que devemos terminar o café e ir para Canoas de uma vez.

– Calma, tchê – resmungou a esposa. – Sabes há quanto tempo não tomo um café nesta casa?

– Sim, meu amor, desde as nossas segundas férias há alguns séculos – respondeu o marido rindo. – Muito bem, relaxa o quanto antes, mas, se demorares demais, vais perder o casamento da nossa filha...

– Que raio de história é essa? – perguntou Luísa, levantando-se de um salto e fazendo a vidente rir.

– É que acho que o Toninho pediu ela em casamento quando chegamos à nave e ela aceitou...

– A minha filha não faria isso comigo – resmungou ela, apressando o passo para a porta da rua. – Não se casaria sem mim...

– Amor, calma – pediu Paulo, rindo. – Ela vai esperar por si. Além do mais, o nosso transporte está no terraço.

Mais cala, sentou-se e terminou o café. Após conversar mais um pouco com a vidente subiram para o terraço. Lá, Polanski viu duas das suas naves individuais, convertidas em mochila. Feliz, sorriu e vestiu o equipamento que inventara e que foi o responsável pelo desfecho da guerra.

Quando se aproximaram da borda, a tenente-brigadeiro viu uma multidão enorme na rua e na praça em frente à sua residência. Mal a viram, começaram a ovacionar e Luísa precisou ficar parada por quase cinco minutos, acenando para eles. Depois, o marido fez sinal e acionaram os equipamentos. As pequenas asas saíram e, com um salto, os antígravos fizeram o casal subir por alguns metros, quando os foguetes entraram em ação e desapareceram da vista do povo em menos de cinco segundos.

Voando em alta velocidade, ela ria como uma criança, feliz com a maravilhosa sensação de liberdade infinita. Poucos minutos depois, aproximavam-se da velha base aérea de Canoas e reduziram a velocidade para descerem em espiral ao lado da espaçonave mais importante da humanidade. Ela notou as batalhas deixaram as suas marcas onde alguns raios conseguiram alcançar o casco de raspão, mas isso só a fazia ainda mais especial. Aquela era a sua nave e Luísa sabia que seria muito difícil deixá-la.

Estação Júpiter 80Onde histórias criam vida. Descubra agora