– Considerando que acabamos em uma praça idêntica à de baixo, eu presumo que elas são elevadores de acesso – comentou Luísa, pensativa. – Confesso que achei a ideia bem simpática, em vez dos tradicionais elevadores.
Mal terminou de dizer isso, a gravação começou a falar e todos entreolharam-se. Para tristeza da comandante, a gravação não se repetiu para poderem gravar e repassar pelo rádio. Por causa disso, nem se preocuparam mais e voltaram a conjecturar sobre a estação.
Parado, o grupo olhava em volta, fazendo as mesmas constatações que o Major Assunção. Antônio perguntava-se como devia ter sido antes pois, em função do tamanho, deve ter havido muitos milhares de pessoas naquele local. Os seus devaneios foram interrompidos pela superiora, que disse, apontando em direção ao suposto centro:
– Vamos seguindo naquele sentido.
O grupo andou um bom bocado quando viu que se aproximava de uma parede divisória que delimitava a região. A primeira coisa que notaram foi um prédio enorme, mas que era todo branco, fazendo um contraste com o cinza dos demais, sem falar que devia ser cinco vezes maior, tocando o teto e talvez até passando para o nível de cima. Depois que observaram o prédio, viram uma praça quase que à sua frente. Luísa ia falar, quando o rádio chamou.
– "Atenção, descobrimos outro elevador que leva para a cúpula, mas não encontramos informações do centro de comando. Tenho duas alternativas: ou subo para a cúpula, ou sigo mais um pouco para ver se acho outra placa indicativa."
– A gravação mencionava a cúpula superior, Major – respondeu Luísa.
– "Bem sei" – comentou o marido. – "Também pensei assim, mas fiquei com uma dúvida. Estava pensando em avançar mais um pouco e retornaria, se não encontrasse nada."
– É uma opção – comentou a tenente-coronel. – Façamos o seguinte. Nós estamos perto de um edifício enorme e diferente que está de frente para uma praça dessas. Vocês sobem por uma hora e exploram a parte superior enquanto nós vamos explorar o edifício. Depois, retornam para este nível e decidimos o resto.
– "Combinado, TC. Mais alguma coisa?"
– Sim – disse ela, lembrando-se da gravação. – Quando vocês chegaram a este nível, uma gravação tocou? Se tocou o que era?
– "Tocou, sim" – respondeu o marido. – "Resumindo dizia que esta região está segura."
– Ok. Polanski desliga.
Luísa desligou, sorriu e fez sinal para o prédio. Mais afoito, Antônio esfregou as mãos, interessado em explorar o que ele pensava ser o laboratório de pesquisas, uma vez que era o único prédio diferente, ainda por cima na direção determinada. Não conseguia parar de pensar como seria um laboratório de dois séculos e pouco à frente dele. Na sua opinião, deveria ser incrível.
O grupo aproximou-se do pórtico sem surpresas. Assim que entraram, depararam-se com um saguão de tamanho avantajado onde caberiam bem duas dúzias de pessoas com folga. Na parede dos fundos havia cerca de seis corredores que seguiam em direções diferentes; contudo, o que deixou todos sem entenderem o que se passava foi o corredor mais afastado porque, acima dele, aparecia um pôster de toda a tripulação do projeto Júpiter-Brasil em frente à nave, fotografia essa tirada no dia anterior à decolagem.
O primeiro a ver foi o americano, que, boquiaberto, cutucou a comandante. Luísa virou-se e, da sua boca, saíram apenas quatro simples palavras, exatamente as mesmas que o amigo e conterrâneo disse ao mesmo tempo:
– Mas que barbaridade, tchê!
Antônio foi o primeiro a reagir, aproximando-se da entrada, logo seguido da Polanski. Ficaram parados, olhando para aquilo durante quase dois minutos quando Luísa suspirou e arrematou, preocupada:
– A ideia que dá é que se trata de um recado para a gente. Se não fosse o fato de ninguém saber o que nos aconteceu, eu diria que é isso mesmo. – Depois, finalizou. – Tem um fundo probabilístico muito elevado, mas acho difícil ser verdade.
– De acordo com a minha intuição – começou a dizer Ana –, eu diria que é exatamente isso, sem falar que a probabilidade é muito alta, de fato.
– Concordo com Ana – disse Antônio, pensativo. – Só que isso significaria que alguém saberia que estaríamos aqui nos dias de hoje, coisa mais do que improvável.
– Exato – disse Luísa, decidida. – De qualquer forma, basta seguirmos esse caminho e ver o que acontece.
– Nem tanto – contestou a navegadora. – Na verdade, um bom físico deve ter condições de concluir isso, especialmente se conseguiram medir o surto de energia. Tenho a certeza de que haviam inúmeras sondas, amigas e inimigas, acompanhando a nossa nave.
– Também não deixa de ser uma boa hipótese – conjecturou Luísa, acompanhada de um aceno de cabeça do piloto. – Foi por causa dela que atribui um elevado grau de probabilidade, mas continuo achando isso difícil de ser real.
– E se for uma armadilha? – perguntou o americano, preocupado.
– Isso tem uma probabilidade próxima do zero – respondeu Luísa, dando de ombros. – Não só teriam de saber que estaríamos aqui bem no nosso futuro, como partiriam do princípio que seriamos uma grave fonte de perigo, coisa que ninguém suspeitaria no nosso tempo.
Sem falar mais nada, a tenente-coronel começou a avançar pelo corredor que se iluminou mal ela colocou os pés nele. Sorrindo, Antônio seguiu-a e o resto do grupo tratou de os acompanhar. Havia várias portas ao longo do caminho, mas Polanski não se preocupou com nenhuma delas até que o americano perguntou:
– Senhorra não olhar portas? – apontou a mais próxima.
– Não. Se isso foi para chamar a nossa atenção – respondeu a comandante, confiante –, então teremos um novo aviso quando for para entrarmos.
William teve de admitir que ela tinha razão e nada mais disse. Não andaram muito até que se depararam com um círculo redondo no chão. Luísa olhou para cima e viu uma abertura, tirando as suas conclusões:
– Isto é um elevador. Vamos, aproximem-se.
Daquela vez, contudo, não havia nenhum painel para acionar. Nesse momento Antônio aconselhou:
– Sinto algo. Tentem dar um pequeno impulso para cima.
Luísa obedeceu e descobriu-se, logo após, a flutuar, subindo devagar para o piso superior. Mal chegou lá, o recinto iluminou-se com uma luz difusa, mas forte a ponto de iluminar cada canto daquela sala gigantesca e deixando-a e ela e aos demais de boca escancarada.
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Andrew sentia-se mal, muito mal. Encontrava-se em algo duro e frio, talvez até gelado, naquele momento e isso era demasiado desconfortável, provocando tremores pelo corpo e agravando o mal-estar a ponto de achar que ia devolver a última refeição em poucos segundos. Esforçou-se um pouco e a consciência ficou mais clara, revelando-lhe que estava caído no chão gelado da estação espacial em órbita de Júpiter. Tudo o que ele mais desejava, naquele momento, era estar na sua casa, em Chicago. Queria estar junto com a esposa e não a muitos milhões de milhas de distância. Isso fez com que se lembrasse que nunca mais veria a mulher porque o que os separava não eram só aqueles mais de quinhentos milhões de milhas, mas sim a intransponível barreira de duzentos e vinte e oito anos. Naquele momento, lá na Terra, até os seus dois filhos gêmeos, apenas bebês de um ano, já estariam mortos há muito, muito tempo, mesmo se tivessem levado uma vida pela e longa. Ele era um soldado de elite, mas, mesmo assim, as lágrimas caíram pelo seu rosto por alguns segundos até que se empertigou e tentou levantar, secando os olhos com as costas da mão e segurando o vômito. Procurou recuperar a memória do ocorrido porque ainda estava bastante atordoado até que se lembrou do cão. Muito preocupado, olhou em torno, à sua procura, e viu-o no chão a poucos metros para o lado, aparentemente morto. Agoniado, levantou-se rápido, voltando a cair ao solo com convulsões no estômago.
Sem controle, acabou fazendo o que tanto tentou evitar. Arquejante e com um gosto horrível na boca, Andrew arrastou-se de quatro até ao cão e descobriu que ele respirava e não parecia estar ferido. Esgotado, deixou-se cair e a vista escureceu, perdendo a consciência por mais algum tempo.
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Estação Júpiter 80
Science FictionEstação Júpiter, o trampolim para as estrelas... uma avetura eletrizante em meio a uma guerra interestelar. Em 2064 a primeira nave espacial brasileira é lançada para o espaço em direção a Júpiter 80, uma estação que orbita Júpiter e cujo objetivo é...